No mês em que se lembra do Dia Mundial de Combate ao Câncer é preciso citar os tumores de pulmão, que são os mais comuns no mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de um milhão e setecentos mil novos casos são diagnosticados anualmente. No Brasil, estimativas apontam que o câncer de pulmão é o segundo mais incidente nos homens e o quarto mais frequente nas mulheres. Apesar das informações alarmantes, trata-se de uma doença potencialmente evitável e a tecnologia têm ainda contribuído em uma melhor recuperação dos pacientes, além de aumentar as chances de cura.
O cirurgião torácico, Ivan Azevedo, explica que apesar de ser uma doença grave e silenciosa, atualmente, os pacientes com câncer de pulmão têm muitos recursos para tratamento. Pessoas tabagistas ou que estão expostas a determinadas substâncias químicas, como o asbesto, um pó que resulta da produção de telhas, podem desenvolver um tumor no pulmão. “Apesar destas razões, os estudos mais recentes mostram que o que causa mesmo o câncer de pulmão são os fatores genéticos e é por isso que os estudos da oncologia estão todos voltados para a oncologia molecular, que nós chamamos de estudo genético dos tumores de pulmão.
Existem pacientes que nunca fumaram e desenvolvem essa doença, como há casos de pessoas que fumaram a vida inteira, mas não tiveram câncer. O ponto primordial para o surgimento do câncer de pulmão é o fator genético. O cigarro é um gatilho, mas abandonar esse vício é também a principal forma de evitar o tumor. Em relação ao tabagismo, imagina-se que os homens fumem mais e assim há o surgimento da doença, mas o câncer de pulmão tem a mesma incidência tanto na mulher, quanto no homem. Ainda asssim, as alterações genéticas ocorrem mais na população feminina, logo, é muito mais comum aparecer mulheres com câncer de pulmão que não são fumantes”, ressalta.
O especialista ainda comenta que a doença surge geralmente entre a 5ª e a 6ª década de vida. Os sintomas aparecem em um estágio já avançado, como tosse, falta de ar, chiado no pulmão, presença de sangue no escarro, dor no peito, entre outros. A prevenção pode ser a partir de exames regulares, que fazem o rastreio da doença.
“A recomendação é que pessoas tabagistas acima dos 45 anos façam uma tomografia anual de baixa dose. Esse é o protocolo hoje estabelecido pelas sociedades de radiologia e de cirurgia torácica. Um procedimento com uma dose de radiação menor, permitindo assim que a pessoa identifique o nódulo em uma fase mais inicial. 20% dos pacientes que chegam ao consultório com câncer de pulmão correspondem a parcela dos pacientes que vai ser possível fazer uma cirurgia. Os outros 80% já têm a doença avançada. Esse tipo de paciente terá que passar por quimioterapia e conviver com aquela doença, podendo responder bem ao tratamento”, revela.
Tecnologia no tratamento do câncer de pulmão
De acordo com o médico, a oncologia torá- cica está entre os setores que chamam mais a atenção dentro da oncologia, devido ao Saúde Avanço da tecnologia garante melhor recuperação dos pacientes e aumenta chances de cura, garante especialista Ivan Azevedo cirurgião torácico do Hospital Dr. Beda e o avanço do tratamento do câncer de pulmão Fatores de ordem genética são responsáveis por muitos dos casos de câncer no pulmão Cigarro continua sendo uma das maiores causa da incidência de câncer de pulmão no mundo Novos tratamentos do câncer de pulmão PÁGINA 09 15 A 21 DE ABRIL DE 2018 avanço em pesquisas relacionadas a oncologia molecular, que estudam as alterações genéticas do tumor.
