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Máscaras: flexibilizar o uso e vencer de vez a Covid

Municípios divididos e comunidade científica diz que ainda é cedo

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
2 de novembro de 2021 - 16h07

Um dos assuntos predominantes no noticiário das últimas duas semanas girou em torno da flexibilização do uso da máscara em locais abertos. A questão, contudo, é mais complexa do que aparenta e envolve diferentes vertentes. 

A principal delas é que enquanto o uso do equipamento de proteção em ambientes fechados segue obrigatório apesar do enorme desconforto e mal estar para quem trabalha 8/10 horas seguidas, aboli-lo em áreas abertas seria um incentivo a mais para aqueles que apenas transitam em locais fechados e já não cumprem a norma vigente.  

São, particularmente, consumidores e clientes que resistem à máscara. Em outras palavras, o mau-cidadão, já acostumado a entrar em lugares fechados sem o acessório, ficará ainda mais à vontade para transgredir se o uso for dispensado em áreas abertas. 

Numa discussão polêmica, o argumento mais sóbrio e sensato está no risco de que a flexibilização resulte no recrudescimento da pandemia. Afinal, pouco mais de 55% da população completaram o esquema vacinal – percentual bem distante daquele que em tese traria a imunização de rebanho – e os que tomaram a dose-reforço são pouco mais de 5%.

De mais a mais, não custa lembrar que apesar do número de óbitos e casos de Covid estarem em queda, o Brasil continua registrando cerca de 300/400 vidas perdidas por dia – o que é uma tragédia – e entre 12 a 15 mil novos casos.  

Estamos a 2 meses das festas de fim de ano e da temporada de verão. Logo em seguida vem o carnaval. Não é hora de dar brechas para o Coronavírus, mas, ao contrário, de fechar as janelas de transmissão.   

A ideia da flexibilização, encampada por alguns governantes, até semana passada havia sido rejeitada pela maioria dos municípios, em particular pela incerteza que prevalece sobre qual o percentual de vacinados seria suficiente para a liberação. 

Enquanto alguns falam em 65%, outros, como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, entendem que o mínimo ‘aceitável’ seria 80% – ou até 90% – do esquema vacinal completo entre adultos e 100% dos idosos com a dose de reforço.  No início de outubro, a prefeitura paulista chegou a cogitar suspender a obrigatoriedade, mas voltou atrás com base em estudos científicos feitos pela Secretaria de Saúde do município.  

Também o governo estadual de São Paulo, cauteloso, resolveu manter a obrigatoriedade, acatando entendimento do Centro de Contingência do Coronavírus do estado, qual seja de que por ora seria prematuro flexibilizar o uso da máscara.  

No Rio – Seguindo em outra direção, o prefeito do Rio, Eduardo Paes – que desde o início de outubro já se posicionava como incentivador para derrubar a obrigatoriedade da máscara em ambientes abertos – publicou decreto na quarta-feira passada (27), que flexibilizou o uso do equipamento de proteção na cidade maravilhosa. 

Em live gravada no mesmo dia do decreto, disse Paes: “Se a gente sentir uma piorazinha que seja, a gente volta as regras”. E acrescentou o óbvio: “O decreto não obriga ninguém a não usar. Quem gosta e quer usar máscara, não há proibição”.   

Um dia antes (26/10), a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro havia aprovado projeto de lei que autorizava o estado fluminense e prefeituras a abolir o uso obrigatório, levando em conta o percentual de vacinados de cada cidade e avaliações técnicas das Secretarias de Saúde.  

Em Campos a obrigatoriedade permanece e, conforme nota divulgada pela Prefeitura, “não há previsão para liberação do uso da máscara em curto prazo”. 

“Exemplo” – Já publicado nesta página, sobre Eduardo Paes vale lamentar que em maio passado foi flagrado, sem máscara, cantando em roda de samba num bar da Rua Gomes Freire, no Centro do Rio. Pela infração foi multado em R$ 562,00 pela Secretaria de Ordem Pública. Logo, se já não usava máscara nem em ambiente fechado… Na ocasião o prefeito pagou a multa e se desculpou. 

Médicos citam países que flexibilizaram e tiveram que voltar atrás

Nos argumentos pela manutenção ou pela flexibilização, uma pergunta não cala: vale correr o risco, por menor que seja? Segundo os infectologistas, sanitaristas, virologistas, microbiologistas e demais especialistas, não vale.

A comunidade científica lembra que países como Israel e boa parte dos Estados Unidos, que flexibilizaram o uso da máscara, tiveram que retornar em virtude do aumento no número de casos. E expõem: não seria este um indicativo do que não se deve fazer. 

Explicam que o Coronavírus é oportunista, de alta transmissibilidade e que as frequentes mutações não permitem cravar que esteja vencido antes que a pandemia desapareça por completo. 

Esquema vacinal e advertência 

Em outra frente de alerta, os médicos-especialistas destacam que a chamada imunidade de rebanho, seja de 70%, 80% ou 90%, não há que ser invocada porque o Brasil só completou o esquema vacinal (duas doses ou dose única) em cerca de 55% da população. Logo, um percentual distante dos citados.  

Os profissionais da saúde chamam a atenção, também, para o fato de que se a terceira dose está sendo aplicada, é porque é necessária. Em sentido contrário, não teria essa dose-reforço. E como nem 4% da população tomou a terceira… o percentual fala por si mesmo.

Além disso, o frequente deslocamento das pessoas de um estado para outro – como no feriado prolongado de finados – impede que se afirme, com segurança, que X por cento da população de uma cidade esteja imune, face ao contato permanente com moradores de outras regiões. 

Enfim, torçamos para que – seja na adoção de medida mais ou menos cautelosa – o vírus vá embora.