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Os 100 anos de O Globo

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
28 de julho de 2025 - 17h31

No final dos anos 1800, com apenas 15 anos, um jovem chamado Irineu Marinho deu os primeiros passos no mundo da imprensa, indo estagiar no prestigiado jornal carioca O Diário de Notícias. A vocação descortinou-se às entranhas, visto que de família abastada, não precisava cuidar de assuntos de trabalho.

Dois anos depois, ingressara como revisor num dos principais jornais do Brasil, o também carioca A Gazeta de Notícias. Despontava-se, ali, o jornalista que após destacada passagem por outros veículos, fundara, aos 35 anos, A Noite.

Lançada em 1911, foi o vespertino de maior popularidade do Rio de Janeiro. O jornal chegava às bancas por volta das 19 horas, trazendo as principais notícias do dia, com tiragens superiores a 200 mil exemplares.

Decorridos pouco mais de 10 anos, Irineu viajou para a Europa em busca de equipamentos gráficos mais modernos para A Noite. Ocorreu que durante sua ausência, manobras de outros sócios alteraram o estatuto da sociedade, retirando Irineu do controle acionário do jornal. Supostamente, o jornalista fora vítima da própria ingenuidade.

O infortúnio, contudo, abriu a porta para o império dos Marinho na mídia brasileira.

Em 29 de julho de 1925 Irineu Marinho, acompanhado por mais de 30 jornalistas que escolhera a dedo, fundaria O Globo – nome escolhido através de um concurso popular.  Contudo, 23 dias após o lançamento do jornal, a fatalidade: aos 49 anos, Irineu – que se recuperava de uma pneumonia – morre de infarte.

Seu filho mais velho, Roberto Marinho, então com 21 anos, embora relutante, assume o lugar do pai. Contudo, propõe que Euricles de Matos, fundador do jornal e grande amigo de Irineu, permanecesse à frente de O Globo como diretor e redator-chefe. Só em 1931, com sua morte, Roberto assume, na prática, o comando do jornal. Tinha, então, 26 anos.

O leitor talvez estranhe que por ocasião do centenário de O Globo – sendo fruto de quase 8 décadas de trabalho de Roberto Marinho e, a partir de certo momento, com a participação de seus 4 filhos – esteja este texto dedicando maior espaço a Irineu.

Mas acontece que assim quis o doutor Roberto – como era chamado – que em sua longa trajetória sempre apontou o pai como precursor, idealizador e cujos sonhos e projetos que tinha em mente foram a ele passados.

Mantendo o nome ‘Irineu Marinho’ na capa como fundador, não há dúvida de que Roberto creditara ao pai o pilar central cujo passar dos anos fizeram erguer as Organizações Globo – hoje Grupo Globo – o maior conglomerado de comunicação do Brasil.

Nada se deu ao acaso. Nas primeiras décadas, O Globo teve que disputar com jornais tradicionais como o Correio da Manhã, O Diário Carioca, A Gazeta de Notícias, o Jornal do Brasil, etc.

Ano após ano foi avançando até superar todos no Rio, revezando com o Estadão e a Folha de São Paulo a dianteira da mídia impressa brasileira. Como pedra angular, deu origem a dezenas de outras empresas – a grande maioria na área de comunicação – com destaque para a Rádio Globo, a TV Globo e suas afiliadas, sistema Globo de Rádio, Editora Globo, Portal G1, Globoplay, canais de TV por assinatura, Valor Econômico, Extra, revistas e grande acervo ligado à difícil atividade de fazer Comunicação. 

As dificuldades aconteceram, mas os avanços não pararam. Ao chegar a mídia digital, O Globo novamente deu um gigantesco passo, da mesma forma que o faria em sua estrutura física, equipamentos, etc.

Nas celebrações iniciadas em 6 de junho, o Grupo Globo promove campanha que percorre a história do jornal e seus associados, dando ênfase à tradição, bem como à trajetória inovadora. Divulga a abertura de novas frentes, o jornalismo do futuro e os investimentos tecnológicos que vão do jornal físico às demais empresas do Grupo.

O jornalista Roberto Marinho morreu em 6 de agosto de 2003. Deixou como legado a semente que plantou, viu florescer, consolidou e estabeleceu como lema o olhar no futuro. É a realização do passado, a tradição do hoje e a experiência que embasa os novos anos que virão.