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Eleições e transporte público em Campos: Quem vai colocar o guizo no pescoço do gato? – Rodrigo Lira

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Artigo
Por Redação
1 de setembro de 2024 - 7h05
Foto: Josh

Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes – Todos os candidatos a prefeito têm apresentado soluções para o transporte público de Campos. Mas, se todos têm as soluções, por que o problema se arrasta há décadas, resistindo a sucessivas gestões municipais?

No caso do transporte público em Campos, a questão crucial me parece não ser sobre a melhor proposta. A maioria dos envolvidos já entendeu que a melhor opção gira em torno do sistema alimentador, com terminais de integração onde vans e ônibus se complementam. Trata-se do modelo proposto pelo governo anterior que está sendo adotado pelo atual governo e que costuma ser implementado em cidades do mesmo porte Brasil afora.

O principal desafio está em como gerenciar a implementação considerando as expectativas e peculiaridades dos grupos de interesse envolvidos. Neste grupo estão principalmente as empresas de ônibus, as vans e lotadas, que já atuam há anos no município sem o devido ordenamento e controle e que obviamente vão resistir a mudanças que possam interferir de forma negativa em suas práticas hegemônicas.

Essas mudanças de modelo de transporte têm gerado conflitos em várias cidades brasileiras, por vezes com desfechos trágicos. Em 2006, o ex-presidente da Macaé Trânsito e Transporte (Mactran), Fernando Magalhães, responsável pela implantação do Sistema Integrado de Transportes na cidade, foi assassinado numa emboscada após vir sofrendo ameaças. Em Campos, em 2019, o ex-presidente do Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT), Felipe Quintanilha, precisou mudar suas rotinas e incorporar uma escolta de segurança para ele e sua família ao longo do processo de implementação do novo modelo de transporte.

Portanto, a solução para a precariedade do transporte público de Campos que tanto impacta a população, principalmente a mais pobre, não está na aquisição de nova frota de ônibus ou no subsídio integral das passagens, mas numa força de implementação que consiga lidar com os grupos de interesse e romper com os vícios do sistema. Quem vai colocar o guizo no pescoço do gato?

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