A cidade de Campos dos Goytacazes possui dois terminais rodoviários utilizados por milhares de passageiros diariamente. Ambos carecem constantemente de reparos e manutenção. Na área central, funciona a Roberto Silveira, com setor térreo de embarque e desembarque, guichês e lojas. O edifício moderno abriga vários setores da Prefeitura Municipal para atendimento ao público, incluindo a secretaria de Desenvolvimento Econômico, espaço que tem como premissa a atração de investidores para o município. No entanto, o local é alvo de inúmeras reclamações por parte de usuários que utilizam a rodoviária como porta de entrada e saída da cidade. Há uma semana, os banheiros foram fechados para reformas, o que causou transtornos. Já no terminal do Shopping Estrada, há muitos problemas e reclamações de usuários, inclusive de banheiros em péssimo estado. Há mais de um ano, o governo chegou a anunciar licitação de obras orçadas em R$ 9 milhões, mas que não aconteceram até hoje.
No último dia 15 de abril, a Companhia de Desenvolvimento de Campos (Codemca) divulgou que banheiros da Rodoviária Roberto Silveira seriam fechados por uma semana para reformas. Banheiros químicos foram disponibilizados aos passageiros que se queixaram do serviço, além das condições gerais do terminal central. “Precisa melhorar muita coisa. A rodoviária é suja, cheia de moradores de rua, está muito largada, as cadeiras estão imundas e enferrujadas. O banheiro está em reforma e a situação está horrível”, opina Sherly, moradora de Sapucaia. A dona de casa Luzinete Mesquita, residente em Três Vendas, também se queixa. “Aqui não está bom. Precisa de melhorias”, diz.
Há mais de 30 anos, o taxista Denilson Fernandes trabalha na Rodoviária Roberto Silveira. “Acho que nesse período piorou a situação. Muitos ônibus coletivos acabaram. Aqui não tem segurança. À noite, fica entregue aos moradores de rua. E não tem banheiro depois de certo horário noturno. Em 30 anos, era para melhorar, mas eu acho que regrediu”, avalia. Outro taxista, Celso Silva, reclama das condições do terminal central. “Aqui, nós estamos precisando de tudo, de limpeza. À noite não temos guarda ou segurança. Há alguns anos teve uma reforma e tinha um pessoal que cuidava daqui. A rodoviária era lavada à noite, mas isso acabou”.
A reportagem questionou a Codemca sobre o valor da reforma dos banheiros e da necessidade de melhorias no prédio e instalações que abrigam o terminal na área central e equipamentos da Prefeitura de Campos. Por meio de nota, foi informado que “a obra de reforma do banheiro da rodoviária está sendo finalizada. Sobre uma possível reforma na rodoviária, o prédio não carece de obras, apenas os banheiros”. A reportagem verificou lixo acumulado em parte do pátio, galhos de árvore espalhados, vegetação crescendo em paredes do prédio, e muitas pessoas em situação de rua dormindo em diversos pontos do terminal. A sensação de insegurança é uma das queixas mais freqüentes de usuários e trabalhadores locais. “Há muito morador de rua e sujeira. A administração deixa a desejar”, diz o taxista Maxwell Barbosa.
Shopping Estrada sem obras
No dia 31 de março de 2023, o J3News divulgou a publicação do Diário Oficial da Prefeitura de Campos sobre obras de R$ 9 milhões na Rodoviária do Shopping Estrada. No dia 1 de maio de 2023, o jornal J3News publicou reportagem especial sobre a expectativa de usuários, lojistas, trabalhadores e do poder público que esperavam por melhorias no terminal inaugurado em 1995, sem reformas desde então. O local é mantido pela Associação dos Lojistas do Shopping Estrada (Alse) e pela Codemca, sediadas nas dependências do terminal. Os lojistas têm permissão da Prefeitura para uso do espaço por 30 anos desde a inauguração. Neste período, muitos problemas de estrutura surgiram. Reclamações são frequentes, como goteiras e insegurança. Há banheiros em situação precária, sem portas ou sem trancas, com torneiras quebradas e falta de mictórios que foram retirados da área masculina há meses. “A situação do banheiro está horrível, as condições são bem precárias. Falta higiene, não tem sabonete, nem papel. A falta de portas e de privacidade deixa a gente exposto. O poder público precisa ver essa situação, fiscalizar e resolver” diz o autônomo Marcos Batista. O funcionário de uma empresa de ônibus se queixou dos banheiros, mas preferiu não se identificar. “Trabalho aqui há anos. Prometem reformas, mas não fazem. A situação dos sanitários é vergonhosa”, conta.
