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Justiça não definiu se guarda acusado de matar analista vai a Júri Popular

A fase de instrução e julgamento do processo terminou nesta terça. A partir de agora, defesa e acusação vão apresentar as alegações finais

Campos
Por Redação
24 de janeiro de 2017 - 15h24

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A última audiência de instrução e julgamento do Caso Patrícia Manhães aconteceu na tarde desta terça-feira (23), na 1º Vara Cível de Campos, no Fórum Maria Tereza Gusmão de Andrade. O crime que vitimou a analista judiciária no pátio da Guarda Ambiental, em Guarus, no dia 13 de abril de 2016, tem como único suspeito o marido da mulher, o guarda Uenderson de Souza Mattos. Na oitiva, foram ouvidos os três homens supostamente envolvidos no caso classificado como homicídio triplamente qualificado, além de uma testemunha de defesa.  Como já havia feito antes, Uenderson alegou inocência, mas antes disso, ele se confundiu com a pergunta do juiz Diego Manhães e chegou a se declarar culpado, mas voltou atrás em seguida. Agora, a próxima fase processual será de apreciação de requerimentos formulados pelo Ministério Público e pela defesa das partes. Posteriormente, será a vez das apreciações finais e, por fim, o juiz irá decidir se os três irão a Júri Popular ou se serão inocentados das acusações. Todos aguardam sentença na Casa de Custódia Dalton Crespo de Castro desde o dia 25 de maio do ano passado.

Somente Uenderson aceitou depor na audiência. O acusado de ser executor do crime, o pedreiro Jonathan Bernardo Lima, e o acusado de contratar o atirador, o também guarda Genessi José Maria Filho, usaram o direito constitucional de permanecer em silêncio. O primeiro tem duas passagens pela polícia por porte de arma e o segundo chegou a cumprir pena de seis anos por homicídio. Segundo a promotora do caso, Ludmila Rodrigues, existe um quarto elemento envolvido nesse processo, mas que, até o momento, ainda não foi identificado pela polícia.

Depoimento de Uenderson

O guarda municipal contou em detalhes a versão dele para o fato. Segundo Uenderson, na quinta-feira, dia 13 de abril de 2016, ele estava de férias e acordou com uma mensagem de Genessi pedindo R$ 150 para fazer algum tipo de manutenção em um carro, que não foi especificado. O marido de Patrícia teria, então, combinado de entregar a quantia nas mãos de Genessi ainda na manhã daquela quinta-feira, na BR-101 próximo à sede da Guarda Ambiental, onde o homem trabalhava porque Uenderson iria para um velório da irmã da sua cunhada em Travessão.

Ainda de acordo com o guarda, após o velório, por volta das 18h, ele e Patrícia teriam parado o carro, um Spin na cor preta, na sede da Guarda Ambiental, em Guarus, onde Uenderson iria mostrar uma “pipa de pescaria” a um colega de trabalho porque ambos iriam pescar no final de semana. Ele contou que queria mostrar a pipa por uma das janelas da Guarda para poupar tempo, mas não conseguiu falar com o colega por ali. Segundo Uenderson, ele deixou Patrícia no carro para entrar no órgão e foi nesse momento que o crime teria acontecido.

O guarda disse que levou, no máximo, 15 minutos dentro da sede da Guarda e que ouviu os disparos de lá de dentro. Ele teria corrido para socorrer a mulher, mas a encontrou com a cabeça caída no painel do veículo e o celular dela estava aceso. O juiz questionou se Uenderson sabia que a área era considerada perigosa, mas ele alegou que não tinha esse conhecimento e que, inclusive, chegou a dormir no carro quando trabalhou ali.

Uenderson acrescentou que havia R$ 1.500 dentro do carro, valor esse que seria utilizado para quitar o IPVA no dia seguinte ao crime. Ele disse que os supostos assassinos teriam levado o dinheiro antes de atirar contra Patrícia. A promotora do caso, Ludmila Rodrigues, perguntou se ele tinha o costume de deixar uma grande quantidade de dinheiro dentro do carro e ele negou que R$ 1.500 fosse uma alta quantia.

A promotora também perguntou o motivo de Uenderson não ter convidado a esposa para entrar na sede da Guarda e ele respondeu que “ele respeitava o trabalho dela e ela respeitava o trabalho dele”. Ela questionou ainda de onde e há quanto tempo ele conhecia Genessi e o guarda disse que “se conheceram na Guarda há mais de 10 anos” mas que “não eram amigos próximos”; quanto à Jonathan, ele afirmou nunca ter visto.

