Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes – O Censo 2022 do IBGE revela uma mudança profunda no panorama religioso brasileiro. Enquanto o catolicismo, que representava 82,9% da população em 1991, caiu para 56,7%, os grupos evangélicos cresceram expressivamente, alcançando 26,9% dos brasileiros. Outro dado revelador é o avanço das pessoas que se declaram sem religião, que passaram de 7,9% em 2010 para 9,3%, além do aumento das religiões de matriz africana, que dobraram sua participação, chegando a 1%.
Esse movimento acompanha transformações sociais mais amplas, ligadas à urbanização, à individualização das crenças e à influência crescente de grupos religiosos em mídias e espaços políticos. A perda de hegemonia do catolicismo, por sua vez, reflete um deslocamento cultural e institucional que vem se desenhando ao longo das últimas décadas.
Em Campos dos Goytacazes, os dados seguem essa tendência, com algumas particularidades. O catolicismo, embora ainda majoritário, reúne 43,46% da população — bem abaixo da média nacional. Os evangélicos somam 36,62%, proporção acima da média fluminense, demonstrando forte presença e articulação local. Já os espíritas representam 1,99%, seguidos por adeptos da umbanda e do candomblé, que somam 0,73%. As religiões indígenas não têm representação registrada, e outras religiosidades reúnem 3,51%. Chama atenção também o percentual de pessoas sem religião: 13,48%, significativamente superior à média brasileira.
A diversidade de crenças cresce, mas também impõe novos desafios. A convivência respeitosa entre diferentes expressões religiosas — ou mesmo da ausência delas — será cada vez mais central em uma sociedade plural. Em tempos de polarizações, olhar para o mapa da fé com seriedade e tolerância pode ser um exercício necessário de autoconhecimento coletivo.
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