O jacaré de papo amarelo resgatado pela Guarda Civil Ambiental (GCA) na tarde de quinta-feira (2) morreu logo após chegar ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Animais Selvagens (Nepas) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Os veterinários encontraram um anzol de caça com 10cm de comprimento dentro no animal que devia estar ali há dias e que perfurou alguns órgãos vitais. O jacaré não resistiu aos ferimentos e morreu antes de ser submetido ao procedimento cirúrgico para a retirada do objeto. Segundo o subcomandante da GCA, Geraldo Paes Filho, somente nos quatro anos e meio de funcionamento do grupamento, já foram resgatados 18 jacarés na área urbana do município, muitos deles com ferimentos causados por humanos. Ele destacou que esses animais vivem em áreas alagadas, habitat natural deles, e que não representam risco caso não haja manifestação de violência por parte da população. Para solicitar o resgate de animais silvestres, o guarda orienta as pessoas a entrarem em contato com o grupamento ambiental pelos telefones 153 ou 2733-7655.
Encontrado às margens do canal atrás do Centro de Educação Ambiental (CEA), situado na Avenida José Carlos Pereira Pinto, em Guarus, o jacaré de 1m20 da espécie Caiman Latirostris não teria resistido à ação dos guardas ambientais e o motivo seria a debilitação do animal. O médico veterinário residente do Nepas/Uenf, Henrique Nogueira, explicou que o anzol perfurou o esôfago, a veia jugular e parte do pulmão e que a lesão encontrada não era recente. “O jacaré estava gravemente ferido e esse foi provavelmente o motivo da mansidão. Ele chegou aqui com uma grande hemorragia e veio a óbito antes mesmo de prepararmos os materiais a serem utilizados na cirurgia de remoção do anzol”, contou o veterinário.
Ainda de acordo com o médico, grande parte dos animais recebidos pelo Nepas apresentam ferimentos graves causados por atropelamento e também em situações de caça, baleados e com marcas de golpes de facão. Entre os animais mais comumente encontrados nessas situações estão gambás, ouriços e guaxinins, bichos que costumam sofrer preconceito e que vivem em área urbana. No caso do jacaré, a caça geralmente ocorre devido ao alto custo da carne e da pele desse animal.
“É importante destacar que esses animais silvestres evitam ao máximo o contato com humanos, até mesmo os peçonhentos, como cobras, porque eles têm medo. Acontece que muitas vezes eles não têm para onde fugir porque já estão no seu habitat natural, nós é que de certa forma invadimos o espaço deles”, explicou Henrique. O jacaré resgatado, por exemplo, embora estivesse em uma área com bastante fluxo de pessoas, estava em um valão que tem ligação com a Lagoa do Vigário, isto é, local propício para o seu desenvolvimento.
O subcomandante da Guarda Ambiental informou ainda que, no verão, estação de altas temperaturas e umidade, as condições são ideais para a reprodução da espécie e que isso contribui para o aparecimento mais frequente desses animais principalmente em áreas como lagos ou brejos.
Resgate
O subcomandante disse ainda que a maioria dos animais resgatados pela Guarda Civil Ambiental são encontrados em “perfeito estado de saúde”, embora a caça seja uma prática comum na região. “Mesmo sendo um crime, a caça acontece com frequência, mas o flagrante é raro. A consequência disso é falta de registros de ocorrências que ocasiona um índice baixo dessa prática. Os caçadores escolhem métodos, áreas e condições ideais para que esse crime permaneça impune”, declarou Paes. Segundo o guarda, geralmente esses caçadores colocam uma luz forte na direção dos olhos dos animais, cegando-os, para conseguir se aproximar deles.
Paes explicou ainda que o resgate efetuado pela GCA acontece geralmente após a ligação da população que encontra os animais dentro das residências ou em áreas com grande fluxo de pessoas, como vias públicas.
Nepas
O médico veterinário residente do Hospital Veterinário da Uenf informou que, no momento, o Nepas encontra-se com 20 animais em recuperação, aguardando a soltura. De acordo com ele, atualmente o Núcleo está priorizando o recebimento de animais feridos e que podem ser reabilitados e soltos em seus habitats naturais. Isso porque os bichos criados em cativeiro demandam um maior tempo de recuperação porque não estão acostumados a viver na natureza e o Nepas não recebe apoio financeiro e estrutural para dar continuidade a esse trabalho.
“Interrompemos o recebimento de animais saudáveis, oriundos de apreensão e criados em cativeiro ilegalmente devido à falta de apoio por parte do poder público estadual. Já os animais feridos e resgatados pela Guarda Civil Ambiental continuam sendo encaminhados para cá para receberem o tratamento necessário antes de serem reabilitados”, concluiu.