Obviamente teve que tomar uma atitude, como por exemplo, admitir que a universidade estava andando aos suspiros, quase sem oxigênio, um verdadeiro sufoco. Mais do que uma respiração boca a boca, a Uenf precisava colocar a boca no mundo para que todos tivessem vergonha do estado em que se encontra aquela que já foi um orgulho não só de Campos, mas de toda região e também do Estado.
A Universidade Estadual do Norte Fluminense continua no sufoco ? Continua. Os salários continuam atrasados e continuamos sem qualquer verba de manutenção. Um único pagamento foi feito para a empresa terceirizada de limpeza em fevereiro, desde então mais nada. Nenhuma perspectiva clara de estabelecer uma rotina de pagamentos, muito menos de acerto dos atrasados.
Qual é o valor da dívida com os fornecedores? acquire nolvadex
Está próxima dos R$20 milhões, apenas com fornecedores. Poderia ser maior, mas muitos contratos licitados não estão sendo cumpridos, devido à falta de pagamentos, os fornecedores não estão mais fornecendo. Então esses 20 milhões são basicamente do contrato de limpeza, jardinagem e concessionárias, água, luz, telefone, combustível…
Tem também a dívida com o servidor, o décimo terceiro de 2016 e o salário de abril que ainda não foi pago.
A posição da Uenf, que era um grande destaque, caiu muito. Como está isso?
Ainda não, mas já há sinais. Chegamos a ocupar a posição de melhor do Estado na avaliação do Mec, e décima primeira do Brasil. Hoje somos a segunda no estado e décima terceira no Brasil. Não é caso para desespero, mas um sinal de alerta.
Por outro lado, recebemos este ano o Premio Destaque da Iniciação Científica, do CNPq, o que sugere que ainda estamos entre as melhores também na pesquisa.
A preocupação é que as restrições que sofremos hoje vão repercutir no futuro, as pesquisas, por exemplo, ainda se beneficiam de projetos de 2014. Mas a Faperj não pagou nenhum novo projeto nem em 2015 nem em 2016, então esses recursos começam a faltar e a ameaçar muitas atividades que permaneceram razoavelmente bem devido aos recursos dos projetos de pesquisa.
Sabemos que todos foram, mas algum curso específico foi bastante prejudicado?
Dois cursos muito impactados foram os de Medicina Veterinária e zootecnia, pois a ração para o plantel de animais dos cursos era mantida com recursos orçamentários, que não existem mais desde outubro de 2015. Cursos que tem muitas aulas práticas, como o de Química, também sofrem grande pressão pela impossibilidade de repor reagentes. Mais uma vez, a situação só não é catastrófica devido aos recursos de projetos, que também começam a falhar, indicando dificuldades ainda piores no curto prazo.
O senhor acha que a crise aproximou mais a Uenf da sociedade regional?
Acho que a grave crise ajudou a criar a consciência da importância da Uenf para a cidade e região e fomentou a solidariedade para conosco. Mas a maior aproximação com a sociedade está muito relacionada com a mudança de gestão na Uenf, fez parte das nossas propostas e está sendo implementada. A Villa Maria, por exemplo, um importante pilar na interlocução com a sociedade, estava há 8 anos sem um diretor. Indicamos a professora Simonne para o cargo que está fazendo um ótimo trabalho e dinamizando as atividades da Villa e a aproximação com vários setores da comunidade.
O senhor teme que a Uenf acabe entrando em um processo como o da Uerj?
Já entrou. Igual, se não for pior. Pode parecer que não pois tivemos melhor sorte para manter as condições mínimas e pudemos começar o semestre, enquanto a Uerj não. Mas a crise é a mesma, estamos no mesmo barco, enfrentando as mesmas dificuldades e passando pelas mesmas incertezas.
Mesmo que o governo do estado pague tudo, e não atrase mais, quanto tempo para uma recuperação plena?
Para as atividades finalísticas, de ensino, pesquisa e extensão, a recuperação é imediata. Ainda reunimos todas as condições e continuamos a realizar estas atividades com muita qualidade, apesar das dificuldades. O problema será recuperar a confiança dos fornecedores, poder voltar a comprar e obter boas ofertas nos pregões e licitações.
É verdade que alguns alunos e até mesmo professores de outras partes do país desistiram e foram embora?
