Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes – A democracia brasileira, embora ainda amplamente apoiada, atravessa desafios sérios diante dos recentes fenômenos políticos. Em sua última pesquisa sobre o tema, o Datafolha indicou que 69% dos brasileiros preferem a democracia, mas este percentual, embora majoritário, representa uma queda de dez pontos em relação a 2022. Tal redução, somada ao aumento de 5% para 8% daqueles que consideram regimes autoritários aceitáveis, sinaliza riscos à estabilidade democrática.
A persistência de retrocessos autoritários no imaginário popular reflete um preocupante enfraquecimento institucional em tempos de polarização. Segundo o levantamento, 42% dos entrevistados consideram plausível o retorno de uma ditadura, enquanto 68% reconhecem a existência de riscos concretos de golpe no período que compreendeu a derrota de Jair Bolsonaro e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Esses dados expõem uma sociedade tensionada, vulnerável a discursos que minam a credibilidade democrática.
O apoio à democracia, por sua vez, revela disparidades significativas entre diferentes estratos sociais. Entre os mais ricos e escolarizados, atinge até 87%, enquanto nos segmentos mais vulneráveis cai para 56%. Essa disparidade reforça o papel da educação como um pilar essencial para o fortalecimento de valores democráticos e a formação de uma consciência cívica ampla.
Embora a polarização ideológica entre petistas e bolsonaristas não se traduza em divergências expressivas quanto ao apoio à democracia, segundo a pesquisa, as bolhas ideológicas e fakenews seguem influenciando negativamente o debate público. Essa dinâmica contribui para a perpetuação de um ambiente onde discursos extremados enfraquecem o diálogo e promovem a fragmentação da opinião pública.
As ameaças contemporâneas à democracia não se restringem a ataques diretos às instituições, mas incluem também movimentos que deslegitimam processos democráticos, espalham desconfiança e relativizam crimes contra o regime. Esses fatores tornam indispensável a promoção de debates pautados pela responsabilidade e pela verdade, bem como o fortalecimento da transparência institucional.
Afinal, quem é contra a democracia? São aqueles que, por omissão ou desinformação, contribuem para a fragilização de seus alicerces. O futuro do regime democrático exige uma defesa vigorosa, comprometida e calcada na maturidade política e nas sementes plantadas por uma educação que faça a diferença.
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