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Nova Política de Industrialização

Oportunidade ou um “Vale a pena ver de novo”?

Economia
Por Sandro Figueredo
23 de janeiro de 2024 - 20h09

Nas últimas décadas, vivenciamos um significativo avanço da globalização. O comércio internacional expandiu-se, e as cadeias de suprimentos disseminaram-se globalmente, concentrando-se predominantemente em países asiáticos. As reformas econômicas, a abertura comercial da China e a influência econômica e militar dos EUA, que garantiram a segurança nos negócios globais e no transporte de mercadorias, desempenharam papéis cruciais.

Com uma maior segurança ao investir em países de menor custo de produção, o capital espalhou-se pelo mundo. A produção industrial floresceu em regiões com custos de mão de obra mais acessíveis, impulsionando o aumento da produção global com preços em declínio. Esse cenário foi impulsionado por avanços tecnológicos que ampliaram a produtividade e a integração entre diferentes partes do mundo, contribuindo para a redução dos preços dos bens e das taxas de juros em muitas regiões.

Contudo, a pandemia e conflitos recentes, como a guerra na Ucrânia, no Oriente Médio, e agora o conflito no Mar Vermelho para conter os rebeldes houthis do Iêmen, alertaram empresas e governos sobre os riscos de dependerem de cadeias de suprimentos distantes e concentradas em poucos países, fora de controle. A ascensão da China e a postura de autocracias, como a Rússia, questionaram a confiabilidade desse sistema global e das cadeias de produção. Como resultado, observamos sinais de uma possível reversão na globalização, expressos em discursos, planejamentos de investimentos, sanções ou regulações por parte de governos e empresas. Essa tendência sugere que a era de custos em queda pode estar chegando ao fim, dando lugar a um mundo potencialmente mais inflacionário, especialmente considerando os custos adicionais associados à transição para uma matriz energética menos poluente.

A redução da globalização pode tornar os investidores mais cautelosos ao investir em países menos democráticos, direcionando seu capital para economias emergentes mais amigáveis e consolidadas democraticamente, como o Brasil. A pressão sobre os preços das commodities, especialmente as energéticas, também pode beneficiar o Brasil, um importante produtor com uma matriz energética fortemente baseada em fontes renováveis.

Frente a esse cenário global e local, o Brasil se depara com uma oportunidade singular. O anúncio do Governo Federal de um pacote de R$300 bilhões em financiamento e subsídios à indústria, reflete uma postura atenta a essa oportunidade. O programa “Nova Indústria Brasil” concentra-se em áreas como cadeias agroindustriais, saúde, bem-estar urbano, transformação digital, bioeconomia, descarbonização, transição energética, segurança energética e defesa nacional. O fomento se dará pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que é responsável pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

A Nova Política Industrial é uma iniciativa louvável, direcionando-se para a urgente necessidade de restaurar a posição central da indústria na economia brasileira. A proposta visa reverter o quadro de desindustrialização nacional e restabelecer a relevância crucial da atividade industrial, reconhecendo-a como um pilar essencial para o desenvolvimento econômico do país. No entanto, ao analisar o passado recente e aprender com experiências anteriores, é crucial evitar a repetição de estratégias, como a abordagem de “campeãs nacionais”, que podem comprometer o sucesso dessa iniciativa.

É fundamental ressaltar que, sem equilíbrio fiscal, há o risco de interromper o atual ciclo de redução das taxas de juros, um elemento vital para o desenvolvimento da indústria. Portanto, é necessário que as ações propostas não apenas tenham um impacto positivo na atividade industrial, mas também estejam alinhadas com a sustentabilidade fiscal.

A Nova Política Industrial tem o potencial de impulsionar verdadeiramente o setor industrial se focar na efetividade econômica e se integrar à responsabilidade fiscal. Dessa forma, contribuirá para a retomada do crescimento econômico sustentável do país e a geração de empregos, representando uma oportunidade valiosa que deve ser aproveitada com sabedoria.

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade exclusiva dos autores e não representa a opinião do J3News.