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Tecnologia desenvolvida em Campos chegará ao espaço

Município também vai integrar rede nacional de rastreamento de satélites

Campos
Por Thiago Gomes
15 de dezembro de 2016 - 11h00

Campos sai na frente dos demais polos de tecnologia aeroespacial do país e vai ganhar em cerca de um mês a primeira Estação Terrestre de uma série de dez que formarão a Rede Integrada Brasileira de Rastreamento de Satélites (Ribras). A tecnologia do projeto é 100% campista, desenvolvida pelo Centro de Referência em Sistemas Embarcados e Aeroespaciais (CRSEA) do Instituto Federal Fluminense (IFF). Outro experimento desenvolvido pelo CRSEA, desta vez inédito no mundo, é um sistema que torna mais barata a comunicação espacial, que envolve a construção e operação do nanosatélite 14-BISat, que deve chegar ao espaço até o fim do ano. Mas os pesquisadores da cidade não pararam por aí. Eles ainda participam de uma missão internacional, com outros 33 países, que consiste no desenvolvimento de componentes e lançamento de 50 nanosatélites. As pesquisas vindas dos laboratórios do IFF podem ser o primeiro passo para consolidar Campos como referência no país em desenvolvimento de tecnologia aeroespacial.

O diretor do Polo de Inovação Campos do IFF e pesquisador do CRSEA, Rogério Atem, explica que a rede de estações terrestres, a missão internacional e o nanosatélite 14-BISat são projetos distintos, mas que se complementam. Os equipamentos terrestres servirão para coletar dados enviados pelos pequenos satélites experimentais. Eles serão embarcados na Holanda e lançados de Kourou, na Guiana Francesa.

Ainda segundo Rogério, os satélites da missão internacional QB50 têm o objetivo de estudar a baixa termosfera, parte da atmosfera ainda pouco conhecida, que fica entre 90 e 350 km de altitude. A QB50 conta com 34 países como Bélgica, China, Estados Unidos, Portugal e a representação brasileira ficou por conta de quatro professores e 15 alunos do IFF de Campos.

“Como o lançamento de satélite é uma coisa cara, a Estação Espacial Europeia (organização intergovernamental dedicada à exploração do espaço) combinou com os 34 países que participam da missão internacional que o lançamento será subsidiado por ela. Nós pagamos apenas 20 mil euros, que do ponto de vista da atividade aeroespacial é algo muito barato. No entanto, teremos que embarcar um experimento obrigatório, que será um projeto desenvolvido na Alemanha para fazer medição de oxigênio na baixa termosfera. Por outro lado, a gente ganhou o direito embarcar um experimento próprio, que é o 14-BISat”, esclareceu Atem.

Os 50 nanosatélites da QB50 tiveram componentes desenvolvidos pelos 34 países envolvidos missão. Eles pesam entre dois e quatro quilos e medem entre 10 e 30cm.

14-BISat

Paralela à missão internacional, Campos fará em parceria com Portugal um segundo experimento envolvendo dois nanosatélites: o campista 14-BISat, em homenagem a Santos Dumont, e o lusitano GAMASat, um tributo ao navegador e explorador português Vasco da Gama. O projeto vai permitir que transmissões de dados do espaço para a Terra e entre unidades no espaço sejam realizadas sem a necessidade uma infraestrutura de telecomunicações de alto custo, como acontece atualmente.

“O nosso experimento será uma espécie de internet espacial. Funciona da seguinte forma: o nosso satélite e o satélite de Portugal são os dois servidores ou provedores. Outros 19 nanosatélites seriam os ‘clientes’. O projeto existe para que os satélites ‘clientes’ se comuniquem entre si e os servidores se comuniquem com a Terra. Aqui embaixo nós temos facilidade de transmissão, mas lá em cima não. A transmissão do espaço para a Terra é muito cara, ela é limitada e lenta. Nosso projeto vai flexibilizar essa transmissão”, disse Atem.

Enquanto os satélites de grande porte desenvolvidos pelos Estados Unidos, Rússia e China, por exemplo, custam em torno de US$ 500 milhões, o 14-BISat demandou apenas R$ 1,5 milhão. O pesquisador lembra, no entanto, que o projeto campista não faz 100% das operações dos outros, mas o índice fica em cerca de 70% da capacidade de operação. “Comunicação entre satélites existe há décadas, mas, ao baixo custo, como estamos fazendo, não”, garantiu.

O 14-BISat e o GAMASat estão sendo desenvolvidos, desde 2012, em conjunto com a Universidade do Porto, em Portugal, a empresa portuguesa Tekever Aerospace, com o apoio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) do Ministério da Educação (MEC).

Estações Terrestres

As 10 estações terrestres de alta precisão desenvolvidas em Campos, também com orçamento de R$ 1,5 milhão, que irão compor a Rede Integrada Brasileira de Rastreamento de Satélites (Ribras), foram financiadas pela Agência Espacial Brasileira. O projeto começou a ser idealizado em 2013 e inclui a integração das estações e torres, bem como o desenvolvimento de softwares de tracking, automação e controle, além da orquestração otimizada da rede.

O Polo de Inovação Campos do IFF, que fica na localidade de Martins Lage, receberá a primeira estação, cuja torre está em faze final de montagem. Rogério Atem adianta que as outras unidades serão instaladas em locais como Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Instituto Federal da Bahia (IFBA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

“A primeira unidade deve começar a operar dentro de 30 dias. Como este é um trabalho relativamente lento, a previsão é de termos outras três ou quatro espalhadas pelo Brasil funcionando em 2017”, adiantou Rogério Atem.

Também de acordo com o diretor do Polo de Inovação, Campos já possui uma estação para rastrear satélites, também instalada em Martins Lage, que está em operação há cerca de um ano, mas que não fará parte do sistema Ribras. Por meio dela, os pesquisadores coletam informações meteorológicas.