Ter vida longa é um privilégio e, ao mesmo tempo, desafio e dor. São muitas exigências. São muitas despedidas. São viagens longas, muitas vezes, empoeiradas, difíceis, outras, iluminadas pela fé e força que se tem.
Quase todas as partidas são tristes. São amigos que foram para outra cidade, para outro país. Amigos, filhos que se casaram e foram morar longe. A vizinha que mudou de bairro, os parentes que foram para outro estado…
Todos embalam seus pertences com cuidado e vão recolocá-los em novos ambientes. Deixam, muitas vezes, saudades impregnadas no baú das memórias.
Essas pessoas podem voltar um dia. Ou não. Mas ainda podem digitar rápidas palavras, fazer uma chamada de vídeo, dar notícias por um telefonema convencional, escrever uma carta talvez… Esse breve retorno possível sempre nos enche de alegria e ameniza a ausência física.
São tantas partidas que, me parece, que estamos sempre à espera do próximo trem. A que horas ele virá? Às nove? Às quatorze? Às vinte horas?
Já aqueles que partem inesperadamente para a Terra do Nunca, para o Céu das Estrelas, sem qualquer aceno, sem qualquer aviso, nos fazem doer a alma.
Esses deixam a leitura do livro no meio, a luz do abajur acesa, o encontro marcado, a reunião na associação, o texto por escrever, alguma conta pra pagar, o pagamento por receber… E não tem como pedir para esperar um pouquinho, pois só falta o último parágrafo, o beijo rápido no amor que fica e um afago no cão que já começou a latir. Cachorro sabe das coisas. Não há tempo. É agora.
E com tudo isso, vem as lágrimas, a dor e o sentimento de que ainda era cedo para partir. Não vai não. Fica mais um pouco. Você é tão importante. Suas ideias, sua inspiração, sua alegria, seu conhecimento, sua humanidade…
(Homenagem ao acadêmico, historiador, escritor e violonista, professor Hélio de Freitas Coelho – Campos dos Goytacazes- 29-06-2023)