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Os felinos que rondam o Parque Estadual do Desengano

Na região do Imbé, os gestores do Parque estão monitorando com fotografias os aparecimentos dessas onças

Campos
Por Redação
3 de dezembro de 2017 - 0h01

As onças do Parque Estadual do Desengano estão se permitindo serem vistas pelos olhos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Como quem caminha sobre quatro patas na expectativa de encontrar presas ou abrigo, os felinos que provocam temor ao ser humano, têm saído bem nas fotos.

Essa exposição toda é possível porque o Inea instalou câmeras de monitoramento ao longo do parque estadual, que abrange os municípios de Campos e São Fidélis, no Norte do estado do Rio e Santa Maria Madalena, na região Serrana.

Os registros demonstram que a população de onças no local não está tímida, longe disso, parece fazer questão de se exibir. Os números, podem chegar a dez. O gestor do Inea, Carlos Dario de Castro Moreira, entende que o crescimento na aparição dos felinos é causado, entre outros fatores, pela saúde e reprodução dos animais. “Nós flagramos os animais adultos. Se existe uma onça adulta ali é porque, no mínimo, existiram ou existem outros dois animais ali, que são os pais dele. Pode ser também que existam filhotes”, concluiu.

Tecnologia a serviço da natureza

onca-2As onças foram descobertas pelo Inea a partir de vestígios encontrados por guarda-parques e moradores, como fezes do animal, pelos e pegadas. A partir desses sinais, as câmeras foram instaladas em pontos estratégicos e essa tecnologia permitiu uma maior visibilidade dos animais. “A gente sabe que as onças têm hábitos noturnos e as câmeras funcionam como uma espécie de armadilha fotográfica. Sempre buscamos instalá-las próximas a rio, onde elas costumam caçar e beber água”, disse.

Há cerca de um mês, uma onça parda foi flagrada pelas câmeras que já registraram também a presença de outros felinos de grande porte, como jaguatiricas e gatos do mato, o que representa a vitalidade do parque, segundo Carlos Dario. “Pra gente, um animal desse porte ter chegado à vida adulta é muito positivo porque para ele sobreviver ali é sinal de que abaixo dele tem toda uma cadeia alimentar capaz de sustentá-lo”, explicou.

As câmeras são automáticas e cerca de 20 foram espalhadas pelo parque. A sensibilidade dos equipamentos permitem que eles sejam disparados a cada movimento captado pelas lentes durante 24 horas por dia.

A onça é um animal carnívoro e considerada o topo de uma cadeia alimentar. Para Carlos Dario, o grau de conservação da unidade está alto, o que é um aspecto extremamente positivo, segundo ele, já que o Parque Estadual do Desengano é considerado “o último grande fragmento de Mata Atlântica nas regiões Norte e Noroeste.

A presença das onças no Desengano continua Dario, fez o Inea identificar a expansão de uma regeneração natural no parque que é graças, também, à repressão da Polícia Ambiental no local e a estagnação econômica de produtores da região. “Muitas fazendas estão abandonadas com a queda do poder aquisitivo dos fazendeiros. Isso contribui para o crescimento do parque por meio da preservação”, contou.

Outro fator que pode ter contribuído para o aparecimento das onças é a mudança no comportamento das pessoas. “Antigamente, caçar onças era uma atividade normal entre os homens. Fazia parte do aspecto cultural das regiões de mata. Hoje em dia não é mais assim. As pessoas são mais urbanas e os pais não costumam levar mais os filhos para aprender a caçar”, afirma.

Apesar dessa certeza, Carlos Dario afirma que a caça não cessou por inteiro, mas a tendência é continuar reduzindo, até porque as campanhas midiáticas e educacionais pra sanar este problema são bem maiores se forem comparadas a dezenas de anos atrás.

O que fazer ao se deparar com um desses animais

Outros cuidados que as pessoas devem ter com os animais silvestres são: não alimentá-los, não se aproximar deles, não fazer movimentos bruscos, não correr ou tentar fugir deles, não perder o animal de vista e recuar lentamente até uma área segura do parque. “Essa história de que o animal pode avançar ou atacar as pessoas é mito. Até porque, se a intenção do animal fosse realmente esta, ele atacaria porque se uma pessoa chegou a ver um animal desses é porque o animal percebeu há muito mais tempo a pessoa ali. Isso porque os animais utilizam seus instintos para identificar possíveis perigos. Os animais têm o olfato apurado, o ouvido, a visão e uma capacidade surpreendente de se camuflar ou se movimentar”, garantiu.

Curiosidades

A onça-parda é também conhecida como puma, suçuarana e leão-baio. Ela é um mamífero carnívoro da família Felidae, nativo da América. É o mamífero terrestre com a maior distribuição geográfica no ocidente, ocorrendo desde a Columbia Britânica, no Canadá, até o extremo sul do Chile, habitando desde florestas densas, até áreas desérticas, com clima tropical ou subártico, exceto a tundra. É capaz de sobreviver em áreas extremamente alteradas pelo homem, como pastagens e cultivos agrícolas.

A onça parda pode medir até 155 cm de comprimento, sem a cauda, e pesar até 72 kg, com porte semelhante ao do leopardo e é considerada o segundo maior felídeo das Américas. Possui coloração que varia do cinzento ao marrom-avermelhado, com a ponta da cauda de cor preta. As áreas laterais do focinho e ventre são, normalmente, de cores brancas. Os filhotes nascem com manchas escuras na pelagem, que geralmente persistem até 14 semanas de idade. Possui as mais longas patas traseiras dentre os felinos. Vivem em média, entre 7,5 e 9 anos de idade.

É um animal solitário e mais ativo à noite. Alimenta-se predominantemente de cervídeos, mas pode variar a dieta, sendo considerada um predador oportunista. A presença de outros carnívoros influencia diretamente a escolha das presas e ambientes de caça. As áreas de vida variam de 50 a 1000 km2, com machos sendo territoriais e possuindo grandes áreas se sobrepondo ao de várias fêmeas. As fêmeas possuem vários estros no ano, possuem uma gestação que dura entre 90 e 96 dias e geralmente nascem entre 3 e 4 filhotes, a cada 2 anos, aproximadamente.

A onça-parda não é considerada em risco de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, mas já foi extinta na América do Norte e em algumas localidades das Américas Central e do Sul. As principais causas disso são a caça, seja por esporte ou retaliação por ataques ao gado, fragmentação e destruição do habitat, e em áreas muito populosas, atropelamentos.

Características do Parque Estadual do Desengano

O Parque Estadual do Desengano possui área delimitada de 22 mil e 400 hectares, com fragmento florestal de 44 mil hectares, o equivalente a 44 mil campos de futebol.

Ele está situado em três municípios: Campos, São Fidélis e Santa Maria Madalena.

Com a fauna e a flora diversificadas, o parque também abriga espécies endêmicas, aquelas que são exclusivas do local. Muitas estão ameaçadas de extinção. Vinte e cinco por cento das espécies de aves de todo o Brasil vivem no Desengano.

O Parque Estadual do Desengano é o mais antigo do estado, foi criado em 1970 e é administrado pelo Governo do estado do Rio de Janeiro, por meio do Instituto Estadual do Ambiente.