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Desvendando as quatro faces de Felipe Giaffone: piloto, comentarista, empresário e comissário

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Automobilismo
Por Rodrigo Viana
20 de fevereiro de 2022 - 12h52
Felipe Giaffone comemorando a sua vitória na Copa Truck.

Felipe Giaffone tem 47 anos, nasceu na cidade de São Paulo no dia 22 de janeiro de 1975, é casado, tem dois filhos homens, é piloto de automobilismo, comentarista de TV, empresário, tem kartódromo e já foi comissário de provas da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e da Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

Nascido numa família ligada ao automobilismo, Felipe Giaffone é filho de José Próspero Giaffone, mais conhecido como Zeca Giaffone, ex-piloto de Stock Car, foi campeão na categoria em 1987 e recordista de vitórias nas 1.000 Milhas de Interlagos, além de ser empresário, atuando como construtor de carros de corrida. A sua empresa, a JL, é a que desde 2000 constrói os carros da Stock Car para a categoria. Felipe também é irmão do ex-piloto Zequinha Giaffone, que hoje atua com o seu pai na empresa. O seu tio Affonso Giaffone Jr., irmão do Zeca, também foi piloto, inclusive, campeão da Stock Car em 1981. Felipe ainda tem outros parentes ligados ao automobilismo… Para finalizar o elo dos parentes com as competições automobilísticas, uma de suas primas, a Silvana Giaffone, foi casada com Rubens Barrichello, que é seu amigo.

Com o objetivo de correr na Fórmula Indy, Felipe começou na Indy Light em 1996, com uma pausa em 1997, voltou em 1998 numa nova equipe, que correu por ela até o ano 2000, quando ganhou uma corrida e ficou em 4º lugar no campeonato. Subindo de categoria, correu na Fórmula Indy, a IRL (Indy Racing League), de 2001 a 2006, fazendo o seu melhor campeonato no ano de 2002, quando conquistou a 3ª colocação nas 500 Milhas de Indianápolis – a sua melhor classificação nesta prova -, venceu a sua única corrida na categoria e terminou na 4ª posição na temporada. Assim, foram 6 anos disputando a Fórmula Indy principal e as 500 Milhas de Indianápolis. 

Felipe Giaffone correndo na Copa Truck.

Na Fórmula Truck, iniciou em 2005, mas em 2006 não correu na categoria para fazer só a Fórmula Indy, retornando à Fórmula Truck definitivamente em 2007, quando foi campeão. Também foi campeão da categoria em 2009, 2011, 2016 e 2017 – neste ano a categoria mudou o nome para Copa Truck -, além de ser tornado vice-campeão da categoria em 2010, 2012, 2014 e 2018. Assim, hoje ele é o piloto com o melhor resultado da categoria e que mais campeonatos conquistou, sendo o único pentacampeão.

Felipe Giaffone também foi comentarista das provas da Fórmula Indy para a TV Bandeirantes de 2009 até 2018. Em 2019 ele foi para a Rede Globo para ser o comentarista das provas da Fórmula 1, ficando até 2020, quando a TV Bandeirantes comprou os direitos de transmissão da Fórmula 1 a partir da temporada de 2021 e contratou Felipe, que retornou à emissora.  

Vamos conhecer um pouco sobre as realizações, os projetos e a visão de Felipe Giaffone através das suas colocações publicadas nas mídias sociais:

Como você começou na categoria Truck?

Na Truck, eu entrei, quando vim da Fórmula Indy para o Brasil. Aqui, o caminho natural seria a Stock Car, só que a minha família está muito envolvida com a categoria, a gente faz todos os carros, eu também participo dos testes, então meu irmão e o meu pai me “proibiram”. Foi aí que eu pensei: se eu andar bem na Stock Car, vão falar que eu estou roubando, que a família está me dando preferência, se eu andar mal, vão falar que eu sou tão ruim, que mesmo roubando, eu não ganho, assim, preferi ir para um mundo que a minha família não tem nada a ver e acabei entrando na Truck e me apaixonando pelos brutos, que são muitos gostosos de guiar.

Quais são seus planos para 2022?

Continuo na Copa Truck, fechei com a Iveco, vai ser bem legal, pois o campeonato está crescendo bastante. Também continuo na TV Band, nas transmissões da Fórmula 1, revezando com Max Wilson, já que a gente tem estas atividades de corrida também.

Como está a Iveco na Copa Truck?

Nosso caminhão vem evoluindo, estamos numa equipe nova, a Usual Racing. A Iveco já está há tempo, foi até campeã lá atrás, na época da Fórmula Truck, mas nos últimos anos compramos uma briga, de entrar numa equipe que não era do meio, apanhamos bastante, fizemos o terceiro ano, mas estamos caminhando muito bem, acertando.

Como é a segurança dos caminhões da Copa Truck no caso de colisão?

O caminhão é bem robusto, a colisão por trás, empurra o caminhão da gente para frente, o problema é quando pega de lado, na cabine, eu já levei uma dessa e o caminhão tende a tombar para o outro lado, mas de uma forma geral os caminhões são bem seguros.

Como você ver a presença da eletrônica e da eletricidade no automobilismo?

É uma ida sem volta, não a eletrônica que eles já vêm tirando, mas a parte elétrica nos motores de Fórmula 1, acho que a tendência é cada vez aumentar mais, pois hoje tem 160 cv da parte elétrica e outros 800 a 850 cv da parte do motor à combustão. Já para 2026, eles estão querendo equilibrar isso, deixando metade à combustão e metade elétrico e, a tendência é ir eletrificando o carro cada vez mais.

