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Tratamento modelo de TEA e TDAH

Em Italva, a clínica Vitalis, passa a ser referência para crianças com autismo

Entrevista
Por Aloysio Balbi
15 de setembro de 2024 - 0h00
Foto: Josh

Armando Barreto, o Armandão, apelido que ganhou do apresentador de TV Luciano Hulk, é um empresário de sucesso, conhecido por sua capacidade de gerir projetos de maneira eficiente em diversas áreas, mas, nos últimos anos, passou a dedicar parte significativa de seu tempo a uma causa que lhe é muito especial: o cuidado de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Em Italva, no Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, ele conseguiu, através do Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense (Cidennf) e com o apoio do município, criar a Vitalis, uma clínica que oferece suporte e tratamento a essas crianças, proporcionando um ambiente acolhedor e terapias que fazem a diferença na vida de muitas famílias da região. Além do lado social de seu trabalho, Armando é apaixonado por aventuras e pela natureza. Ele sempre encontra tempo para explorar os tesouros naturais da sua região, como a Lagoa Feia – que descreve como joia ecológica – e pescarias de robalo no Rio Paraíba do Sul.

Você administra uma clínica no município de Italva direcionada a crianças com Transtorno do Espectro Autista. Como é feito esse trabalho?
Italva é um município de pequeno porte na região e nós tivemos o privilégio de sermos homologados pelo Cidennf, esse importante consórcio de municípios que faz esse programa na região que é rede de cuidados de pessoas com deficiência. Lá encontramos a possibilidade de construir uma estrutura de qualificação com os profissionais, com adequação. Concebemos um ambiente ideal para que as crianças tivessem a melhor evolução possível para enfrentar o Transtorno do Espectro Autista. Nós, em Italva, na clínica, recebemos visitas de representantes da área da Saúde de muitos municípios para entender o que a gente está construindo. Em Italva estamos atendendo 100% da demanda do município em se tratando de autismo, sem que nenhum pai, sem que nenhuma família tenha ônus com isso. É um serviço gratuito. Não atendemos a particular, ou convênios.

Seria uma clínica modelo?
Sim. Essa clínica foi toda pensada para um ambiente de total segurança dessas crianças. Nossa estrutura física e o atendimento são padrões. Cada sala tem ambiente climatizado, com iluminação apropriada, com segurança, inclusive no piso. O piso tem um tatame de quase sete centímetros. Se uma criança cai, por exemplo, ela não vai se machucar. Todo o material é de forma que não prejudique a integridade de uma criança, já que algumas são muito ativas. Os padrões são feitos acompanhando o que tem de mais evoluído no tratamento do espectro autista em níveis nacional e mundial. A gente buscou o melhor para trazer resultado na evolução de cada criança.

Vocês conseguem atender toda a demanda de Italva?
Sim. A gente atende a 100% da demanda do município. Só para deixar bem claro, as crianças são orientadas pela Secretaria de Saúde do município. A neuropediatria do município atende e nos encaminha. Lá, fazemos as avaliações dessas crianças. Fazemos todos os exames, e toda a avaliação. Nós observamos, inclusive, esse comportamento da criança nas escolas e nas famílias também, para poder criar uma condição ideal para um plano terapêutico que permita que elas evoluam, porque autismo não é doença. Trata-se de um projeto já consolidado em Italva, onde tivemos a sorte de encontrar um prefeito, o Léo Pelanca, sensível a essa causa.

E em Campos?
Nós não atendemos pessoas de Campos. Esporadicamente, a gente busca atender uma necessidade que seja mais premente, emergencial, mas Campos está criando o seu próprio sistema para cuidados neste tratamento. Campos tem 2.500 jovens que precisam ser atendidos adequadamente. Até tem um tratamento. É preciso criar uma rede com profissionais qualificados, com acompanhamento total para a evolução da criança, porque ela deixa de ser uma criança que a família até possa entender como problemática, para que seja uma criança, um jovem, um adulto integrado à sociedade.

O que te levou a essa causa?
Quando criança, saí de São Fidélis e dos 7 aos 11 anos fui para Campos. Depois São Gonçalo, Niterói e Rio. Sempre fui uma criança agitada. Eu sou hiperativo. Quando eu entendi a possibilidade de cuidar de crianças autistas, eu busquei informações, assisti dezenas de filmes, palestras, participei inclusive de cursos para entender. Para entender onde é que eu estava me envolvendo. E me senti na obrigação de lutar por esse projeto para as crianças de Italva. E a gente quer trazer para outros municípios. Em uma parceria com o Cidennf.

Como é o diagnóstico precoce?
Logo no momento. Quando o bebê começa a andar, se movimentar. Os pais devem observar se eles têm dificuldade na fala. A criança naturalmente aprende a falar bem cedinho, mas a autista tem algumas dificuldades na fala, intolerância alimentar. É necessário, então, que se busque o cuidado e a atenção. E a gente tem essa oportunidade de cuidar das crianças de Italva e levar para outros municípios. Já estamos buscando o apoio das cidades para poder dividir isso tudo que a gente conseguiu aprender nesse curto período.

Os chamados pais atípicos, o tratamento se estende até aí também, ao ambiente familiar?
Com certeza. Para vocês entenderem, assim, com mais perfeição o que acontece, a gente busca, na fase de anamnese, a de avaliação da criança, conhecer o ambiente familiar. Conhecer o ambiente educacional da criança, da escola, além das observações que a gente faz dentro da clínica, com os especialistas. Quando a criança chega à Vitalis que é nossa clínica, ela é recebida por uma profissional que faz a acomodação sensorial. A gente recebe a criança, dá tranquilidade e a prepara com a atenção específica para os cuidados qualificados.

Seu meio ambiente é muito vasto. Você também tem uma causa ambiental muito bacana. Fale um pouquinho disso?
Eu sou, nós somos água, né? E eu tenho uma paixão por água. Eu sou pescador, já sobrevivi de pesca, mas hoje eu sou pescador esportivo. Para a pesca esportiva, você precisa ter um ambiente saudável, uma água de qualidade. E eu batalho muito, sou um pequeno produtor rural, na beira do Canal das Flechas, e tenho um compromisso pessoal, que é a manutenção do manancial da Lagoa Feia. Luto por essa lagoa, que é a maior de água doce do Brasil. Vão dizer que a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, mas lá é laguna.

E a pesca no Rio Paraíba do Sul, ela está voltando?
Com muita força. Nosso principal peixe, o robalo, espécie predominante no Rio Paraíba, está de volta. Temos meia dúzia de guias de pesca esportiva, que sobrevivem da pesca esportiva. Eu mesmo me utilizo do serviço dos guias. É preciso contextualizar essa volta do robalo. Ele, que é a nossa espécie principal no Rio Paraíba, estava ameaçado. Conseguimos inverter isso sem nenhum dinheiro público. O robalo se reproduz no manguezal, então passamos a tratar dele e o peixe voltou. Mas precisamos estar atentos, juntamente com nossas universidades, para esse problema. A ideia de guia de pesca esportiva visa dar visibilidade à importância deste trabalho também. Se vocês lembram, o Mercado Municipal era fedorento, era podre, o cheiro era horrível, porque aquele resto que vinha das bancas de peixe era jogado numa caçamba. Ficava ali apodrecendo o dia todo e depois era despejado de qualquer jeito. Há cinco anos conduzo uma ação que coleta e dá correta destinação de mais de 250 toneladas de restos de peixes, que antes eram despejados em corpos hídricos da região.