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O fenômeno Pablo Marçal – Tiago Abud

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Artigo
Por Redação
20 de outubro de 2024 - 0h01

Tiago Abud – Articulista e Defensor Público – Umberto Eco escreveu que a internet deu voz a uma legião de imbecis. A frase, a despeito de ser verdadeira, em nada ajuda a quem faz política e se coloca acima do cidadão vulgar. Nesse hiato, a direita avança, usando da massa que jocosamente se convencionou chamar de gado. Estava em São Paulo no final de semana do primeiro turno e testemunhei o fenômeno Marçal. Na busca por compreendê-lo, resolvi conversar de política com taxistas e motoristas de aplicativo, realizando entrevistas com esse grupo, na medida em que me conduziam de um ponto a outro da cidade.

Algumas questões são relevantes para entender o fenômeno, que sai como a novidade da eleição deste ano. A primeira delas é que se trata de um caso com múltiplos fatores que se entrelaçam. Pablo viu o vácuo nos eleitores de direita que querem um outsider para chamar de seu e se colocou muito bem nesse papel. O candidato ao cargo de prefeito da maior cidade do Brasil vota descalço, faltando cinco minutos para o fechamento das urnas, é transgressor, no sentido de marcá-lo como o sujeito que dá de costas para o sistema, muito embora tenha enriquecido às custas dele.  

Um segundo apontamento está exatamente no sucesso financeiro do coach, que enfeitiça os seduzidos pela teoria da prosperidade e o opõe aos políticos corruptos, pecha bem colada em todo aquele que está na política partidária tradicional. Por isso, ouvi de um dos entrevistados: “Marçal é rico, bem-sucedido e não precisa roubar”.

Com sua habilidade empresarial, Marçal criou uma marca. O seu boné era visto na cabeça de várias pessoas, notadamente jovens. A ciência política precisa buscar entender rapidamente esse fenômeno, enquanto a esquerda perdeu a capacidade de falar com a periferia, como advertiu Mano Brown.

Mas não é só de sucesso que vive o coach. Vazio de conteúdo (embora dialogue com parte dos eleitores, ao ponto de dois dos ouvidos por mim dizerem que não haveria segundo turno), sem propostas para administrar a cidade, viu sua chance de prosseguir na corrida eleitoral ruir, na sua insana tentativa de desqualificar o adversário com um laudo falso, que pode lhe custar a elegibilidade nos próximos anos (“O tamanho do barraco que ele criou, mostra que é desequilibrado”, me disse outro). De todo modo, para além da lição para os progressistas, da importância da volta ao diálogo com o pobre, Marçal deixa evidente a marca de que sem o gado não é possível ganhar o jogo e que ele é capaz de pular a cerca, desde que seja sensibilizado a tanto.

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