Qual carro de corrida mais difícil que você já guiou?

Talvez tenha sido a minha estreia em Indianápolis, eu guiei um carro que era uma “tranqueira”. (rs) Só fui descobrir que tinha alguma coisa de errado nele no final do mês, depois de treinar o mês inteiro. Era uma coisa horrível, era um “Pai Nosso” em cada curva. (rs) Achei que iria bater em todas as voltas com ele. Só no ano seguinte, quando eu cheguei em terceiro lugar, que eu descobri o que era um carro bom para correr em Indianápolis.

Pensa em voltar a andar em Indianápolis?

De jeito nenhum. Estou velho, não dou mais conta não. (rs)

Qual categoria você não correu, mas ainda tem vontade de correr?

Andei num carro da Porsche, há pouco tempo, achei muito interessante o carro de rua, também andei num elétrico deles. Não tenho uma categoria específica, além dos caminhões que eu curto muito, talvez endurance, talvez umas corridas para guiar alguns carros diferentes, estou curtindo muito os carros elétricos.

Você está à frente de algum kartódromo?

Opero as pistas de kart da Granja Viana e do Beto Carrero World.

Como você ver o cancelamento do campeonato mundial de kart no Brasil no ano passado?

Foi uma pena, o campeonato era para ser na cidade de Birigüi, no interior de São Paulo, é uma baita pista, foi feito um investimento muito alto, Felipe Massa tentou até o final, para mim foi muito mais politicagem das equipes, que se juntaram na Europa para não vir, assim, infelizmente não conseguimos realizar o mundial aqui, mas os brasileiros foram para lá e fizeram um baita campeonato, mas o kartismo no Brasil está bem legal.

Os pilotos passam por algum curso ou aula para aprender as regras da Fórmula 1?

Os pilotos que estão correndo não, e isso é uma ótima questão, porque no meu ponto de vista, deveria. Quando eu estava como comissário, eu argumentava isso, para mim, tinha que ter este treinamento, sala de aula. Uma das coisas que os pilotos reclamam é sobre isso, o piloto disse que numa hora ele é punido por uma atitude, depois é punido por não ter cometido àquela atitude que ele foi punido anteriormente, então ele fica sem saber qual é a regra. Mas os comissários não promovem este treinamento, porém no Brasil eu já fiz para a CBA bastante desses cursos, mas tem algumas situações de pista que não tem uma decisão precisa, tem-se uma noção, então, dependendo da situação, sempre vai cair num lado meio obscuro e que vai ser difícil a decisão, mas eu acho que caberia um trabalho melhor e deveria ter uma escola, não tem autoescola para ensinar as regras para dirigir na rua, deveria também ter uma escola para poder ensinar o regulamento para poder guiar na pista.

Quando teremos um novo brasileiro na Fórmula 1?

É uma pergunta difícil, você ver, por exemplo, o piloto Oscar Piastri, o último campeão da Fórmula 2, passou pela Fórmula 3 também como campeão, e vem desde lá de trás ganhando tudo e não tem vaga para ele na Fórmula 1, a gente tem alguns brasileiros nestas categorias, mas nenhum despontando como o Piastri, então, acho que a nossa solução é o apoio de grandes empresas do Brasil que tem interesse lá fora, seja banco, seja petroleira, e fazer uma escola, como tem a academia da Ferrari, a academia da Alpine, a gente precisa ter uma escola dessa. Nós vamos ter a Fórmula 4 neste ano aqui no Brasil, que é o primeiro degrau, mas é preciso de um patrocínio para quem se destacar para levá-lo adiante, pois não há como um pai bancar as despesas de um filho no automobilismo, a não ser que ele seja um multimilionário.

Como começou o seu trabalho de comissário de provas?

Comecei trabalhando no GP Brasil como comissário local, fiz isso um pouquinho mais de 10 anos, daí, nos últimos 3 anos de Charlie Whiting, o diretor de provas, ele me chamou para ser comissário internacional, mas para assumir esta posição, eu tive que passar por alguns treinamentos, assim, passei não atender só a Fórmula 1, passei atender a Fórmula 2, a Fórmula 3, a Fórmula E, a WTCC… Foi um período de bastante trabalho e bastante discursão também. (rs)

Quais as principais provas que você atuou como comissário?

Na Fórmula 1, eu fiz Abu Dhabi em 2018, Spa-Francorchamps há dois anos e México por duas vezes. Mas não fiz mais por causa de conflito de agenda. Já que comentava a Fórmula Indy na TV. O normal seria umas três provas por ano de Fórmula 1. Fiz Fórmula 2 também, inclusive no ano retrasado, na Espanha; fiz o WTCC na Argentina; fiz Fórmula E. Tudo pela FIA. Comissário nacional, faz dez anos. A partir de 2019 não mais atuei em função da posição que ocupava na Globo.

Quando você percebe que o trabalho dos comissários está sendo bem realizado?

Toda a vez que a FIA e os comissários aparecem demais nos noticiários, principalmente nos jornais no dia seguinte após a corrida, é porque há algum problema, o trabalho deles não foi bom. O trabalho deles só é bom quando ninguém fala nada, quando ninguém sabe que eles existem.

Na próxima semana, teremos a segunda parte desta matéria, Felipe Giaffone manifestará sobre todas as polêmicas que envolveram a final da temporada de 2021 da Fórmula 1 e sobre o trabalho minucioso e delicado dos comissários e diretor de prova.