Há oito anos ela viu aquilo que viria ser o estopim da transformação social naquele lugar começar do zero: em 2009 a antiga “Favela do Tamarindo” tornou-se um polo de solidariedade, cuidado, ensino, aprendizagem, promoção de saúde e desenvolvimento da autonomia daquela população que vive ali. Como isso aconteceu? Com a iniciativa de quem tinha os recursos e a vontade de promover o bem.
O Projeto Universidade Bairro, do Instituto Superior de Ensino do Centro Educação Nossa Senhora Auxiliadora (Isecensa), começou com a intenção de unir a teoria, apresentada aos estudantes no interior das salas de aula, com a prática, vivenciada corpo-a-corpo, extramuros, de forma a conhecer problemas reais e encontrar soluções possíveis. A idealizadora, Beth Landim, tinha um desafio: instruir os alunos e, ao mesmo tempo, proporcionar melhor qualidade de vida para os moradores da Vila Tamarindo. Tarefa árdua que, para alegria dos envolvidos, já apresenta bons resultados.
O trabalho começou com um mapeamento e censo demográfico que apontou as necessidades no que se refere à educação e à saúde coletiva. Recentemente, o diagnóstico situacional foi refeito e o que se pode constatar foi que, embora essa seja uma medida de efeitos a longo prazo, nove anos já foram o suficiente para colher os frutos. O índice de evasão e reprovação escolar reduziu consideravelmente; enfermidades como verminose e pediculose, que eram muito comuns entre as crianças, foram controladas; e dois moradores da Vila Tamarindo já têm ensino superior completo e muitos outros caminham para o mesmo futuro. “É gratificante perceber que esse trabalho de formiguinha faz a diferença na vida de tantas pessoas, tanto dos estudantes e professores, quanto da população da Tamarindo. Aliás, esse é o papel da universidade: estabelecer o diálogo com a comunidade e aplicar ali os conhecimentos obtidos na academia. De que vale saber se esse conhecimento não promove a transformação social? É indescritível a emoção de estarmos ajudando a construir e escrever a história junto com os moradores da Vila Tamarindo. Cada conquista tem o suor de cada profissional e morador daquele lugar”, declarou Beth.
Universidade Bairro
O projeto foi iniciado em 2009, com o curso de Administração, em que alunos e professores foram os responsáveis por levantar o censo socioeconômico e demográfico e fazer o diagnóstico situacional da comunidade. Assim foi possível conhecer cada família e as respectivas demandas. Atualmente, o Isecensa está presente com todos os cursos — Pedagogia; Fisioterapia; Educação Física; Engenharia Mecânica, Civil e de Produção; Arquitetura; Administração e Enfermagem — e todos os estudantes matriculados na instituição atuam na Vila Tamarindo.
Coordenados por professores, esses alunos dão suporte diário e semanal, seja com aulas de reforço escolar; atividades lúdicas e educativas; campanhas de conscientização e orientação quanto à higiene pessoal, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência, etc; atendimento de fisioterapia e psicologia; encaminhamento médico; cadastro d cheap Lasix
Na sede do projeto foi montado um acervo na biblioteca com mais de 400 títulos de livros e 200 revistas de educação para pesquisa, contação de histórias e trabalhos pedagógicos com as crianças; um consultório para realizar atendimento de fisioterapia, psicologia e enfermagem; e um centro com cinco computadores com acesso à internet e softwares educacionais.
nolvadex without prescription buy Antabuse Fábrica de Vassouras Dentro da Vila Tamarindo
Existe ainda uma Fábrica de Vassouras, inaugurada em agosto de 2013 e administrada pelo curso de Engenharia de Produção, onde mulheres da Vila confeccionam vassouras ecológicas com garrafas pet. Essa iniciativa foi premiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) em 2012 e pelo Banco Santander, como Universidade Solidária, em 2011.
Todo recurso obtido com a venda das vassouras é destinado à própria comunidade e, hoje, duas moradoras já estão cadastradas como Microempreendedoras Individuais. “A Fábrica de Vassouras define todas as vertentes do projeto Universidade Bairro: responsabilidade social, com a capacitação dos moradores para geração de renda; consciência ambiental, reciclando o que seria lixo, e, ainda, o desenvolvimento científico dos nossos alunos, na pesquisa e implantação dos projetos”, avaliou Beth Landim.
Segundo a coordenadora do curso de Enfermagem, Aline Marques, a ideia da Universidade Bairro é fazer ações voltadas para todos os ciclos de vida — desde o pré-natal até a qualidade de vida dos idosos. “Sabemos que os moradores de comunidades têm dificuldade de acesso aos serviços públicos e uma das nossas prioridades e fazer essa ponte, introduzindo estratégias para que eles tenham as mesmas condições de quaisquer pessoas. Esse é um trabalho difícil, como todos desse porte são, então, a nossa missão é estabelecer um vínculo de confiança com a população e contribuir para que eles tenham autonomia”, afirmou.
A professora da disciplina de Psicologia da Enfermagem, Vanessa Pio Bertoza, comentou sobre as barreiras que precisaram ser quebradas nesse processo. “Ensinamos na sala de aula sobre a importância de promover a integralidade em saúde coletiva, pensar criticamente, alias teoria à prática. No entanto, a verdade é que os estudos dão base, mas somente a prática é capaz de tornar o aluno e o profissional agentes de mudança. Porque é ali que estão os problemas de fato e, como se trata da vida real, é preciso encontrar soluções.
Essa é uma oportunidade que os alunos têm de refletir sobre o papel deles na sociedade”, destacou. Para a estudante do 6º período de Enfermagem, Danielle Menezes, de 22 anos, a experiência mudou a forma de encarar a profissão e a realidade a sua volta. “Não dá para ficar alheio ao que acontece dentro da comunidade porque nós já fazemos parte dela. Esse projeto é tão importante para a minha formação profissional e cidadã que o meu Trabalho de Conclusão de Curso é sobre as estratégias de intervenção na Tamarindo. Eu não consigo imaginar como seria me formar enfermeira esse contato que tenho hoje”, concluiu.
Desde a década de 1950 a Favela do Tamarindo, como era conhecida, já contava com alguns moradores e, por isso, é considerada a mais antiga do município de Campos. Situada na Rua Tenente Cel. Cardoso (Rua Formosa), nº 890, no bairro central da cidade, a Tamarindo possui, atualmente, 52 casas e 254 moradores. Por ter um contingente populacional e número de domicílios inferior à classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a denominação “favela” não pode ser aplicada, sendo chamada a partir de 1991 de “Vila Tamarindo”.
Embora seja a única comunidade de Campos beneficiada por esse trabalho social, essas atividades não impediram a atuação do tráfico de drogas ali, que ainda é forte. De acordo com a aposentada Geciléia Ricardo da Silva, de 76 anos, ainda há muito a ser feito para que a Vila Tamarindo se torne o lugar que a população sonha, mas parte do caminho já foi percorrido. “Seguir sozinhos é difícil, mas com apoio, carinho e amor, a gente consegue chegar lá. E isso nós já temos”, concluiu.