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Ao Gato Preto: tradição chega ao fim

Com 90 anos de funcionamento na Rua 21 de Abril, o mais tradicional bar de Campos muda de endereço para não fechar de vez

Cultura
Por Ocinei Trindade
30 de março de 2019 - 17h03

Bar lotado dentro e fora na despedida de endereço (Imagens: Ocinei Trindade)

Uma história de 90 anos que se encerra. Pelo menos uma parte dela. Depois de funcionar no mesmo endereço por nove décadas, o mais antigo e tradicional bar de Campos, Ao Gato Preto, encerrou as atividades na Rua 21 de Abril, na área central. A partir de 1º de abril, será transferido para a Rua Barão do Amazonas. A despedida do local reuniu centenas de pessoas afeiçoadas ao bar. A rua foi interditada para receber o maior número de participantes. Ao som de muita música, os frequentadores beberam e se confraternizaram.

O último dia de funcionamento do Ao Gato Preto deixou muita gente comovida e saudosa. Em 2014, o bar foi tombado como patrimônio imaterial da cidade pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam). O estabelecimento pertencia a José Carlos Barbosa, o Zé Psiu, que faleceu em 2018. O filho Sergio Barbosa decidiu tocar o negócio do pai. Porém, não fechou um acordo quanto valor do aluguel com o proprietário do imóvel. Foi então que optou em se mudar para um espaço no shopping da Praça Quatro Jornadas. Ele pretende levar sua clientela fiel para o novo endereço, também na área central.

O trânsito foi interditado na Rua 21 de Abril a partir das 18h da última sexta-feira (29). A pequena ladeira que dá acesso à Praça São Salvador ficou pequena para receber tantas pessoas que admiram e frequentam o Ao Gato Preto. Participaram da despedida, artistas, escritores, professores, vários profissionais que se identificam com a boemia quase centenária do lugar. Além de muita bebida e confraternização ao som de músicas selecionadas especialmente para a ocasião, os clientes e amigos do bar deram depoimentos sobre as memórias afetivas do bar.

Depoimentos

“A gente está lamentando muito esse dia, tendo em vista tradição de Ao Gato Preto ser o único bar tombado pelo patrimônio histórico com seus mais 90 anos de história. A gente está de luto, mas não queremos levar a tristeza. Nesse dia, a gente quer comemorar tudo que esse bar proporcionou para todos nós” (Wellington Cordeiro – fotógrafo e presidente da AIC)

Romualdo Braga. “É uma representação na cidade de encontros e desencontros, de festividades, de etnias e de vários segmentos da cidade, no campo da música e da literatura. É difícil dizer só sobre um bar. É um ponto de encontro para mim. Ele vai mudar de lugar e é uma perda porque foi tombado pelo patrimônio histórico recentemente. A cidade vai sentir essa representação do capitalismo contra a cultura social de Campos. A gente só perde com isso” (Romualdo Braga – professor e produtor cultural).

“Saudade vai ficar. Se quebra um pouco da cultura e da memória da cidade. A gente abre um parêntese com o fechamento do Gato Preto. O comércio fala mais alto. Esse movimento é pró-cultura. Estamos aqui para não deixar a memória campista morrer, mesmo que se mude de lugar” (Lene Moraes – cantora).

“Tenho 70 anos e desde os 15 frequento o Gato Preto. Vinha com meus tios. É uma tristeza essa tradição acabar, saindo daqui. Espero que continue a mesma coisa, mas vai fazer a falta estar nesse endereço”(Roberto Fernandes – Beto Baixinho – cliente)

“ Nunca deixei de vir. O Gato Preto é uma lenda. A gente precisa manter a tradição do Seu Zé, o antigo proprietário. Agora com o seu filho, Serginho, pretendemos acompanhá-lo para onde for”  (Coliseu – comerciante)

“Para mim, sempre foi bom vir aqui para conversarmos com os amigos toda sexta-feira. Muitos morreram e eu deixei de vir. Vai ficar um buraco aqui na rua. Estou triste”                                                        (Lucinha Teixeira – cliente).

“São mais de 40 anos frequentando este bar. É um dos bares mais conhecidos de Campos e fora da cidade. Pessoas de todos os níveis sociais se respeitam aqui. Nunca teve problema de relacionamento aqui. Vou continuar freqüentando no novo endereço da Barão de Amazonas, próximo ao shopping da praça central” (Tenente Cacau – cliente).

“Desde pequeno eu vinha com meus pais, parentes e irmãos. Eu fui muito tempo diretor dos Correios. Da minha sala, eu ficava apreciando o pessoal no Gato Preto. Depois do expediente, eu vinha para cá. É o único boteco tombado pelo patrimônio histórico”    (Joedson Pereira – servidor aposentado).

“O bar é um ícone de Campos. O único de Campos que atende a todas as classes sociais. Sempre foi um ambiente para conversar e encontrar as pessoas. Ele não foi tombado como patrimônio imaterial à toa” (Hugo Prates – fotógrafo).