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“O contribuinte está quebrado”

O presidente da Federação dos Lojistas do Rio de Janeiro fala de carga tributária, inadimplência e de política

Campos
Por Coluna do Balbi
20 de fevereiro de 2017 - 6h00
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Marcelo Mérida já presidiu a Câmara de Dirigentes Lojistas de Campos (Foto: Silvana Rust)

Marcelo Mérida é empresário ligado ao setor do comércio e engenheiro. Se destacou no movimento lojista ainda muito jovem e presidiu a CDL de Campos por várias gestões. Há dois anos é presidente da Federação dos Lojistas do Rio de Janeiro, cargo que o projetou em todo estado. Mérida deu uma nova roupagem ao pensamento movimento lojista fluminense. Já não vai mais para as reuniões com atores públicos com pires na mão e sim com uma agenda para ser debatida. Para ele, a sociedade acordou. Já tendo sido vice-prefeito do vizinho município de Italva, Mérida não descarta a possibilidade de voltar à cena política partidária já nas próximas eleições, embora ache cedo para falar nisso. Mas acabou falando um pouquinho.

Há dois anos a frente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro, a Fecomércio, você ampliou o seus conceitos de economia e de tributarismo, que são dois conceitos muito correlatos, mesmo com toda sua experiência em CDL e outras entidades, a Federação que é muito importante no Rio, aumentou seu ângulo de visão dos problemas que você já vinha tratando?

Eu sempre estive a frente dos movimentos classistas, principalmente o nosso no CDL, estive como vice-presidente da Federação onde eu pude ter uma visão um pouco mais ampla do eu iria enfrentar a frente da presidência. Mas, nada como ser presidente, em um momento muito difícil. Nestes dois anos pudemos interagir com muitos agentes, de política pública, de política econômica, de instituições que tem uma abrangência no Estado do Rio de Janeiro como um todo, e isso faz com que tenhamos uma visão mais amplificada, apesar de pontuarmos aquilo que efetivamente afeta nossa classe, mas de fato pudemos atuar em questões dentro do Estado com muito êxito, como na Lei 7176.

Foi a grande vitória da Federação?

A grande vitória da Federação, do movimento dos cedelista no Estado do Rio foi se colocar dentro do cenário, se apresentar como mais um instrumento representativo, isso foi muito importante nestes dois anos, não só nos apresentarmos como um consolidou ideias. Realmente a Lei 7176 trouxe uma visibilidade porque nós através de todas as CDLs conseguimos demover, no conceito de ideias os deputados e com isso conseguimos revogar uma lei. A revogação da Lei 7176 foi um marco, um divisor de águas para o movimento e para nós que estamos a frente da Federação

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Você usa uma palavra, que talvez não exista no dicionário, mas muito interessante, quando você diz que não temos mais capacidade contributiva mas , mais importante que a palavra é a sensação de não ter e ter que ter para dar, como diz um poema, qual é a sensação do contribuinte brasileiro?

O contribuinte brasileiro hoje está em um emaranhado que não se encontra outro termo que não seja esse, nós não temos mais capacidade de cumprir com nossas obrigações junto ao que o Estado nos imputa, ou seja, não temos mais como pagar os tributos que vêm através de imposto de renda, de impostos sobre serviços prestados, como telefonia. Não estou falando das empresas que também vivem este problema, mas sim do cidadão. A capacidade contributiva do cidadão se esgotou e se puxarmos para o Estado do Rio a coisa se agrava porque um Estado que viveu momentos áureos nos últimos anos, nas últimas décadas e que vem sofrendo com uma retração de receita e um aumento de despesas que não são compatíveis. É preciso equilibrar isso, mas, esse equilíbrio não passa por um aumento tributário, porque qualquer tipo de aumento hoje só vai afunilar cada vez mais a economia. Temos um índice absurdo sendo divulgado pela mídia nacional que é o de empresas fechando em nosso setor, de inadimplência. O cenário que se apresenta dentro do Estado do Rio para implantação de indústrias. Não temos um campo fértil hoje dentro do Estado para que se produza. Há uma discussão muito ampla e muito desgastante na questão dos incentivos fiscais e isso tem retraído os investimentos dentro do Estado, mas necessariamente o Estado do Rio de Janeiro precisa passar por esse processo. Tem uma frase pronta que está sendo muito utilizada na mídia nacional, é que o Brasil tem a maior carga tributária para poder sustentar uma das maiores corrupções do mundo e a cada dia que passa isso tem sido mais latente através da grande mídia, do Judiciário que tem colocado isto de forma clara e transparente. O Brasil e em especial o Estado do Rio de Janeiro com toda crise que passa, crise política, moral e financeira precisa virar esta página para que possamos voltar a produzir.

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Você acha que o lado positivo disto é o fato de acontecer simultaneamente, a crise moral, a econômica e a política e pegar todos dentro de um mesmo saco ao invés de ir acontecendo aos pedaços?

