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Onde estão os discípulos do GRU? Sobre dinheiro público no ralo e silêncio eloquente, por Tiago Abud

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Artigo
Por Redação
14 de agosto de 2022 - 0h03
Ilustração

O Jornal Terceira Via, em 05 de agosto de 2022, publicou editorial clamando, já no título, “Que todos os nomes secretos da lista do Estado venham à tona”, abordando o esquema de malversação de dinheiro público, oriundo da venda da Cedae, que, teoricamente, foi canalizado pela máquina pública estadual para apadrinhar indicações políticas de apoiadores do incumbente na próxima eleição.

Há, dentre a montanha de dinheiro gasto, ao menos quatro situações distintas: aqueles que não prestaram serviço algum e embolsaram a grana, hipótese de crime e improbidade administrativa; outros que receberam e trabalharam, conjectura de estrita legalidade; alguns, que receberam, prestaram o serviço e acumularam cargos, podendo acumular, no caso de profissionais da saúde e professores, o que também é legal; e, por último, aqueles que prestaram o serviço, acumularam funções sem poder, em razão de vedação legal, situação que gera improbidade, mas a jurisprudência não tem punido aqueles que desistem do cargo ou função. Resta, agora, às autoridades, separar o joio do trigo, sob pena de se cometer injustiças.

Se dentro das quatro hipóteses acima houver a prática de “rachadinha”, onde o agente nomeado rateia seu vencimento com quem lhe indicou, o cenário muda, havendo crime.

Desse contexto, extraio duas reflexões, limitado pelo espaço do artigo: a primeira, sobre a necessidade de concurso público. Indicação política se presta como caminho para a desonestidade com dinheiro público. Quanto mais apaniguados, mais espaço para negócios escusos. Outra constatação: não vi políticos com viés de esquerda entre aqueles agraciados com indicações e cargos, o que indica que no Brasil, salvo honrosas exceções, a ocasião faz o ladrão, seja de qual facção política for. Curioso é que desta vez os possíveis episódios de farra com dinheiro público vieram dos liberais, aqueles que pregam o Estado mínimo (para os outros, é bom que se diga).

Na história recente, brasileiros foram às ruas para exigir o fim da corrupção e todo o resto é de amplo conhecimento público. Deduzo agora, pelo silêncio das panelas e o murchar do pato, que os discípulos de GRU se acomodaram e estão felizes com o Brasil em que vivemos, onde um litro de leite custa dez reais. Afinal, dane-se o leite, já que ficou fácil de beber vinho argentino.