Um dos banheiros femininos do Shopping Estrada causou péssima impressão para a recepcionista Fabiana Silva, moradora do Rio de Janeiro. “Encontrei o banheiro todo molhado. Tem que reformar. As portas estão amarradas com arame, espelhos sujos. Tudo improvisado. O passageiro paga taxa e a passagem é cara. A gente tinha que ter um serviço melhor”, diz. Há banheiros no terminal em boas condições de uso, limpos e reformados. No entanto, as instalações foram melhoradas por iniciativa da dona de um restaurante próximo aos sanitários.
“Na eleição do ano passado da Associação dos Lojistas do Shopping Estrada, me tornei tesoureira. A minha prioridade era reformar os banheiros porque tinha muita cobrança, muita reclamação, mau cheiro, parte quebrada. A Codemca não ajuda. A gente cobra bastante, eles falam que não têm como repassar o dinheiro, que precisa de autorização. Há um ano anunciaram licitação e melhorias, mas isso não aconteceu. A segurança é outro problema. O telhado está com vazamentos. Quando chove aqui, as pessoas não têm onde ficar”, diz a empresária Sabrina Oliveira.
A reportagem questionou a Prefeitura de Campos sobre os problemas na Rodoviária Shopping Estrada. Por meio de nota, o Setor Jurídico da Secretaria de Obras e Infraestrutura informou que “ao encaminhar o processo licitatório referente ao projeto de reestruturação do Terminal Rodoviário Shopping Estrada, o relator no Tribunal de Contas do Estado (TCE) solicitou informações, que já foram respondidas. O processo tramita no órgão, que tem a liberalidade de decidir no âmbito do Tribunal ou, então, de encaminhar para apreciação de órgão especial do Ministério Público. Até o momento, o processo ainda não foi devolvido com autorização para execução das obras”.
Turismo afetado
A turismóloga Sandra Rabelo tem analisado o impacto da precária situação das rodovias para o turismo do Estado do Rio de Janeiro e em Campos. “Devido à falta de estrutura e de segurança nas estradas estaduais, principalmente no nosso município, o impacto é negativo, desmotivando visitas à região, gerando prejuízos econômicos consideráveis. O turismo aumenta a geração de receitas e exerce influencia entre os outros setores, como transporte, hospedagem, alimentação e bebidas, negócios, eventos, inúmeras formas de lazer e recreação. Sobre os terminais rodoviários de Campos, é urgente que as autoridades tomem medidas para melhorar a qualidade dos serviços, e garantir segurança de usuários e turistas”, considera.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campos (CDL), José Francisco Rodrigues, é empresário da área de turismo. Ele diz que é preciso cuidar das duas rodoviárias de Campos, portas de entrada da cidade. “A Roberto Silveira está em bom estado operacional, com necessidade de pequenos reparos, ou seja, de uma manutenção permanente”. Quanto à rodoviária do Shopping Estrada, onde se concentram as linhas intermunicipais de longa distância e interestaduais, ele não economizou críticas: “É um problema que vem se arrastando. O acesso é difícil, por estar à beira de uma BR de extremo movimento. A logística deixa a desejar, com uma cobertura que não protege as pessoas de chuvas mais fortes. Existe uma premente necessidade de tornar essa rodoviária mais operante, funcional e esteticamente melhor”, afirmou.
José Francisco disse que a CDL, na gestão passada, se reuniu com o presidente da empresa 1001, a que mais utiliza a estrutura da Rodoviária do Shopping Estrada. “Achamos que a iniciativa privada pode fazer uma parceria com o poder público neste caso. A Rodoviária Novo Rio, na capital, é hoje administrada por uma empresa que melhorou significativamente o serviço de lá. Assim como cobramos a operacionalidade no aeroporto Bartolomeu Lisandro, cobramos em ambas as rodoviárias de Campos. O aeroporto e as rodoviárias são cartões de visita da cidade”, conclui.
