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Campos vai ganhar novo Ceascam

Prefeitura quer investir 58 milhões na obra

Especial J3
Por Clícia Cruz
3 de março de 2024 - 0h01
Foto: Josh

Campos dos Goytacazes é notadamente um município de vocação agrícola e grande parte dos produtos que saem do campo é produzida por pequenos e médios agricultores, que, sem local adequado para o escoamento da produção, acabam vendendo o fruto do seu trabalho por um valor muito aquém do esperado para pessoas que compram no campo e vendem na cidade lucrando muito mais, são os chamados atravessadores. A cidade, há 30 anos, não conta com uma Central de Abastecimento, o antigo Ceasa fechou em 1994, deixando de ser o elo entre o produtor e o comércio. O projeto Ceascam, Centro de Abastecimento e Polo Agroalimentar de Campos promete ser a solução dessa questão. Com previsão de início das obras ainda em 2024, a central deve beneficiar mais de 50 mil produtores de toda a região.

O projeto da Prefeitura de Campos prevê a reestruturação de uma área de cerca de 260 mil metros quadrados, localizada em Guarus, onde funcionou o antigo Ceasa. De acordo com a Prefeitura, o novo complexo vai se destacar pelo potencial logístico ao ser atendido por duas rodovias federais, as BR-101 e BR-356 e estar a apenas dois quilômetros do aeroporto. O projeto contemporâneo prevê também a instalação de câmaras frias para armazenamento de pescado, plataformas para desembarque dos produtos, além de todo um complexo de infraestrutura com unidade de saúde, posto do Corpo de Bombeiros, Posto policial, restaurante e estacionamento para mais de 500 veículos.

A agricultora Sandra Miranda trabalha na produção agrícola desde criança e lamenta ter que vender seu plantio a preços tão baixos, tornando a atividade apenas de subsistência, enquanto poderia ser mais lucrativa, melhorando a qualidade de vida dela e da família. “Essa central pra gente é um sonho, principalmente pra mim, que estou esperando por isso há tanto tempo. Sou assentada do Josué de Castro, na nossa região dá muita batata, eu agora estou plantando um quiabo que começa a ser colhido em 45 dias, a batata doce em três meses. Então, nossa expectativa é da circulação das mercadorias. Nós, hoje, podemos pensar em culturas que produzam rápido, porque o Ceascam vai dar vazão a nossa produção”, comemora a produtora. “A gente tem muita disposição pra trabalhar, mas às vezes nós não temos pra quem vender, então o atravessador chega à nossa área e nós temos que vender baratíssimo. Pra se ter ideia, uma caixa de aipim, com 20 kg, nós vendemos por R$ 12, não conseguindo vender o produto com valor que ele realmente tem”, explica.

Sandra reforça que o trabalho do homem do interior é essencial para o abastecimento da cidade. “Todas as áreas se complementam, é preciso olhar para a saúde, a educação, mas a agricultura mata a fome, se nós no campo não plantarmos a cidade não tem o que comer, é preciso ter um olhar sensível à agricultura”, diz.

O Superintendente de Abastecimento de Campos, Alfredo Dieguez, acredita que a central vai favorecer, também, o consumidor final, já que a tendência é que os produtos cheguem com melhores preços ao comércio.  “O Ceasa foi desativado na década de 90, ele era o ponto central de distribuição de alimentos de uma região. Os produtores regionais levam os produtos até a central de abastecimento para escoar a produção, assim como outros produtores de outras regiões do Brasil. Campos hoje recebe produtos de duas capitais, Rio de Janeiro e Vitória. Isso encarece o produto para o consumidor”, relata.

Dieguez também revela que o Ceascam já vem despertando interesse até fora de Campos. “Empresários de vários pontos do Brasil já demonstraram o desejo de ter seus boxes. Produtores de laranja, batata, porque eles não olham só para Campos, eles veem toda a região, é uma média de 2 milhões de habitantes, pega todo Noroeste, que vai vir comprar aqui, Espírito Santo, toda a região Norte”, detalha.

