“A rotina dos meus filhos mudou completamente e estou fazendo de tudo para que eles fiquem bem, mas as pessoas precisam entender que eles são crianças autistas. Uma moradora alegou que está sofrendo psicologicamente por causa do barulho e foi então que o síndico fez contato comigo. Ele foi super ignorante e arrogante, me pediu para ‘resolver o problema do barulho dos meus filhos’, e que temos que cumprir o que determina as regras do condomínio. Eu disse que as pessoas têm que entender que existe a lei que protege o autista, mas ele ressaltou que temos que nos adequar às regras do condomínio”, desabafou.
Lúcia alega ainda que está sofrendo pressão por parte de outros moradores do bloco e que está sendo constrangida a desocupar o imóvel.
Lúcia criou uma página nas redes sociais para mostrar a rotina dos filhos e tentar sensibilizar a sociedade sobre os cuidados com o autista.
A presidente da Associação de Pais de Pessoas Especiais (Apape), Naira Peçanha, viu uma postagem que a Lúcia fez nas redes sociais sobre o caso e ofereceu ajuda da instituição. Naira garantiu que a Apape prestará assistência jurídica e apoio necessário a Lúcia.
“As crianças precisam de atendimento diário e não estão tendo por causa da quarentena. Com essa falta dos estímulos, eles sofrem e nesse processo eles começam a bater com a cabeça, com a mão no chão para tentar se regular. Eles acordam de madrugada e fazem esses movimentos, que incomodam os vizinhos. Cabe ressaltar que a Lei do Estatuto da Pessoa com Deficiência nº 13.146/2015, no artigo 8º, diz que é dever do Estado e da sociedade dar o direito à vida, saúde, assistência, liberdade, convivência comunitária, entre outros, a estas pessoas. A lei garante o espaço dessas pessoas na sociedade”, explicou a presidente da Apape.
Ainda segundo Naira, a equipe jurídica da Apape entrou em contato com o síndico do prédio que ainda assim continuou a afirmar que vai multar Lúcia por causa dos barulhos provocados pelos filhos.
Para Naira, o problema tem solução. “Uma convenção do condomínio precisa ser formulada de forma que atenda a sociedade como um todo, não uma parte dela. Esse é um caso para fazer denúncia junto ao Ministério Público, para judicializar. O que a mãe desejar fazer, a Apape vai estar ao lado dela, inclusive com nosso apoio jurídico. As crianças têm direito à vida social. A Constituição prevê isso, o Estatuto da Pessoa com Deficiência prevê, mas as pessoas passam por isso como se não existisse. Onde está a empatia que tanto estamos falando nesse momento? Onde está o amor ao próximo e o respeito pelas diferenças?”.