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Insucessos e sucessos de uma atriz

Campista Bia de Queiroz é apontada como a revelação da cena teatral no Rio

Entrevista
Por Aloysio Balbi
26 de fevereiro de 2024 - 7h00
Foto: Arquivo Pessoal/Instagram

Nascida em Campos, onde deu os primeiros passos nos palcos, Bia de Queiroz tornou-se hoje uma grata surpresa na cena nacional da dramaturgia. Todo esse sucesso veio com o monólogo “Insucessos de uma vida quase adulta”, que lotou dois teatros em Ipanema, no Rio, espichando as temporadas. O texto escrito pela moça é considerado impecável, e ninguém melhor do que ela para interpretá-lo. Tanto que foi indicado em quatro categorias no prêmio de Humor organizado por Fábio Porchat.

Bia passou a adolescência em Campos e aos 17 anos carimbou o passaporte e foi morar em Telluride, no Colorado, nos Estados Unidos. Ao retornar ao Brasil, optou por morar no Rio para fazer o curso profissionalizante de atuação da CAL, a conceituada escola de artes no bairro de Laranjeiras. A moça, que hoje tem 26 anos e que vivia nas bibliotecas, já é uma atriz consagrada.

Na mesma renomada CAL, ela se bacharelou em Artes Cênicas. Está na mira de grupos e pessoas que produzem teatro, cinema e televisão. Ela já apresentou sua peça em Campos, mas está pronta para uma segunda sessão.

Para as pessoas se situarem: você nasceu em Campos e passou a adolescência na cidade. Dá para falar um pouco desta fase, e se houve algum movimento de cultura aqui que te influenciou?
Minha adolescência em Campos foi interessante. Eu comecei a fazer teatro na Cia de Arte Persona, com 14 anos e logo achei o meu lugar no mundo. Eu lembro que eu ficava o dia inteiro lá, eu só falava disso, era quase uma obsessão (risos). Eu só queria saber de teatro, de atuar, de criar cenas novas, peças novas. As minhas amigas da escola me amavam e me aguentavam muito, porque eu vivia ensaiando e falando sobre isso. Mas, é porque eu entendi a minha função no mundo muito nova e isso é raro, eu acho. Eu sempre soube o que queria ser, eu só não sabia que o caminho para se tornar o que se quer ser é muito mais árduo do que o adolescente sonhador pensa. Eu era uma adolescente muito sonhadora. Conheço muitos campistas talentosos. Confesso que percebo que a parte cultural da cidade precisa se movimentar mais para incentivar todos esses talentos que muitas vezes tem que sair de Campos para terem mais oportunidade de mostrar o trabalho.

Estaria errado em dizer que você era da “Turma de Niterói” que atravessou a ponte para conquistar o Rio de Janeiro, como fez Paulo Gustavo, e tantos outros?
Atravessei mais que a ponte (risos). Muitas horas de viagem para conquistar o Rio de Janeiro. Paulo Gustavo é uma grande referência na minha carreira, assim como Mônica Martelli, Alexandra Richter e muitos outros artistas que iniciaram com seus próprios monólogos também no Teatro Cândido Mendes. Quando você sai da faculdade de teatro, você fica meio no escuro do que fazer para se colocar no mercado de trabalho. A maioria das pessoas arruma uma agência e fica esperando testes. Eles podem chegar, como não podem. Eu sou muito ansiosa, não consigo ficar parada esperando nada (risos). Estudando sobre a história dos grandes atores, a maioria deles se movimentou para montar os textos que eles queriam. O meu caso foi mais parecido com o Paulo e a Mônica. Eu resolvi escrever um monólogo sobre a história da Elena, que parece com a minha e com a de muitas pessoas que estão por aí ansiosas buscando um lugar ao sol nesse mundo que está cada vez mais imediatista. Eu digo que Elena é minha heroína, ela é tudo que eu queria ser. Ela desiste de esconder os seus fracassos e revela todos eles para a diretora do teste que ela está fazendo. Sem medo e sem vergonha. Eu acredito que o sucesso da peça acontece pela identificação das pessoas com a personagem e da vontade de adquirir a mesma coragem de Elena na vida delas.

