Coordenador do Departamento Jurídico do Sindipetro-NF, Alessandro Trindade, utilizando a referida máscara
O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) acusa a Petrobras de censura após a companhia processar o Sindipetro pela distribuição de máscaras de prevenção à covid-19 com a logo da campanha “Privatizar faz mal ao Brasil” aos funcionários. Segundo a Petrobras, o Sindicato estaria enganando os trabalhadores, fazendo-os acreditar que as máscaras são da companhia. Já o sindicato alega que isso não seria possível, uma vez que o material de proteção tem a cor laranja, que caracteriza os materiais do Sindipetro. A referida campanha existe há 20 anos.
O juízo da Vara Cível da Comarca de Macaé concedeu à Petrobrás uma “tutela provisória de urgência”, determinando que o Sindipetro-NF “se abstenha de utilizar a marca Petrobras em qualquer material de comunicação, seja ele físico ou digital, bem como se abstenha de distribuir máscara de proteção com a referida marca, produzida por si ou terceiros, sob pena de multa equivalente a R$ 500,00 (quinhentos reais) por cada descumprimento”.
Contudo, segundo o Sindipetro, a logo utilizada é a da campanha “Privatizar Faz Mal ao Brasil”, que foi criada pelo Sindipetro-RS, e não a logo da Petrobras.
Logo da Petrobras e logo da campanha do Sindipetro
“Além de censurar uma campanha que existe há 20 anos, a Petrobras consegue com esta ação, ao menos provisoriamente, impedir a distribuição de máscaras de ótima qualidade — como já demonstrado pelo sindicato, muito melhor do que as distribuídas pela própria empresa —, em meio a uma pandemia. Isso diz muito sobre as prioridades da gestão bolsonarista da empresa — que na própria petição mostrou-se mais preocupada com a campanha “política ideológica” do que com a saúde dos trabalhadores”, informou o Sindipetro-NF em nota.
O Sindicato ainda declarou que seu departamento Jurídico está preparando a defesa da entidade “contra mais este ato antissindical da gestão da companhia”. A entidade também afirmou que “não se curvará à censura”.
“Não vamos acatar. Entendemos que atual gestão está pouco se lixando para a saúde e vida do trabalhador. Chamamos várias reuniões de negociação para discutir a covid-19 e a empresa ignorou. Nossa obrigação é proteger os petroleiros, tantos os próprios, quanto os terceirizados”, explicou o coordenador do Departamento Jurídico do Sindipetro-NF, Alessandro Trindade.
A reportagem do Jornal Terceira Via entrou em contato por e-mail com a assessoria de imprensa da Petrobras, mas não obteve resposta até o momento.
Atividade de rua durante a Feira do Livro de Porto Alegre, em 2001. De pé, ao lado do boneco “Sau, o dinossauro”, está o criador da marca, o então diretor do Sindipetro-RS, Gerson Luís Pereira Pires
Marca é usada há 20 anos
A logo da campanha “Privatizar Faz Mal ao Brasil” foi criada no final do ano 2000, pelo diretor do Sindipetro-RS, Gerson Luís Pereira Pires, em campanha contra a venda de 30% da REFAP (Refinaria Alberto Pasqualini) para a petroleira hispano-argentina REPSOL-YPF. A aceitação foi tão grande que a marca passou a estampar campanhas contra privatizações por todo o País.
Em 2017, a campanha foi retomada, com a mesma logo, como reação a uma nova onda de privatizações de ativos da Petrobrás. Desde então tem sido utilizada mais uma vez em diversas atividades sindicais da FUP e dos sindipetros.
“Uma busca no google por “Privatizar faz mal ao Brasil” apresenta, em apenas 0,36 segundos, a ocorrência de 9070 utilizações em milhares de circunstâncias, formatos e épocas diferentes. Isso mostra que, ao contrário do que disse a Petrobrás, a campanha é ampla e longeva, e não uma tentativa localizada do NF em Macaé de confundir os trabalhadores por meio da citação gráfica da marca Petrobrás numa máscara”, concluiu o Sindipetro-NF.