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Vendas e contratação em queda no comércio de Campos

Entidades apontam declínio no setor em janeiro deste ano, mantendo cenário de 2024

Campos
Por Yan Tavares
2 de fevereiro de 2025 - 6h31

O comércio campista começou o ano de 2025 em queda. Dados da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic) e do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejo) do município apontam para uma desaceleração nas vendas em comparação ao início do ano passado. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego divulgados na última semana, revelam que o declínio mantém o cenário negativo de 2024. O levantamento indica que 906 vagas de emprego formal foram eliminadas na cidade no mês de dezembro. Quarenta delas foram no comércio.

De acordo com o projeto Conjuntura Econômica Fluminense (Coneflu), da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), foram contratadas 2.332 pessoas na cidade em dezembro, enquanto 2.946 foram demitidas. 

Alcimar Chagas

“O emprego no comércio em Campos piorou sensivelmente em 2024, com relação a 2023. No ano de 2023, foram geradas 843 vagas de emprego no comércio. Já em 2024, esse número caiu para 185 oportunidades. Um declínio muito forte (658 vagas a menos)”, comenta o economista Alcimar Chagas, coordenador do Coneflu.

Pós-doutorado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alcimar Chagas também é coordenador do Núcleo de Pesquisa Econômica do RJ (Nuperj), sediado na Uenf. Ele complementa, expondo uma análise sobre o perfil do comércio local:

“O comércio de Campos só esboça alguma melhora no período da safra de cana-de-açúcar, que normalmente tem início entre maio e junho e se estende por mais três meses. Depois, com o final da safra, o movimento desaba. Acontece que em 2024, o cenário foi pior que em 2023. Foram eliminadas 40 vagas de emprego no ano passado, enquanto em 2023, haviam sido geradas 211. O que mostra uma deterioração do emprego no comércio da cidade”, conclui.

Fábio Paes

A situação preocupante do comércio de Campos está em pauta na mesa da nova gestão da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), comandada pelo gestor empresarial Fábio Paes. Enquanto o saldo de empregos no país teve um crescimento de 16,5% em 2024, em Campos o cenário é de queda. Com o comércio colaborando, fechando dezembro registrando a eliminação de 40 oportunidades de trabalho. Para Fábio Paes, o município necessita com urgência de iniciativas focadas em impulsionar o setor:

“O comércio de Campos vem enfrentando uma crise sistemática. Existem períodos de boas vendas, mas nada que se mantém numa constância. Os dados que eu tenho mostram retração nos resultados ano a ano, sejam na geração de emprego no setor ou nos números de consultas no SPC. Dados nacionais sobre o comércio não pegam a realidade de um município específico, no caso, Campos. Esses dados que apontam crescimento, e mesmo assim pequenos, são fruto de uma média nacional. Campos, na sua realidade, precisa urgentemente de ações que estimulem a geração de riqueza no município e não apenas a circulação”, pontua o presidente da CDL Campos.

Maurício Cabral

Acic e Sindivarejo apontam queda em janeiro de 2025
Presidente da Acic e vice-presidente do Sindivarejo, Maurício Cabral revela que as expectativas das duas entidades foram frustradas neste início de ano. 

“Inicialmente, tanto a Acic quanto o Sindivarejo projetaram um crescimento modesto nas vendas para janeiro de 2025, estimando um aumento de aproximadamente 3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Contudo, os dados preliminares indicam que o crescimento real foi de aproximadamente apenas 2%, indicando uma desaceleração de nível em comparação com janeiro de 2024, quando registramos um incremento de 3,5% nas vendas. Reflexo na economia local e até nacional, pois é no mês de janeiro que chegam os boletos anuais de IPTU, IPVA, matrícula escolar e compra de material escolar”, declara Maurício. 

Ele acrescenta ainda que o pequeno crescimento ainda tem impacto positivo na economia, porém ainda assim representa uma preocupação ao setor. “Embora o crescimento tenha sido inferior ao esperado, ainda representa um avanço positivo para a economia local. Contribui para a manutenção de empregos e reforça a confiança dos empresários no mercado. No entanto, a desaceleração observada exigiu cautela e uma análise aprofundada para identificar os fatores que influenciaram esse resultado além das contas do início do ano”, revela. 

Fazendo compras|O movimento de clientes no comércio campista ainda não é satisfatório

Flexibilização sem impacto
Durante o mês de janeiro, foram rompidas algumas flexibilizações nos horários de funcionamento do comércio local, incluindo horários estendidos em datas específicas e o fechamento em determinados dias úteis, conforme acordado em convenções coletivas. De acordo com o presidente da Acic e Sindivarejo, tais medidas tiveram o objetivo de otimizar o fluxo de clientes. Porém, não foi notado grande impacto entre os lojistas:

“Embora alguns segmentos tenham relatado aumento no movimento devido aos horários estendidos, outros não observaram impacto significativo. Acreditamos que uma análise mais detalhada seja necessária para determinar a eficácia dessas flexibilizações e orientar decisões futuras”, avalia Maurício Cabral.

Por fim, Cabral destaca que Acic e Sindivarejo estão comprometidos em apoiar os comerciantes locais, fornecendo orientações e promovendo iniciativas que impulsionem as vendas nos próximos meses, sugerindo a prática de descontos especiais nestes meses do início do ano. “Reforçamos a importância de estratégias conjuntas para enfrentar os desafios atuais e fortalecer a economia local.

Economista aponta causas de queda no setor
Consultado pela reportagem, o economista Ranulfo Vidigal indica três pontos distintos como fatores decisivos para a situação de crise no comércio neste mês de janeiro. O primeiro deles é o período de férias e veraneio:

“Devemos separar no mês de janeiro as cidades litorâneas e as cidades não litorâneas. Porque uma parcela das pessoas migra para as cidades litorâneas para veraneio. Enquanto isso, o comércio de uma cidade como Campos, vai ter de fato um movimento abaixo da expectativa, com a concentração da demanda apenas com foco em material escolar, uniformes e alimentação”, comenta. 

Outros fatores, do cenário econômico atual do país, são apontados pelo especialista como cruciais para a situação preocupante. “Do último trimestre para cá, a aceleração do dólar deu um choque nos alimentos e na cesta básica. Isso faz com que o consumidor passe a protelar compras não essenciais. 

Um terceiro ponto e não menos importante, é que hoje vivemos um cenário de taxa de juros muito alto nas compras a prazo. O que mexe muito com o poder de compras das famílias no município”, aponta.