A peça, senão me engano, circulou por dois teatros de Ipanema e você arrancou elogios rasgados não só pela interpretação, mas por tudo no espetáculo, já que foi escrito por você, ou seja, você foi múltipla. Como lidar com esse reconhecimento unânime?
Eu sabia que iria ser divertido, mas não esperava que a primeira temporada seria estendida duas vezes. Eu estava confiante porque a equipe de Insucessos é a equipe dos sonhos de toda iniciante. Todos os profissionais com anos de experiência que embarcaram na minha loucura me deram a mão e acreditaram em mim. Eu sou muito grata a todos eles. Stella Maria (Stella Maria Rodrigues), minha diretora genial; Valéria (Valéria Macedo), minha super produtora; Paulo Cesar (Paulo Cesar Medeiros), meu melhor amigo da faculdade, que é um grande iluminador de teatro, que me apresentou a todo mundo da equipe; Paty (Patricia Muniz), minha figurinista maravilhosa; Mina (Mina Quental), cenógrafa incrível; Marina (Marina Moraes), minha melhor amiga da escola, que fez toda a estratégia digital; Bruna (Bruna Pontara), minha melhor amiga da faculdade, assumiu a assistência de direção e produção e me deu muito suporte; Hecktor (Hecktor Colombo), meu super sonoplasta e Stella Stephany e Paulo Pontes, que fizeram a assessoria de imprensa lindamente. Com essa equipe impecável, eu me senti mais confiante para estruturar um projeto de muita qualidade. Além disso, minha família foi fundamental. Todos eles divulgaram muito, compraram ingressos, muitos compraram ingressos antecipadamente e me ajudaram com os custos da peça. E, principalmente, a minha mãe, que fez o grande investimento no projeto. Eu sou muito grata a todos. Muita gente me apoiou e se movimentou para fazer o meu sonho se realizar.

Você foi indicada em quatro categorias no prêmio de humor organizado pelo seu amigo Fábio Porchat; Esperava tanto assim?
(Risos) Não sou amiga de Fábio ainda. Já, já a gente engata numa amizade no humor. Eu não esperava, não! Fiquei em choque quando vi as indicações. O espetáculo foi indicado em quatro categorias. Eu fui indicada em duas: melhor texto e melhor performance. Stella Maria Rodrigues, minha diretora genial, foi indicada na categoria de melhor direção, e a peça foi indicada na categoria de melhor espetáculo, ou seja, todos da equipe estão dentro dessa indicação. É muito emocionante ver todo o nosso esforço, nosso trabalho e dedicação serem reconhecidos. E isso é só o começo. Ainda tem muito espetáculo para acontecer em 2024.

Você defende nos tempos de hoje um espetáculo mais objetivo e rápido. As novas gerações não conseguem ficar mais de 1h20mim sentadas. Essa observação é séria?
Depois da pandemia eu fiquei com uma certa dificuldade de assistir espetáculos e filmes mais longos. Então, quando eu estava escrevendo, optei por escrever um monólogo de até uma hora de duração. Agora já estou um pouco melhor sobre isso. Mas, de qualquer forma, sinto que as pessoas mais jovens preferem coisas mais dinâmicas e eu defendo que os espetáculos têm que ser redondos, sem muita “barriga”, sabe? Isso eu lembro muito do processo de ensaios com Stella. Quando ela percebia que tinham coisas sobrando, ela cortava. Eu acho isso muito importante. Muitas vezes, o público perde o interesse pelo espetáculo porque ele tem muitas informações e textos que não precisariam estar mais ali e que no final das contas não fazem mais sentido.

O sucesso no Rio resultou em muitos convites para circular com a peça por outras cidades?
Não muitos. Mas a peça ainda vai circular muito.

Chances de encenar mais uma vez em Campos?
A gente fez uma apresentação em outubro de 2023 no Firjan Sesi Campos e os ingressos esgotaram em 11 horas. Foi lindo. Mas, com certeza, estamos planejando novas apresentações em Campos. É sempre emocionante levar a peça para lá.

Voltando à questão das gerações. Antes do que chamo de “Turma de Niterói”, no humor, apareceram na televisão a “ TV Pirata” com a turma que veio do tablado e do Asdrúbal, seguida por “Casseta&Planeta”. Vocês reinventaram o conceito de humor após essa geração. Essa observação tem a ver?
Não acredito que eu tenha reinventado o conceito do humor, me considero uma continuação de todas as gerações do humor. O que eu fiz foi levar para o teatro uma pauta muito atual que se comunica principalmente com jovens “recém-adultos”. Insucessos é um espetáculo que convida os jovens ao teatro para refletir sobre suas próprias angústias de uma forma engraçada. Isso é novo. Porque não vejo muitas montagens com uma temática tão focada nas questões do jovem adulto no teatro hoje em dia. Eu defendo a ideia de que precisamos fracassar até dar certo, com o tempo a sensação de fracasso vira aprendizado. Pelo menos você está se jogando no mundo com coragem.

Bia de Queiroz já está trabalhando em um novo projeto? O que esperar da Bia para colocar no cartaz em breve?
Estou trabalhando em dois projetos muito legais para este ano, que envolvem o espetáculo. Não vejo a hora de contar mais sobre eles. Ainda tenho que manter em segredo, mas acompanhem no meu Instagram @biadequeirozc, que vou contar tudo lá.