Dez campistas seguiram para o continente africano no dia 17 de abril com malas que pesavam 576 quilos, entre doações e materiais odontológicos para interagirem com nativos da Tanzânia, que vivem em situação de extrema pobreza. Treze dias depois, eles retornaram com uma bagagem maior do que a que levaram: corações cheios de gratidão e uma vontade sem tamanho de retornar para dar continuidade ao trabalho. Após quase duas semanas na África, vendo e vivendo a realidade daquele povo, a sensação que fica nesses que foram é de missão cumprida.
A jornada de solidariedade, autoconhecimento e crescimento espiritual transformou a vida desses missionários. Eles foram recepcionados de forma calorosa por uma população carente, não somente de recursos, mas de auxílios ainda mais essenciais: atenção e afeto. Há anos, os moradores de nove aldeias situadas ao redor da cidade de Morogoro, na Tanzânia, não recebiam visitas de grupos voluntários. Quando chegaram, os integrantes do grupo ouviram da boca dos nativos que eles eram a resposta de suas orações. É que, para aqueles que não têm nada, o ato de olhar nos olhos vale mais do que tudo.
Milagres no campo missionário
Após atravessarem o oceano atlântico a caminho de um continente desconhecido por muitos, os missionários viveram dias exaustivos em função de promoverem a melhoria da qualidade de vida daquelas pessoas. Os dentistas ofereceram milhares de atendimentos odontológicos e distribuíram escovas e pastas de higiene bucal. Eles foram unânimes ao afirmar que viram milagres acontecerem diante de seus olhos: procedimentos que geralmente necessitam de intervenções cirúrgicas, foram efetuados de forma natural, experiência inédita para aqueles profissionais que não entenderam como aquilo, que ia contra o que diziam os livros de odontologia, era possível.
Outros se dedicaram às crianças, em trabalhos lúdicos e educativos dentro das aldeias e também em um orfanato situado na cidade de Morogoro. E os pequenos surpreenderam pela educação e carinho com que receberam os visitantes — que, além de Campos, também eram de São Paulo, Goiás, do município de Casimiro de Abreu, e dos Estados Unidos da América. “O envolvimento emocional é grande, principalmente com as crianças que se apegam e criam vínculo com a gente. Saímos de lá com sentimentos controversos. Ao mesmo tempo em que pensamos ser impotentes diante daquelas situações, temos a certeza que estamos fazendo nossa parte, fazendo a diferença. Precisamos voltar porque há muito a ser feito”, disse o empresário Fábio Paes, que já havia ido para Guiné-Bissau no ano passado.
Obras, água e comida buy nolvadex online
Uma das principais tarefas dos missionários era a de contribuir na construção de igrejas e escolas. Para isso, eles levaram determinada quantia em dinheiro destinado à compra de materiais. Como o trabalho não pode ser concluído em poucos dias, o missionário Paulo Brito que mora em Morogoro há cinco anos, é o responsável por acompanhar o processo e mandar fotos para os que voltam ao Brasil. Nessa visita, os voluntários puderam ver de perto um poço artesiano de 100 metros de profundidade construído ao longo do último ano por meio dessas doações e que levou água para milhares de pessoas que, antes, precisavam caminhar quilômetros para conseguir o recurso.
Também foram compradas quatro toneladas de comida, entre farinha de milho e de trigo. Com essas farinhas, eles fazem uma espécie de “papa” que garantem a refeições diárias no período de seca, que pode durar até seis meses.
Aliás, a alimentação foi um dos principais desafios dos missionários. Como a ideia era viver como vivem os nativos, comer a comida que eles comem era fundamental. Os visitantes ficaram hospedados na base da agência Jovens Com Uma Missão (Jocum), em Morogoro, e de lá partiram para as aldeias que ficavam, em média, a duas horas de distância da cidade. Após passarem o dia em função das atividades, no final da tarde a população local servia o jantar aos voluntários. Embora a base da alimentação fosse a mesma que a do Brasil — arroz e feijão — o modo de preparo era bem diferente, o que influenciava no sabor. “Desde que voltei, ainda não consegui comer como antes. Para nós, que estamos acostumados a ter uma variedade de comida no prato todos os dias, ter contato com a miséria dessa forma tão direta é no mínimo tocante”, contou Fábio.
Pobreza X Nobreza
Mas a pobreza e a escassez não foram o que mais comoveu os missionários e sim a nobreza daquele povo. Essas foram as palavras da dentista Mariana Estefan, que participou da missão pela primeira vez. “A nobreza não está vinculada à roupa que se veste, à comida que se come, nem onde se mora. A nobreza está na alma”, disse, emocionada.
Para o pastor Manoel Pinto, fundador da Missão Volantes de Cristo (MVC) e organizador da viagem, todos os que foram, voltaram melhores. “Essa é uma experiência que transforma. Nos faz dar valor à vida e faz que com que entendamos melhor o próximo e a nós mesmos. Muitos questionam ‘por que ir para tão longe?’, mas é longe de casa que temos a oportunidade de conhecer uma realidade extrema, antes inimaginável, e assim dimensionar as necessidades que existem a nossa volta. É diferente fazer um trabalho voluntário e poder voltar para perto da família no final do dia, do que sentir na pele aquela realidade tão dura e não ter para onde fugir, como os nativos não têm. Essa missão tem o intuito de promover o bem, mas, principalmente, de provocar a mudança. Aliás, o que mais ouvi nessa viagem foi ‘eu não consigo mais viver sem isso’”, concluiu.