“Para se ter uma ideia, hoje existem remédios para serem utilizados no tratamento. São medicamentos orais e o paciente toma um comprimido que vai tratar só o tumor. Esse método já é adotado no Instituto Nacional de Câncer (INCA), em São Paulo, e também aqui em Campos, no Hospital Dr. Beda. A equipe de oncologia já faz esse procedimento. Os exames que detectam o tumor ainda não são feitos na cidade, mas depois que o paciente é diagnosticado com aquela alteração, ele consegue ser tratado aqui, sem muitos efeitos colaterais. A terapia oral diminui bastante esses efeitos. A duração do tratamento vai depender do tipo de tumor, assim como na quimioterapia”, frisa.
Evolução da cirurgia torácica
Ivan Azevedo ainda esclarece que atualmente a cirurgia ainda preconizada para tratamento de pulmão é a lobectomia, que é a ressecção do lobo pulmonar, onde está o tumor. No pré- -operatório, a partir do diagnóstico feito por exames, como tomografia, e da suspeita de câncer de pulmão, diante dos sintomas, inicia-se o estadiamento oncológico.
“Essa fase é necessária para saber se aquele tumor está só no pulmão. É isso que vai indicar a cirurgia daquele paciente. Um nódulo único, isolado, pode ser operado. No estadiamento, a gente faz uma tomografia do crânio, uma do tórax e outro do abdômen para saber se o tumor é localizado ou não. Na sequência, é necessário realizar uma prova de função pulmonar, que se chama espirometria, um exame onde a capacidade de ventilação do paciente é aferida. Então, consegue se ter uma noção se o paciente vai ter falta de ar ou não no pós-operatório. Pacientes com classe funcional ruim, como os enfisematosos muito graves, não permitem uma ressecção de pulmão, porque quando se elimina o tumor, não se retira só ele, mas também o pulmão que está em volta dele. Muitas vezes isso pode fazer falta para o indivíduo, fazendo com que ele dependa de oxigênio. Portanto, nesses casos não se pode fazer a cirurgia e sim a quimioterapia e radioterapia exclusiva. Além disso, deve-se fazer uma avaliação funcional cardiológica, com ecocardiograma, para saber se o coração vai suportar a anestesia e a realização do procedimento em si, porque a cirurgia de pulmão é feita com uma ventilação monopulmonar, durante o processo um pulmão é isolado, fazendo com que o paciente fique respirando pelo outro pulmão e o coração esteja batendo”, complementa.
Pós-operatório
A tecnologia ainda ajuda no pós-operató- rio da cirurgia. A recuperação do paciente melhorou bastante, segundo o especialista. Campos possui um serviço de vídeo cirurgia torácica. Esse modelo otimizou o tempo de internação do paciente e é menos agressiva. “Nós implantamos esse serviço aqui, sendo um procedimento que eu realizo em larga escala. Trata-se de cirurgia minimamente invasiva. Há dez anos, o paciente para tratar o câncer de pulmão precisava de uma grande incisão torácica chamada toracotomia. O tempo de internação para esses pacientes era em torno de 5 a 7 dias, ficando pelo menos dois dias no CTI. Hoje, a gente consegue fazer cirurgia por vídeo, por pequenos furos, e o paciente fica internado de 24 a 48 horas no hospital, não precisando mais ir ao CTI. A mortalidade também foi um fator que diminuiu muito com o avanço tecnológico. Com a vídeo cirurgia torácica, o tempo de internação reduziu drasticamente e isso está diretamente ligado a mortalidade, pois o paciente internado está sujeito a uma infecção hospitalar, ele fica mais distante da família e tem mais risco de fazer o que chamamos de “delírio intra-hospitalar”, onde não se sabe se está de dia ou de noite e isso é muito ruim, principalmente para o idoso. Logo, é um procedimento que tem uma agressão cirúrgica menor e deflagra uma resposta inflamatória menor. Há diminuição da dor, dos riscos de infecção e da quantidade de medicamentos. É importante lembrar que as chances do câncer de pulmão podem voltar a acontecer e giram em torno de 17 a 20%. Dependendo do tipo de tumor, esse índice pode aumentar ou diminuir. Quem tem câncer uma vez, possui mais chances de desenvolver um novo tumor do que uma pessoa que nunca teve a doença”, pontua.