Edson Cordeiro e Ocinei Trindade – O inusitado caso do furto de cabos de energia na pista do Aeroporto Bartolomeu Lisandro, em Campos, no último final de semana, impedindo sua utilização por artistas em trânsito pela região, chamou a atenção para uma questão antiga: a necessidade de reestruturação e modernização do local. O incidente deixou por um tempo a pista às escuras, não permitindo que o DJ Pedro Sampaio usasse o aeroporto em sua logística em direção ao interior de Minas Gerais, onde realizou apresentação. Já o DJ Alok, que também não utilizou o aeroporto como estava programado, alegou como causa o “mau tempo”. Passageiros e setores da sociedade, como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), pedem melhorias e avanços nas obras prometidas no primeiro contrato de concessão do aeroporto a uma empresa privada, quase quatro anos após o início da nova gestão.
Municipalizado em 2013, o Bartolomeu Lisandro seguiu sendo administrado provisoriamente pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), estatal do Governo Federal que já havia realizado algumas melhorias. Ainda assim, a unidade permaneceu carente de investimentos estruturantes, o que até os dias atuais resulta em reclamações.
A Infraero deixou em definitivo o Bartolomeu Lisandro no segundo semestre de 2017, quando, após rápida gestão compartilhada de poucos meses, chamada de “operação assistida”, a administração foi assumida temporariamente pela Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), iniciando o processo para passar a administração a uma empresa privada. Por cerca de um ano e meio o aeroporto seguiu sendo gerido pela Codemca, com a licitação para concessão do aeroporto a uma empresa privada sendo lançada em dezembro de 2018.
A concessão por 30 anos saiu em janeiro de 2019 para a empresa Infra Construtora e Serviços Ltda. (INFRA), que venceu três concorrentes. Ela assumiu a administração pouco depois e, com a gestão privada, a expectativa era de investimentos totais de R$ 98 milhões no período de concessão, sendo R$ 28 milhões nos primeiros cinco anos, conforme o contrato. De início, a promessa era de adequação e modernização da unidade, com a construção de um novo Terminal de Passageiros (TPS), com 1.200 m², que beneficiaria, especialmente, o setor offshore, com o transporte para as plataformas de petróleo. O espaço também ganharia um novo pátio para aeronaves com 20 mil m².
O novo TPS saiu a partir de uma adaptação do antigo Terminal de Cargas Alfandegadas, que estava abandonado, a cerca de 50 metros aos fundos do antigo prédio de embarque e desembarque construído há mais de 50 anos. O local tem suprido as necessidades, mas há carências como problemas com o intenso calor e também a falta de lanchonetes e ao menos um restaurante. O espaço está sendo reformado, com expectativa de ser entregue nas próximas semanas, mas, não há informação de como será sua utilização. Hoje, quem quiser se alimentar ou simplesmente comprar um refrigerante enquanto aguarda o embarque, é obrigado a deixar a área do aeroporto e procurar um bar no bairro ao lado. Já sobre o novo pátio para 25 aeronaves, com 20 mil m², a INFRA não passou informações. Bem como não detalha os investimentos até agora.
CDL cobra melhorias e mais voos
A CDL encabeça movimento por melhorias e maior estrutura, tanto nas instalações do Bartolomeu Lisandro, quanto na oferta de vôos para mais regiões, além dos que já existem diariamente para o Rio de Janeiro, Campinas-SP e Vitória-ES. Ele garante que tem informações das próprias companhias aéreas sobre demandas para garantir um aeroporto pujante e movimentado, com geração de mais emprego e renda para o município.
“O Porto do Açu garante um bom movimento, com cerca de 90% dos passageiros, além de outros setores, com os outros 10%. E agora tivemos a notícia de que o Aeroporto do Galeão, que estava sendo subutilizado e quase sem movimento, vai ser revitalizado, recebendo muitos dos vôos que tem ido para o Santos Dumont, que não comporta aviões maiores”, destaca, lembrando que as empresas aéreas defendem o aeroporto funcionando 24 horas, para pernoite de suas aeronaves.
Segundo Edvar, com os vôos partindo de Campos para o Galeão, com pista maior, poderão ser utilizados os aviões ATR, de 70 passageiros, substituindo os pequenos Cesna, de nove passageiros. “Em vez de três voos diários, poderemos ter apenas dois, um logo de manhã e outro no início da noite, como já tivemos durante muito tempo”, explica, lembrando que a partir de outubro, haverá um segundo vôo diário para Campinas, após a suspensão dos vôos domésticos no Aeroporto de Macaé por 10 meses.
Sobre o plano de investimentos da INFRA para o Bartolomeu Lisandro, Edvar pede transparência. “Precisamos ter informações para acompanharmos as melhorias que vão contribuir para o desenvolvimento de Campos. A empresa deve cumprir o contrato, ou que ele seja encerrado”, concluiu.
