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Monumentos de Campos contrastam em preservação e abandono

Obras de arte a céu aberto destacam personagens que contam histórias da cidade e do Brasil

Patrimônio
Por Ocinei Trindade
25 de setembro de 2023 - 6h00
Corredor Cultural | Obras ficam na Câmara de Vereadores (Fotos: Silvana Rust)

Estátuas, bustos, monumentos e instalações fazem parte da paisagem urbana de cidades mundo afora. Expressam a relevância histórica de personalidades que se destacaram na construção social de algum lugar, em determinado período. Em Campos dos Goytacazes, há monumentos espalhados pela cidade, distritos e litoral. Em alguns pontos, há uma concentração de obras fascinantes, como as da Câmara Municipal, que integram o Corredor Histórico Cultural, criado em 2015. Em outros locais da área central, há abandono e depredação, como a estátua de Tiradentes, mártir da Independência do Brasil.

Para os admiradores de esculturas e histórias em geral, os monumentos públicos oferecem contemplação e aprendizado. No entorno da Câmara de Municipal de Campos, por exemplo, o visitante encontra no Corredor Histórico Cultural estátuas com mini-biografias, em placas explicativas sobre os importantes nomes do passado da cidade. A do ex-presidente da República, Nilo Peçanha, se destaca. O famoso político campista dá nome ao edifício do Legislativo. Há outros monumentos que o homenageiam em diferentes pontos de Campos, como o do Jardim São Benedito.

A beleza do prédio em estilo greco-romano da CMCG é adornada pelas diferentes esculturas dos vultos campistas. São reverenciados José do Patrocínio, líder republicano e abolicionista chamado de “Tigre da Abolição”; Capitão Ricardo João Kirk, pioneiro da aviação militar e primeiro brasileiro a morrer em combate; Benta Pereira, líder dos levantes de 1748 e 1752; Luís Felipe Saldanha da Gama, oficial da Marinha que combateu o governo militarista de Floriano Peixoto; o jornalista e abolicionista Luiz Carlos de Lacerda; Capitão Manoel Theodoro, primeiro campista Voluntário da Pátria na Guerra do Paraguai; a escrava Justina, mãe de José do Patrocínio; Júlio Feydit (1845-1922), vereador e prefeito de Campos; Alberto Frederico de Moraes Lamego, autor da obra “A Terra Goytacá; Alberto Lamego, geólogo, poeta e escritor, titular da Academia Brasileira de Geografia.

(Foto: Arquivo pessoal)

Para a historiadora Letícia Silva, a situação dos monumentos reflete a necessidade de intensificação das atividades voltadas à educação patrimonial. “A população não conhece sua história e, consequentemente, não reconhece nos monumentos parte de sua identidade. Não se trata apenas da preservação de monumentos estáticos. Oferecer ao cidadão a oportunidade de conhecer a história do município por meio dos lugares de memória, como praças, bustos ou os muitos edifícios históricos é parte fundamental de uma política sólida de educação patrimonial voltada à história regional. Políticas como essa são de extrema importância, na medida em que reafirmam a formação da identidade dos cidadãos e possibilitam que estes não apenas se reconheçam como também reconheçam os aspectos formadores da sua cultura, da sua identidade e da sua história”, diz.

O presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos, Genilson Soares, destaca a relevância dos monumentos locais. “Com exceção do Corredor da Câmara, que são peças mais recentes, praticamente todos os monumentos, bustos, hermas, efígies, estátuas e placas históricas carecem de manutenção. Grande parte tem mais de um século e sofre ação das intempéries e vandalismos. A conservação é importante, primeiramente em respeito ao próprio povo campista, pois muitas dessas obras foram patrocinadas por subscrição feita pela nossa sociedade. O aspecto mais importante é, sem dúvida a reverência que fazemos à memória dos nossos vultos e datas históricas”, avalia.

Vandalismo e abandono
Ao percorrer diferentes monumentos de Campos, observam-se pichações em peças como o canhão da praça, na Avenida Alberto Torres. A falta de identificação da estátua do diplomata Graça Aranha, na Praça Barão do Rio Branco (Jardim do Liceu), pichação e falta de identificação no busto do Barão da Lagoa Dourada, José Martins Pinheiro, ex-proprietário do solar que pertence ao Liceu de Humanidades. Todavia, nada se compara a depredação da estátua de Tiradentes, monumento atingido por vandalismo na área central, no último dia 5 de agosto. Uma investigação policial foi concluída, sem êxito, na identificação da autoria do crime. “Não há câmeras no local e a superfície não permite coleta de impressões papilares. Portanto, não se chegou à autoria”, diz a delegada Natália Patrão.

Genilson Soares lembra que a estátua de Tiradentes não tinha manutenção. “Feita em 1992 pelo escultor mineiro José Ludugelli, o mesmo do índio que ficava na entrada da Cidade, a peça era precária e foi construída em argamassa, com uma haste metálica central, que estava oxidada e provavelmente se rompeu”, cogita.

“Infelizmente, não se trata apenas de uma realidade campista, o Brasil e o brasileiro não preservam seus monumentos. A preservação dos monumentos, como a estátua de Tiradentes, deve ser parte integrante das políticas de educação, cultura e turismo. Para além de ações de vigilância, importantes são ações educacionais voltadas não apenas à história, mas ao simbolismo presente nestes lugares, que devem ser espaços de debates, discussões e reinterpretações dos fatos históricos locais e nacionais”, considera Letícia Silva.

A Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima se manifestou por meio de nota. “O Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos dos Goytacazes (Coppam) – responsável pelo tombamento dos monumentos –, enviará ofícios às secretarias da municipalidade com capacidade para reparos nos ítens danificados, esperando soluções para um futuro próximo”, conclui.