

A ativista e feminista Clara Charf, viúva do militante e escritor Carlos Marighella, morreu nesta segunda-feira (3), aos 100 anos, em São Paulo, por causas naturais. Ela estava hospitalizada havia alguns dias e chegou a ser intubada, segundo nota divulgada pela Associação Mulheres pela Paz, da qual era fundadora e presidenta.
Em comunicado, a entidade afirmou que Clara “deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e pela equidade de gênero”. “Clara foi grande. Foi do tamanho dos seus 100 anos. Difícil dizer que ela apagou. Porque uma vida com tamanha luminosidade fica gravada em todos que tiveram o privilégio de aprender com ela. Vá em paz, querida guerreira”, diz a nota.
Nascida em Maceió (AL), em 1925, filha de imigrantes judeus russos, Clara Charf cresceu em meio às dificuldades da família. Aprendeu inglês e piano ainda jovem e, aos 20 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro em 1946 e, no ano seguinte, conheceu e se casou com Marighella, de quem herdou o compromisso com a transformação social e a resistência à repressão.
Durante a ditadura militar, Clara foi perseguida e presa. Após o assassinato de Marighella, em 1969, ela se exilou, vivendo dez anos fora do país — primeiro em Cuba e depois em outras nações da América Latina. Retornou ao Brasil em 1979, com a anistia política, e passou a atuar intensamente na defesa dos direitos das mulheres e na luta pela democracia.
Em 2005, coordenou no Brasil o movimento Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, que reuniu mil mulheres indicadas coletivamente ao Prêmio Nobel da Paz, 52 delas brasileiras. Também foi candidata a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores, em 1982, sem perder o engajamento em causas sociais e humanitárias.
Clara Charf deixa uma trajetória de cem anos de luta, marcada por coragem, idealismo e amor à liberdade — uma história entrelaçada à própria resistência política do Brasil.
Fonte: Agência Brasil