Bom mesmo seria que nós não tivéssemos que passar por tudo isto para que haja renovação para que essa mudança de conceito, mas eu percebo que a população, e eu tenho andado pelo Estado do Rio todo, tenho interagido não só com os presidentes de CDL, mas com os lojistas também, você acaba interagindo com os problemas das pessoas e vê que o comportamento do cidadão está mudando, está buscando se refazer, se reinventar e passa pela base, pelo cidadão e processo de mudança e aí sim, se podemos tirar alguma lição disto tudo e que nós podemos transpor todo esse desafio de uma única vez e começarmos a construir um ambiente diferente, político, produtivo de comércio. Porque um dos problemas que temos atualmente no Estado do Rio e no Brasil é o desemprego. Falam em 12 milhões de pessoas desempregadas no Brasil. Poucos setores têm condições de contribuir para reverter esta situação, mas o comércio tem porque ele emprega muito rápido, mas hoje estamos asfixiados, estamos engessados entre uma política financeira de juros absurdos, entre uma política fiscal que não traz benefício para o Estado como um todo, mas traz um alto índice de prejuízo ao empresariado, um emaranhado de burocracia e isto tudo precisa ser revisto, não sei se dentro do sistema que está montado hoje na Assembleia legislativa do Estado do Rio se vamos encontrar um clima par se discutir isso, não sei se dentro da Câmara Federal vamos encontrar um clima para essa discussão, mas acho que as entidade de classe têm feito o seu papel, têm batido nas portas, procurado ser propositivos nesse momento . A única coisa que nós enquanto Federação não admitimos é onerar o empresário, pois quando isto acontece todo o sistema e a população são onerados e assim por diante.

Foi justamente de dois a quatro anos que a sociedade deu uma acordada, foi para as ruas por causa de 20 centavos, veio a Lava Jato, aqui em Campos mesmo, embora a CDL tenha atuado bastante em alguns casos de repercussão como nos carnês do IPTU que tiveram que ser revistos, a questão do código tributário que vocês foram para o plenário, entre outros, me parece que por um tempo andou todo mundo meio sedado, quase que todo mundo representando classe em jantares, nos palácios, sempre cumprimentando as autoridades, e não como uma lista de discussão. Isso é verdade?

Olha, o cenário mudou, se não foi pelo amor foi pela dor, não temos mais espaço para um ambiente da confraternização e nem motivos para isso, o momento hoje é de discussão, de interagir com propostas, com reivindicações, se fazendo escutar e escutando. O cenário mudou, na atmosfera Federal enquanto federação, enquanto Brasil, temos buscado ambiente propício para se discutir, efetivamente ainda não tivemos relevantes conquistas no Estado e no Município também, hoje temos uma relação com os entes públicos de respeito, mas sabendo que as classes têm propostas e munidos de argumentação frente aos embates, acho que isso é muito mais salutar do que sentarmos dentro de uma confraria.

Você tem percorrido quase que semanalmente várias cidades do sul fluminense, da região metropolitana, serrana, do norte e noroeste fluminense onde você está mais presente, a coisa está tão mal no interior quanto na capital?

Não tem uma diferença econômica dentro do Estado do Rio de Janeiro, nosso estado não é tão grande, é pequeno, mas que representa economia das mais diversas, você tem uma economia no sul fluminense que é mais ligada a área da indústria, a região serrana que tem indústria misturada com agricultura e culturas diferenciadas, região dos lagos e da costa verde que é um a região muito forte na questão do turismo tanto regional, quanto nacional e internacional que tem uma forma esplendorosa. Temos uma capital que respira muito ainda a questão do sistema público que também é muito forte na questão do turismo, mas a gestão do Rio é muito forte e tem um peso muito grande, um dia que se para na capital é dentro do cenário econômico é um valor astronômico, temos o noroeste fluminense que está querendo se reencontrar, tínhamos uma cultura de cana, depois passou pela dependência da Petrobrás e hoje acenamos para o porto do Açu, mas todas as regiões vivem um mesmo problema, falta de recursos circulando, o poder público com dificuldade de cumprir suas obrigações e o comércio realmente sentindo nos últimos dois anos diminuição no volume de vendas, de empregos sem um cenário a curto prazo de uma vertente favorável. Acho que se operarmos 2017 com algumas facilidades que estão surgindo para colocar recursos na economia talvez se consiga ter um cenário melhor que o de 2016 talvez pese a questão macro, mas o governo federal tem procurado trazer recursos para a população, a que custo não temos ainda como mensurar, mais vai dar uma mexida na economia. O Estado do Rio de Janeiro é o estado que vive um dos piores cenários econômicos na questão da gestão pública e isto interfere diretamente em todas as economias e faz aí um paralelo com o Rio Grande do sul talvez.

Para terminar uma pergunta de sim ou não. Ano que vem teremos eleições para o governo estadual e governo federal, você está dentro?

Pergunta difícil de responder com sim ou não, se é desta forma, sim. Nós estamos estudando este projeto que não passa por nomes, mas que passa por ideias, dentro deste contexto é necessário que a sociedade comece de fato a sair da zona de conforto de ver as coisas acontecerem e fazer as coisas acontecerem.