Posicionamento Infra e Codemca
A reportagem procurou a Infra e a Codemca para posicionamento. Em nota, a Infra disse que “segue o Contrato de Concessão e em cumprimento das rotinas operacionais e de manutenção padrões previstas”. Diz que “os investimentos estão em curso, passando por adequações às normas e melhorias de infraestrutura, tais como revitalização do pavimento da pista de pousos e decolagens, reforma do Terminal de Passageiros da Aviação Regular e Geral e construção do Terminal de Passageiros Offshore”. Diz ainda que “a expectativa e trabalho são sempre de viabilizar a melhor condição de infraestrutura aeroportuária para atender com qualidade e ampliar o fluxo de voos e passageiros da aviação regular, geral e offshore”. Mas não respondeu sobre o número de passageiros em circulação por mês, os impactos na unidade com a reforma no Aeroporto de Macaé ou sobre atendimento às pautas da CDL e sobre o novo pátio para aeronaves.
Já a Codemca afirmou que não há discussão envolvendo a suspensão da concessão e que depois de dois anos de pandemia, a economia está se adaptando à nova realidade. Diz ainda que fiscaliza o cumprimento das regras do contrato e constatou que no primeiro ano a empresa entregou um Terminal de Passageiros Offshore novo, que “hoje atende aos clientes da aviação comercial, executiva e offshore”. A nota destaca que “o antigo terminal está sendo reformado, mas as operações são bem atendidas pelo Terminal Offshore e diversas melhorias da infraestrutura operacional, na pista de pousos e decolagens, pátio de aeronaves e hangares foram também realizadas”. E conclui afirmando que “o aeroporto atualmente atende com voos comerciais para Vitória, Rio de Janeiro e Campinas”.
Vizinho e concorrente, aeroporto de Macaé conta com R$220 milhões para ampliação e reformas
A construção da nova pista do Aeroporto Joaquim de Azevedo Mancebo consolida o atual ciclo de desenvolvimento de Macaé ao representar um dos principais empreendimentos que compõem os cerca de R$ 25 bilhões de investimentos já em fase de execução no município. Com voos comerciais suspensos já há algumas semanas, a administração do Aeroporto de Macaé espera fazer a retomada em 10 meses, e não em um prazo bem maior. A novidade foi anunciada na manhã da última quarta-feira (14), pela concessionária do aeroporto, a Zurich Airport Brasil, responsável pela gestão e modernização da base aérea macaense, que recebe atualmente R$ 220 milhões em investimentos.
A concessionária se articulou para liberar a pista antiga em 10 meses, enquanto a nova é construída e deve ficar totalmente pronta em 2025. As obras já começaram no dia 1° deste mês. A administradora suíça, gestora do Aeroporto de Macaé desde 2019, decidiu ampliar o investimento na construção, permitindo a liberação da pista já existente, para operar voos em tempo recorde. Já a nova pista, quando pronta, terá mais de 1.400 metros de comprimento e capacidade de receber pousos de aviões de grande porte.
O Aeroporto de Macaé responde hoje por 55% das operações offshore do país, principalmente nas Bacias de Campos e de Santos. Esse percentual representa um aumento de 120% desde que a Zurich Airport Brasil assumiu o aeroporto. Durante a obra, a movimentação de helicópteros será feita na parte da pista que não estará ocupada com o novo empreendimento.
Passageiros têm críticas e elogios ao aeroporto
Diovana Terra, relações públicas, é moradora de Indaiatuba (SP). Voa pelo menos duas vezes por ano de Campinas para Campos, com o filho Tom, 4 anos. Em relação aos aeroportos das duas cidades, ela diz ser até difícil fazer comparações. “O Bartolomeu Lisandro tem um tamanho bem reduzido, diferentemente de Viracopos, que é gigante e internacional. O de Campos atende minimamente, mas faltam melhorias. Aqui não tem uma cafeteria ou lanchonete. O ar-condicionado é muito ruim. O terminal é pequeno e o calor constante, mesmo em dias de temperatura amena como hoje”.
A engenheira de manutenção Bárbara Coelho utiliza o aeroporto de Campos cerca de quatro vezes ao ano, com destino a plataformas de petróleo, voando de helicóptero. “Esses voos costumam sofrer muitos atrasos e imprevistos. A gente que precisa esperar muito tempo, o aeroporto tem que oferecer o mínimo de infra-estrutura. A temperatura dentro do terminal é quente e não tem lugar para comer”, critica.
A assistente social Raquel Gonçalves embarcou pela primeira vez no aeroporto de Campos rumo a Campinas. “Eu achei organizado e um bom espaço. Fui bem atendida, mas o calor é grande aqui dentro”. O contador Charleston Maciel é raro usar o aeroporto de Campos. “Vou para Campinas a trabalho. Eu daria uma nota 8 para o prédio atual, pois o antigo era bem ruim. Precisa melhorar temperatura, internet e oferta de água aos passageiros”.
O encarregado de obras Roberto Ferreira se divide entre Itaperuna e Florianópolis (SC). Voou para Campinas em escala até chegar a Campos e seguir para o Noroeste Fluminense. “Eu tenho tido problemas com a companhia aérea. Cancelaram um voo do Rio para Campos e me mandaram de carro para cá. O aeroporto aqui não tem conforto nenhum. Estou há quatro horas esperando aqui para voltar. Muito transtorno”, conta.
Luiz Henrique Cordeiro mora em São Fidélis e trabalha como saloneiro em plataformas de petróleo. Costuma embarcar em Macaé, Farol de São Thomé, e em Jacarepaguá, no Rio. “Esta é a minha primeira vez aqui em Campos. Considerei satisfatórios os serviços”, avalia.