Nós tivemos uma evasão (de estudantes) um pouco acima do normal em 2016, avaliamos que foi devido ao atraso no início do primeiro semestre de 2016, por isso, realizamos um grande esforço para iniciar o ano em março, trazendo os calouros e realizando o primeiro semestre de 2017 junto com a reposição das aulas do segundo semestre de 2016. Foi um grande esforço que deu resultado, a evasão diminuiu este ano.
Com relação aos Docentes, o maior problema é que os concursos de reposição de vagas não estão tendo andamento, as publicações no Doerj não estão sendo feitas, e os concursos não se desenvolvem. Com relação ao pessoal administrativo, sempre foi muito difícil conseguir fazer concursos, mesmo para reposição de vagas, agora então está impossível.
Então, o problema não é a saída, o contingente que deixa a Uenf está dentro do histórico, e a maioria é por aposentadoria, o problema é que não estamos conseguindo repor as vagas.
buy Antabuse online Hoje, quanto alunos e professores a Uenf tem?
Em números redondos, são 300 docentes, 600 técnicos e 6000 estudantes, entre graduação e pós.
Algum curso anteriormente planejado deixou de ser implantado por causa da crise? generic lioresal
Temos cursos prontos, aprovados pelo Conselho Universitário, com plano pedagógico, matriz curricular, programa de disciplinas, tudo pronto, aguardando condições de iniciar. Entre eles, Filosofia, Engenharia de Alimentos e Meteorologia.
Que futuro o senhor vislumbra para a Uenf?
Meio difícil falar em futuro nesse momento. Mas o cenário se mostra preocupante, não só para a Uenf. O futuro da universidade não será diferente do futuro do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil, e o preocupante é que vemos descarrilhar tudo. A famigerada Pec do teto de gastos, congelou os investimentos em saúde e educação, mas não o pagamento de juros e serviços da dívida. O estado brasileiro está refém do mercado financeiro e todas as ações estão sendo tomadas em benefício do capital financeiro e contra o povo. Isso vai gerar concentração ainda mais brutal de renda, com enfraquecimento do próprio mercado consumidor, e do estado, que se verá sem condições de coordenar uma saída para as crises econômica, política e social.
O senhor gostaria de desabafar, falar alguma coisa buscando a solução do problema e para que isso não se repita?
A solução do problema da Uenf passa pela solução para o Brasil. Estamos assistindo à implementação de um projeto que não tem respaldo do voto. O que estão fazendo é impor a agenda ideológica neoliberal do estado mínimo, um verdadeiro “salve-se quem puder” que vai piorar ainda mais nossas condições sociais e implantar o “capitalismo selvagem” do século XIX. Precisamos rever esta trajetória.
O “mercado”, por si, não traz justiça social, pelo contrário, leva a concentração cada vez maior da riqueza, que acaba por solapar a própria meritocracia, pilar de sustentação da sociedade moderna.
Então temos que recuperar a capacidade do estado de agir como regulador do mercado, impondo regras e limites que impeçam a acumulação infinita. Regras e limites que fizeram toda a diferença após as duas grandes guerras e foram responsáveis pelos anos de forte desenvolvimento econô- mico e bem estar social nos países centrais.
No centro de tudo uma reforma tributária, que melhore nosso sistema tributário, tornando-o mais justo e ao mesmo tempo mais fácil de fiscalizar e evitar fraudes e sonegações. Uma reforma tributária que crie um sistema tributário mais progressivo, que permita a distribuição de renda, e evite a guerra fiscal entre os Estados.
No caso específico da Uenf, precisamos de uma nova forma de financiamento. Que, na verdade, nem é tão nova assim. Precisamos tornar realidade a autonomia de execução financeira prevista na Constituição Federal, na LDB e na Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Em 1988 um decreto do Governador do Estado de São Paulo consignou uma porcentagem da arrecadação do estado para as universidades estaduais paulistas, repassados em duodécimos, com autonomia de gestão financeira. Em 1989, a Constituição do Estado do Rio de Janeiro previu o mesmo mecanismo, nunca colocado em prática. Esse é o caminho, a possibilidade de contar com algum recurso e a autoridade de executá-lo diretamente, porém, sem prejuízo da necessidade de aprovar o orçamento na Alerj, se submeter ao TCE e às leis que regram os gastos públicos.