Luta de uma década
O vereador Nildo Cardoso, que esteve durante um período à frente da Secretaria de Agricultura, no governo de Rafael Diniz, desde esta época vem tentando viabilizar a obra do Ceascam, inclusive trazendo representantes do Ministério da Agricultura para conhecer as instalações do antigo Ceasa.

“Nossa luta pela instalação do Ceascam começou há 10 anos, quando eu fui candidato a prefeito e o projeto fez parte do meu plano de governo, assim como a questão do terminal pesqueiro de Farol e, por coincidência, são os principais projetos de Wladimir, por isso estou caminhando ao lado dele. O prefeito conseguiu R$ 12 milhões de emendas individuais e também busquei e consegui através dos deputados Júlio Lopes e Felício Laterça, mais R$ 14 milhões”, contou o vereador durante sua participação no programa Manhã J3, na J3News TV.

O prefeito Wladimir Garotinho também apresentou o projeto ao Ministério da Agricultura e conseguiu o restante da verba para a conclusão da obra, em cifras que podem chegar a mais de R$ 58 milhões. A Prefeitura informou que está atuando na confecção do projeto executivo, que é uma  exigência para que seja feito o repasse dos recursos obtidos.

A previsão é que no primeiro ano de trabalho o impacto chegue a movimentar de R$ 1 bilhão de Reais, com geração de quatro mil empregos. A obra será feita em etapas, com previsão de funcionamento já na conclusão da primeira fase. A prefeitura também informou que está trabalhando para que a licitação da etapa inicial ocorra ainda no ano de 2024.

Economia Regional
O economista Ranulfo Vidigal chama atenção para o impacto regional que a abertura do Complexo vai gerar e fala da importância da central para a agricultura familiar. “Nas famílias com renda de até cinco salários mínimos, em torno de 20% é gasto mensalmente com alimentos. E, nesse aspecto, nessa conjuntura que considero altamente positiva, a introdução de políticas públicas de abastecimento em cidades médias, como Campos, que tem 500mil habitantes e no entorno outro tanto, considerando aquelas cidades que gravitam em torno, o abastecimento alimentar é feito aqui, também por moradores de São João da Barra, principalmente com o Porto do Açu, São Fidélis e outras cidades que tem como referência a cidade de Campos. O outro aspecto importante é que a agricultura familiar é altamente dependente da garantia da demanda, porque o pequeno produtor está sujeito a intempéries climáticas. Isso acontece muito, por exemplo, com os assentamentos ou os pequenos produtores. Na medida em que ele tenha um local adequado para ofertar diariamente, levando em consideração os regimes de safras, as chuvas e os tempos das safras, ele vai poder se organizar mais adequadamente.”, ressalta o economista.

Agricultura se prepara para o novo momento
O secretário de Agricultura de Campos, Almy Júnior, destaca que o município vem se preparando para colher os frutos desse novo momento da economia local, que vai se estabelecer com o Ceascam: “Temos vários programas implantados cujo foco maior é apoiar a infraestrutura que o produtor rural precisa. Estradas, pontes, aquisição de alimentos, assistência técnica, apoio no preparo dos terrenos de plantio, melhor infraestrutura para comercialização, apoio na regularização fundiária e organização em associações e cooperativas, na legalização para comercialização com a certificação e na capacitação por meio do programa Capacita Agro Campos.  Foram investidos nos últimos três anos, entre recursos próprios e recursos federais, quase R$ 40 milhões de reais e temos a perspectiva de investir mais R$ 40 milhões neste ano”, diz.

Almy também destaca o investimento em estradas rurais. “A mobilidade e a conectividade rural são os grandes desafios da agropecuária brasileira e em Campos não é diferente.  O município é um dos maiores da região sudeste e tem uma malha de estradas de mais de 3000 quilômetros. O governo tem investido fortemente na reconstrução de estradas, adquiriu muito equipamentos para isso e devemos, ainda no mês de março, começar a construir 20 pontes que atualmente são de madeira e serão feitas de concreto. O projeto é construir mais de 40 pontes no município, um investimento acima de R$ 100 milhões de reais”, finaliza.