Quando foi questionado se sabia que Genessi já havia cometido um assassinato no passado, Uenderson confessou “ter ouvido falar”, mas que não sabia detalhes. A promotora disse que constava nos autos do processo que Uenderson teria telefonado para Genessi pedindo para que ele “fizesse um serviço”. Sobre o assunto, o guarda contou que uma pessoa teria o desacatado e o ameaçado quando ele estava fardado e que “ficou com raiva”. Ele também acrescentou que se envolveu com uma mulher casada e tinha medo de o marido “fazer algo contra ele”. A promotora perguntou se ele tinha intenção de cometer um assassinato e ele alegou que “só procurou saber o que poderia ser feito para se defender, mas que a raiva passou” e que Genessi teria dito apenas que “aquilo fazia parte do passado”.

Patrícia Manhães foi morta a tiros na sede da GCM no Ceasa (Foto: Reprodução)

Patrícia Manhães foi morta a tiros na sede da GCM no Ceasa (Foto: Reprodução)

Sobre os dois filhos do casal, de 8 e 4 anos, Uenderson afirmou que tem uma “ótima relação” com ambos. Ludmila falou que a empregada doméstica que trabalhava na residência dos dois disse em depoimento que, após a morte de Patrícia, as crianças estavam em “situação de penúria alimentar” e que, antes do crime, o guarda já teria trancado o filho mais novo dentro do carro. Nesse momento, Uenderson chorou e disse que o que a mulher disse era “um absurdo”. Segundo o guarda, as crianças “sempre foram bem tratadas” e que, depois da morte da mãe, era ele quem “providenciava tudo dentro de casa”. Quanto ao relacionamento com Patrícia, o guarda se limitou a dizer que era “bom”, que se envolveu com outra mulher porque “não conhecia a palavra de Deus” e que “nunca fez ignorância com ela”.

Ainda de acordo com a promotora, a empregada doméstica teria contado que, depois da morte da esposa, ele teria utilizado o telefone dela e de outros conhecidos para efetuar ligações. A justificativa do guarda foi de que o delegado teria “vasculhado” o telefone dele e que usou outros aparelhos porque tinha medo de descobrirem o seu caso extraconjugal. Questionado se Patrícia poderia ter inimigos ou até mesmo um amante, Uenderson disse que “a princípio não” e que “confiava na esposa”.

Uenderson pediu ao juiz para que pudesse falar sobre a busca e apreensão, que ocorreu logo após o crime, nos dois imóveis e no carro da família. De

Busca e apreensão no apartamento do casal (Foto: Silvana Rust)

Busca e apreensão no apartamento do casal (Foto: Silvana Rust)

acordo com ele, o delegado encontrou a quantia de R$ 11 mil dentro do cofre localizado no apartamento em que Uenderson morava com Patrícia e os filhos. Esse dinheiro seria oriundo das economias de ambos para, no futuro, comprarem um novo carro. O guarda disse que o delegado duvidou da origem da quantia e que “prometeu acabar com a vida dele”.

Pedido negado

Logo após o depoimento, o advogado de Uenderson, Aurélio Raposo, entrou com um pedido de liberdade provisória para o cliente, mas a solicitação foi negada pelo juiz. De acordo com o advogado, “nada foi provado até o momento” e, desse modo, caso seja deferida a sentença de pronúncia (tornar admissível a denúncia), ele irá recorrer a decisão e solicitar ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que o Júri Popular aconteça em outro município. “Esse é um caso que teve muito clamor público e eu sei que, se o meu cliente for para o Júri Popular em Campos, ele não terá chance de liberdade. Então, a Defesa tem o dever de entrar com o pedido de ‘desaforo’ (julgamento em outro município)”, concluiu.

Testemunha

Na última audiência do caso, somente uma testemunha foi ouvida. A mulher disse ser vizinha de Jonathan, suspeito de ser o executor do crime, e que ele era um “homem trabalhador”. Ela afirmou que ele estava na “rua de casa” pela manhã e permaneceu lá até às 17h, quando ela retornou do trabalho. Após esse horário, ela disse não ter visto Jonathan.

Processo

De acordo com a promotora do caso, Ludmila Rodrigues, a próxima fase processual será de apreciação de requerimentos formulados pelo Ministério Público e pela defesa das partes. Em seguida é a vez das alegações finais e, por fim, a sentença do juiz. Caso o juiz decida pela “pronúncia” (tornar admissível a denúncia), Uenderson, Jonathan e Genessi devem ser julgados pelo Júri Popular.

“Normalmente, são cinco dias de prazo para as alegações finais e outros 10 dias para proferir a sentença, mas, por ser um caso complexo, não descarto a possibilidade desses prazos serem prorrogados”, analisou a promotora.