Autoridades, representantes da sociedade civil organizada, membros da imprensa, ativistas culturais e comunidade se reuniram, na tarde desta sexta-feira (30) em um abraço simbólico à Ao Livro Verde. O ato tem o objetivo de mobilizar forças políticas e sociais de Campos em torno da criação de uma saída para a livraria, que é a mais antiga em atividade do Brasil e corre o risco de fechar.
Isso porque, exatas duas semanas antes de completar 179 anos, no último dia 13, a Ao Livro Verde ingressou, na 5ª Vara Cível da Comarca de Campos, com um pedido de autofalência diante de uma dívida de R$ 1.886.264,91. O ativo total da empresa é de R$ 735.808,55, incluindo estoque de mercadorias, saldo de caixa, saldo em conta bancária e recebíveis de cartão de crédito.
No esforço de manter as portas dessa histórica referência das letras, a escritora Sol Figueiredo articulou o ato de apoio à Ao Livro Verde, que chamou de “Abraço da Esperança”.
“Estou muito satisfeita com o apoio. Sinto que a população campista e os órgãos públicos estão fortalecendo esse movimento, que é popular. Não é um movimento de uma pessoa só, de uma instituição só. É de todos, pois a Ao Livro Verde é nossa, é de Campos”, afirma Sol.
Presente no evento, o vereador Nildo Cardoso recordou sua história pessoal com a Ao Livro Verde e afirmou que a Câmara Municipal de Campos já começou a se movimentar para tentar junto ao Conselho de Preservação do Patrimônio Municipal (Coppam) uma solução para a livraria.
“Em 1973, com 14 anos de idade, eu entrei para trabalhar aqui na Ao Livro Verde. Levei sete anos aqui dentro, trabalhando, funcionário com carteira assinada. E, hoje, como vereador, acho que cabe à gente valorizar o nosso patrimônio. Observamos que, no Centro da cidade, as pessoas fazem o tombamento dos prédios, mas esquecem o conteúdo. Aqui, não. Aqui tem conteúdo de quase 200 anos. A Câmara já aprovou um requerimento nosso, para que possamos abraçar essa causa, tentando reverter a situação da falência. Isso é ruim para nós. Vamos ter contato, através da Auxiliadora Freitas, que é a presidente do Coppam. Estivemos com o procurador geral do Município, que também faz parte da comissão e pedi que ele possa nos ajudar, fazer o encaminhamento para que a gente possa fazer o tombamento do conteúdo, da empresa como um todo e não apenas o prédio, que já é tombado”, garante Nildo.
Também vereador, Cabo Alonsimar reiterou a importância da mobilização das forças políticas do município, enquanto agentes da vontade popular, em torno da Ao Livro Verde.
“Um dos nossos papéis, como membros do Poder Legislativo, é representar a população e é isso que eu estou fazendo aqui, hoje, junto com o vereador Nildo, para não deixar que essa porta se feche. Essa história não pode acabar. É a livraria mais antiga do Brasil na nossa cidade. É motivo de orgulho para a gente”, opina Alonsimar.
Para a subsecretária municipal de Turismo Patrícia Cordeiro, falou sobre a necessidade de manter a mobilização em torno da Ao Livro Verde.
“A gente sabe que a situação é crítica, mas é uma história que depende do esforço de todo mundo e que é de responsabilidade coletiva, do poder público, de cada cidadão. A gente, que tem posição de representação na sociedade, é obrigação nossa estar aqui. Não é só um ato simbólico, é um ato de resistência mesmo. Então, é preciso que o movimento não se desmobilize, pois tenho certeza que vamos encontrar uma saída”, projeta Patrícia.
Já o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, Edvar Chagas Jr., relembra o longo período de atividade da livraria.
“Há 179 anos a gente lê na nossa história sobre a Ao Livro Verde, então, é muito importante que essa leitura continue. Diria até que o nome ‘verde’ representa isso, sinal para continuar. Uma livraria que esteve aberta durante todo esse tempo e mesmo durante o período de pandemia só fechou na parte que foi obrigatória, faz parte da história de Campos, do Brasil e do mundo. Talvez, um caminho para ela continuar seja a municipalização dessa livraria, que possa aportar aqui a biblioteca municipal, servir de ponto de encontro dos intelectuais, os escritores. Acho que há, aqui, um trabalho cultural muito bom. E só com cultura e educação a gente consegue mudar a mentalidade da população”, elabora Edvar.
O proprietário da livraria, Ronaldo Sobral, agradeceu o apoio da comunidade e a presença de autoridades.
“É muito difícil dizer que a Ao Livro Verde não tem palavras para agradecer essa manifestação espontânea da sociedade campista nesse momento tão difícil da empresa. Pensando bem, temos um estoque de palavras. Nesse momento de crise, a palavra não consegue se sobrepor aos dígitos. Nesses 179 anos, atravessamos momentos difíceis e tristes, como duas guerras mundiais, pestes e pandemias. Também presenciamos coisas belas, como a abolição da escravatura e a proclamação da República. Agora, a Ao Livro Verde vive, intimamente, talvez o seu mais grave problema nessa história de quase dois séculos. Mas, existe uma felicidade ao perceber o interesse público da sociedade nessa dor íntima. Com todas as palavras, o nosso muito obrigado”, agradece Ronaldo.