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Terceira Via já alertava sobre prédios em risco

Em reportagem especial publicada em abril de 2018, Jornal apontou descaso; no dia 1º de março, novo desabamento foi registrado na cidade

Campos
Por Redação
9 de março de 2020 - 0h01

Uma das matérias foi publicada em abril de 2018

Campos dos Goytacazes reúne um patrimônio arquitetônico vasto, a ponto de ser considerado o segundo município do Brasil com maior número de prédios em arquitetura eclética. Espalhadas pela cidade há mais de 300 edificações históricas tombadas pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam), mas isso não significa que elas estejam bem conservadas.

Alguns prédios, inclusive, estão em estado crítico e prestes a ruir, como é o caso do casarão situado na esquina da rua Barão do Amazonas com Avenida Alberto Torres, bem na área central. Parte da construção veio a baixo no dia 1º de março, após fortes chuvas atingirem a cidade, época em que aumentam os riscos de desabamento deste tipo de edificação. Mas a falta de política pública voltada para a conservação do patrimônio arquitetônico local não é assunto novo e já foi tema de inúmeras matérias do Jornal Terceira Via, uma delas publicada em abril de 2018, com o título “Abaladas estruturas: prédios históricos amargam deterioração”.

O arquiteto Humberto Neto das Chagas, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RJ), ex-membro do Coppam e professor de Arquitetura no Instituto Federal Fluminense (IFF), destaca que os prédios históricos têm peculiaridades que demandam cuidado na conservação. O tipo de alvenaria, por exemplo, é a autoportante, aquela que dispensa a construção de vigas e pilares.

O especialista lembra, ainda, que o cimento portland, aquele usado nas construções atuais, passou a ser comercializado a partir do final do século XIX. Antes disso, para colar um tijolo no outro era utilizada uma argamassa feita a base de cal, argila e areia. Os tijolos também eram diferentes dos usados atualmente. Eles eram maciços e, segundo Humberto, passavam por um processo de queima pobre, que facilita a absorção de água da chuva, principalmente, quando a parede fica exposta após a queda do emboço.

“É preciso deixar claro que o problema não está na forma como os prédios eram construídos. Na Europa, por exemplo, existem construções com mais de 2.000 anos. A questão central, e que a gente precisa tratar, é a conservação precária ou, na maioria das vezes, inexistente desse patrimônio”, analisou.

De acordo com Humberto, no período de chuva o risco de prédios antigos e mal conservados desabarem é maior. “No momento em que este prédio fica desprotegido, sem seu emboço, com água penetrando pelo telhado, ele poderá ruir com uma chuva mais forte. Até porque a água infiltra na parede formada por este tipo de tijolo antigo e o material se expande, causando um deslocamento da estrutura”, alertou o especialista.

Humberto Neto é arquiteto e ex-membro do Coppam (Foto: Carlos Grevi)

Sem política de conservação

Ex-membro do Coppam, Humberto Neto das Chagas acredita que parte da solução para o problema dos prédios históricos da cidade passa pela implementação de um fundo municipal que financie os reparos de tais construções. O arquiteto lembra que o assunto chegou a ser discutido pelo Conselho, mas a ideia nunca foi efetivada. “É preciso destacar que cada prédio que cai é parte da história de nossa cidade que se perde”, pontuou.

A outra parte da solução é preciso vir dos proprietários, segundo o arquiteto. A prevenção, para ele, ainda é a melhor forma de se conservar o patrimônio. “Há três tipos de manutenção: a preventiva, a corretiva e a restaurativa. À medida que o problema vai avançando, obviamente, fica mais difícil e mais caro de solucionar. Então, fazer a obra preventiva é a mais simples, barata e eficaz”, ponderou.

Parte do prédio desabou no último dia 1º (Foto: Carlos Grevi)

Sobre o Coppam

De acordo com o Coppam, a manutenção dos prédios tombados pelo Conselho é de responsabilidade total do proprietário. Segundo o órgão, a prefeitura pode reduzir o IPTU de prédios tombados entre 20% a 80%, como um incentivo para a manutenção e preservação dos prédios.

Segundo a presidente do Coppam e da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Cristina Lima, o Conselho acompanha e notifica os proprietários dos prédios tombados, quando necessário. “Em resposta às notificações, proprietários têm buscado o Conselho, onde, acima de tudo, conduzimos a uma consciência e sensibilidade para a necessidade da preservação e tem funcionado em alguns casos. O Ministério Público também acompanha, fechando acordos junto a estes proprietários a favor da preservação dos prédios tombados”, explicou Cristina. A presidente destacou, ainda, que “a criação de um Fundo para a preservação dos prédios que são de propriedade particular tem que ser muito bem estudada em suas minúcias, inclusive as questões jurídicas envolvidas, principalmente na atual situação de limitações financeiras municipais”.

Na tarde da última quinta-feira (5), o Coppam rejeitou o plano de recuperação apresentado pelo proprietário do prédio que desabou. Segundo o órgão, o plano não apresentava um profissional técnico responsável, registro profissional ou cronograma com prazos para a execução da obra.

O Coppam ainda determinou o escoramento imediato do imóvel sob pena de multa.

O prédio de dois pavimentos foi construído na década de 1920.

(Foto: Carlos Grevi)