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Futebol do Brasil vira a chave e mira prestígio

Técnicos de fora inovam; times ficam mais qualificados e estádios registram recorde de torcedores

Geral
Por Guilherme Belido
22 de setembro de 2019 - 9h00

Temporada mostra técnicos de fora com táticas inovadoras e times mais qualificados

Primeiro turno do Brasileirão/2019 registra estádios lotados e recorde na média de gols

No início dos anos 2000 um técnico brasileiro, Vanderlei Luxemburgo, era contratado para treinar o espanhol Real Madrid – o maior vencedor de títulos mundiais e continentais do planeta e um dos mais importantes times do mundo.
Em sua passagem de 340 dias, obteve aproveitamento de 67,4%. Foram 45 jogos, com 28 vitórias, 7 empates e 10 derrotas. O percentual foi bastante razoável, mas como Luxemburgo não venceu nenhuma das cinco competições que disputou, acabou demitido.
Quase uma década e meia depois, o Madrid é comandado por Zinédine Zidane, que tenta repetir a espetacular passagem pelo time merengue (2016-2018), quando venceu praticamente tudo.
Mas Zidane, tal como os demais treinadores que transitam nos grandes clubes da Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália, dificilmente aceitaria assumir o comando técnico de qualquer time brasileiro.
Primeiro, porque lá eles recebem em euros. Segundo, porque aqui se joga um futebol ultrapassado, que parou no tempo e por conseguinte não confere a seus comandantes a mesma projeção que desfrutam na Europa.
Com efeito, há muito os grandes europeus deixaram de contratar técnicos brasileiros, visto que levam para campo o mesmo futebol dos anos 90: lento, defensivo e desorganizado, valendo-se da velha ‘ligação direta’ para jogar a bola na área adversária e ver no que dá.
Mas tudo isso começa a mudar. Os clubes estão apostando em técnicos de fora, que trazem na bagagem fundamentos tático-estratégicos desconhecidos por aqui. Além disso, os treinadores locais mostram-se atentos ao que se faz no exterior e buscam aprendizado.
Em resumo, são três frentes: 1) Comissões técnicas mais qualificadas; 2) Clubes com recursos investem em CTs de primeiro mundo; 3) Os jurássicos cartolas tentam se reciclar ou dão lugar a quem está chegando com mentalidade deste século.
Espera-se, agora, que se colha os frutos e o futebol nacional resgate o prestígio de outrora.

O futebol do Brasil está virando a chave em busca de um novo modus operandi, uma identidade de vanguarda que não se limite a ser apenas celeiro de atletas de alta qualidade – não raro vendidos para fora ainda na base –, mas de retomada da posição de destaque no cenário mundial.
Não é fácil nem será do dia para noite. Mas já são visíveis as iniciativas de alguns dos principais clubes brasileiros para que seus departamentos de futebol tenham um modelo de gestão moderna, profissional e eficiente o bastante para que a distância para os grandes times da Europa seja encurtada.
Nas últimas temporadas os avanços – apesar de ainda tímidos – são facilmente vistos nos clubes que privilegiaram o futebol e investem em estrutura. Naturalmente, nem todos podem.
CTs de excelência com equipamentos de ponta, tecnologia de ultima geração, imagem, departamentos de saúde e performance, análise de desempenho, podologia, fisiologia, fisioterapia, nutrição e muito mais.
Dentro do campo, o trabalho que associa técnica com força física – o que não é tão novo assim – mas que condiciona o atleta a jogar com e sem a bola, a marcar por pressão (marcação alta) e independente da formação em campo, praticamente todos defendem e atacam.
Atletas que jogam em alta intensidade, ofensivos, valendo-se de esquemas táticos variados e envolventes.

Comandantes fazem a diferença
Nada está acontecendo ao acaso. Sampaoli, técnico que dirigiu as seleções do Chile e Argentina, deu ao Santos uma nova forma de jogar. Mesmo com um elenco curto e não tão qualificado, passou grande parte do 1º turno do Brasileiro na ponta, depois na vice-liderança, caindo para terceiro no último jogo da 1ª fase, na derrota para o Flamengo.
O português Jorge Jesus revolucionou o Flamengo. Assumiu o time carioca já podendo contar com excelente elenco, trouxe mais dois ou três, e diz que o rubro-negro brigaria entre os seis primeiros na Premier League.
Os daqui, como Renato Portaluppi, Tiago Nunes, Roger Machado e Mano Menezes (agora no Palmeiras), robustecem seus conhecimentos com o que vem do exterior. E mais: não dá pra dizer que Luxemburgo, Abel Braga e Cuca desaprenderam. Muito ao contrário, conhecem futebol a fundo, precisando somente incorporar as novas táticas que estão chegando.
E tampouco há de se falar em idade. Jorge Jesus, o mais festejado comandante em atuação no futebol brasileiro, tem 65 anos – mais ou menos a idade dos aqui citados.

Times revigorados
Flamengo, Santos, Grêmio, Palmeiras, São Paulo, Internacional, Athlético-PR e outros, cada qual com suas características – uns com resultados mais visíveis, outros ainda em busca do melhor caminho – têm efetivas chances de conquistas em 2019. Vale lembrar, o Athético-PR acabou de vencer a Copa do Brasil e embolsou R$ 60 milhões.
O Campeonato Brasileiro é o mais competitivo do mundo, tem 12 grandes times de tradição e a cada temporada 6-8 potencialmente postulantes ao título. Lá fora, isso não acontece. Na Alemanha, 2 ou 3. Na Espanha, mesmo número. Inglaterra e Itália um pouco mais. Mas nenhum outro país, independente do número de clubes, exibe, já de largada, tantos candidatos passíveis de vencer a competição.

As maiores torcidas do mundo
Deixando de lado o mundo árabe e chinês, onde o futebol não tem tradição, pertence ao Flamengo a maior torcida do mundo, cerca de 40 milhões. Corinthians, São Paulo e Vasco também apresentam números significativos.
E não poderia ser diferente. A Espanha tem 47 milhões de habitantes, Inglaterra 55 e Itália 61. Como um clube de lá, por mais vitorioso que seja, poderia ter 40 milhões de torcedores?
Estádios lotados – Como sinais de recuperação, a temporada 2019 tem sido de estádios lotados. O Flamengo – o “trem pagador do futebol brasileiro” – vem colocando 70 mil no Maracanã. Morumbi, Beira Rio, Arena do Grêmio, do Palmeiras e outros também estão jogando com casa cheia. Em outro exemplo revigorante, a artilharia do Brasileirão-2019, no 1º turno, já ultrapassou a média de 2018 inteiro.
Por traz disso vem o dinheiro do patrocinador, da transmissão, da venda de camisas e todo acervo financeiro que envolve times que jogam em alto nível.
Dinheiro – Uma questão que parece intransponível é a desvalorização da moeda nacional em relação ao Euro. Neste particular, não há o que fazer para segurar os atletas que saem em busca de fortuna.
Por outro lado, existe um leque de alternativas para driblar esse empecilho e colocar os times nacionais, senão no patamar de protagonista, nas prateleiras mais altas. Afinal, se dinheiro fosse tudo, a China teria o melhor futebol do mundo.