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“De nada adianta restaurar e não usar”, diz pesquisador sobre o Solar da Baronesa

Genilson Soares é presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes

Entrevista
Por Ocinei Trindade
13 de maio de 2022 - 9h47
Genilson Soares preside o IHGCG (Foto Carlos Grevi)

A reportagem de destaque do Jornal Terceira Via durante a semana, “Solar da Baronesa se deteriora em longa espera por recuperação” (clique aqui), tem como um dos entrevistados o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCH), Genilson Soares. Aqui, ele analisa a situação do prédio histórico e as possibilidades futuras sobre sua recuperação

Como avalia a situação atual do Solar da Baronesa?

Preocupante, pois o prédio está fechado há décadas, não tem manutenção e está entregue a sua própria sorte.

O que poderia ser feito para reverter o quadro vigente?

Informações dão conta que a Diretoria da ABL, que é a atual proprietária, tem tentado captar recurso via BNDES e emenda parlamentar federal, para recuperar o imóvel.

Qual o papel da ABL, do poder público e sociedade sobre esse patrimônio em declínio?

O Solar foi tombado pelo Iphan no ano de 1974. Após a morte de Austregésilo de Athayde em 1993, a ABL não deu mais uso ao equipamento e o manteve fechado.  Já na primeira década do século XXI, ocorreu uma denúncia legal. A ABL tem a responsabilidade jurídica sobre o imóvel, mas todas as entidades culturais e preservacionistas da nossa cidade tem o dever moral de dar sua cota de contribuição para preservar esse importante patrimônio histórico e arquitetônico da nossa planície.

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Como observa o interesse da ABL e de instituições governamentais e não governamentais sobre em preservar o prédio?

No MP Federal, pelo abandono do prédio, a Academia foi obrigada a assinar um TAC, onde se comprometeu a restaurá-lo. O presidente anterior da ABL, Marco Lucchesi, esteve em Campos em 2018 para propor uma parceria com a prefeitura e as entidades culturais, visando uma cogestão do espaço, mas de lá pra cá nada mais aconteceu.

O Solar da Baronesa já cumpriu função de museu e era bastante visitado em seu período áureo. O que destacaria sobre a importância histórica desse patrimônio?

É importante ressaltar que quando em 1973 o Solar e seu entorno foram doados pelo usineiro e senador João Cleófas para a ABL, representado pelo seu presidente Austregésilo de Athayde. A construção se encontrava em ruinas. Foi feito um grande trabalho de reconstrução, mas basicamente o prédio que hoje conhecemos é um “falso histórico”, principalmente no seu interior, onde todo mobiliário e objetos de decoração foram introduzidos ao gosto do imortal presidente da Academia. Isso não tira a importância histórica e arquitetônica do Solar, um espaço que representa o apogeu da aristocracia rural campista no século XIX, e que abrigou o Imperador Pedro II na sua primeira visita a planície goitacá em 1847.

Como observa o abandono também daquele prédio anexo que abrigaria uma Biblioteca da Língua Portuguesa ou Brasiliana, projeto que não evoluiu?

Em 1985, quando o Presidente José Sarney esteve em Campos para assinar a lei dos royalties do petróleo, ele também sancionou no já reconstruído Solar da Baronesa, a lei que tornava de utilidade pública o Instituto Internacional de Cultura da ABL. Austregésilo de Athayde sonhava em criar também no prédio anexo, a Biblioteca Varnhagen com mais de 200 mil volumes. Sua primeira ação foi adquirir do livreiro Walter Cunha uma Brasiliana, que embalou e mandou a coleção de livros para Campos. Para Austregésilo, o local teria como objetivo formar políticos para bem desempenharem suas funções. Disse ele: “o político se faz à custa do povo brasileiro. Por este motivo, tentaremos formar aqui homens devidamente capacitados”. Infelizmente esse sonho se foi com a morte dele.

Qual o futuro dessas construções se nada for feito?

Reafirmo sempre que a saída, não só para o Solar da Baronesa, mas também para todos os outros prédios históricos do ciclo da cana de açúcar em nossa região, é inseri-los em um circuito turístico que dê condições de serem autossustentáveis. A manutenção de um equipamento deste porte demanda expressivo recurso financeiro. De nada adianta restaurar e não usar, pois o imóvel fechado se deteriora rapidamente.