As Unidades Básicas de Saúde (UBS) São Benedito, Leopoldina e Novo Mundo, além da Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) de Guandu, seguem fechadas em Campos após anos de obras interrompidas e sucessivas promessas de retomada. Depois de denúncias de moradores, a equipe do J3 News esteve nos quatro endereços e confirmou o estado de abandono das estruturas, que continuam sem previsão de funcionamento. Duas delas tiveram suas obras iniciadas e abandonadas na década passada, ainda no governo Rosinha Garotinho. Outras duas, foram fechadas na gestão Rafael Diniz, chegaram a ter serviços de reforma iniciados pela administração Wladimir Garotinho, mas paralisados pouco depois.
UBS São Benedito
A UBS São Benedito, localizada no Parque São Benedito, próximo aos bairros Alphaville e IPS, é hoje uma das unidades de saúde mais afetadas pela paralisação de obras em Campos. A reportagem apurou que a construção teve início em 2010 e foi interrompida em 2012, durante a primeira gestão da então prefeita Rosinha Garotinho. Desde então, a unidade permaneceu sem conclusão e sem previsão de funcionamento.
O prédio está situado na rua Gregório de Matos, na esquina com a rua João Maria. Em registros fotográficos mais antigos, é possível observar a estrutura básica já erguida e uma placa indicando investimento superior a R$ 1 milhão, com previsão de início em 2013 e término em 2014. As informações coincidem com uma matéria publicada no site da Prefeitura naquele ano, que listava a UBS entre as unidades em construção. Em 2015, outra publicação oficial voltou a mencionar o equipamento como parte de um conjunto de 20 unidades que estariam sendo construídas ou reformadas.
O cenário atual é o seguinte: prédio abandonado parcialmente cercado por uma estrutura deteriorada, acúmulo de lixo e entulhos, colchão velho, caixa d’água inutilizada, fezes de animais e até pichação com ameaça em uma das paredes a quem entrar, dando indícios do domínio de um poder paralelo nas redondezas. Totalmente vulnerável, o espaço público fica propício a ser usado por usuário de drogas e facções criminosas. Segundo relato de moradores, o terreno passou a ser utilizado até como “mictório” por motoristas de ônibus que passam pelo bairro.
“Moro aqui há 10 anos e lamento ter de lidar com esse cenário de abandono. A única coisa que vi fazerem aqui foi cercar. Mas sem vigilância e manutenção, o local continua propício a invasões. Além dos riscos iminentes à nossa saúde e segurança, com a presença de ratos, mato alto, entre outras questões. Hoje, não temos sequer perspectiva mais de ver esse prédio restaurado e entregue ao bairro”, disse o controlador de voo, João Antônio Cozendey.
O J3 encontrou no DO do município a última movimentação oficial sobre a UBS São Benedito. Trata-se de um aviso de adiamento de licitação para obra de complementação de construção da unidade, assinado pela Comissão Permanente de Licitação da Secretaria Municipal de Saúde, em novembro de 2021 – primeiro ano da gestão Wladimir. Em nota, o município afirma que a retomada de obras como essa depende de critérios técnicos.
“Quanto à UBS São Benedito, projeto iniciado pela ex-prefeita Rosinha Garotinho, foi descontinuado pelo seu sucessor. Para a retomada de obras, assim como a reabertura de UBS, são respeitados critérios, entre os quais estão densidade demográfica e análise de distanciamento territorial das unidades já em funcionamento. Também está sendo considerada a estrutura já existente nos territórios, o que permite mais celeridade ao processo da assistência preventiva e curativa no âmbito municipal”, disse a Prefeitura em nota.
UBS Leopoldina
A UBS do Parque Leopoldina, situada na Rua Visconde Alvarenga, teve obra iniciada em 2013 e deixada para trás. Em outubro de 2016, já no fim do segundo mandato de Rosinha, a Prefeitura divulgou uma reportagem noticiando que as obras da unidade estavam em andamento.
A publicação dava conta de que a UBS iria contar com três consultórios, além de banheiros, sala de vacina, sala de convivência, sala de curativo, área administrativa com sala de reunião, farmácia e posto de enfermagem, estacionamento de ambulância e bicicletário. Porém, quase dez anos depois, o local está abandonado.
“Se existisse esse postinho, ajudaria muito à população da região, de bairros como Pq. Corrientes, Leopoldina e Pecuária. Infelizmente, essa construção parou na década passada e não voltou mais. Tornou-se um prédio público largado, correndo riscos de ser invadido e deteriorado”, disse um morador que preferiu não se identificar. Em resposta ao J3, a Prefeitura voltou a citar a gestão Rafael (terminada em 2020) e justificou também que a população da região é atendida por outra unidade.
“A Secretaria de Saúde informa que o projeto para a construção de uma Unidade Básica de Saúde, iniciado na gestão da então prefeita Rosinha Garotinho, foi descontinuado na administração seguinte. Ressaltamos que a população daquela área pertence ao território de atendimento da Unidade Básica de Saúde da Família Jamil Ábido, totalmente reformada, reestruturada e reaberta pelo prefeito Wladimir Garotinho, garantindo melhores condições de trabalho para os profissionais e maior qualidade na assistência à população”, comenta a nota.
UBSF Guandu
Fechada em 2020, quando se iniciava a pandemia da Covid-19, a UBSF de Guandu encontra-se trancada, com o mato alto indicando o cenário de abandono. O equipamento de saúde segue sem funcionar, apesar da placa de obra no local chamando atenção. Isso porque na fachada há uma placa dando conta de uma obra de reforma, em parceria com o Governo Federal, constando orçamento de R$ 194 mil, com início previsto para dezembro de 2023 e término em junho de 2024.
Moradores locais relataram à reportagem que durou cerca de dois meses e parou. Quem necessita de atendimento básico de saúde precisa se deslocar para Conselheiro Josino. Em caso de emergência, a opção mais próxima é a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) de Travessão. Mas, dependendo da gravidade, o munícipe pode ficar mais de 30 minutos na estrada buscando socorro. A localidade fica a 25 km do Centro de Campos. Pouco mais de meia hora de carro.
“Em Conselheiro, a gente consegue atendimento. Mas, o deslocamento é tranquilo apenas para quem tem carro. Quem não tem, precisa ir para a BR-101 e contar com o transporte precário da cidade, para pegar uma van e chegar lá. Ou esperar uma van para Travessão, que é mais distante. A realidade é que hoje, em Guandu, quem não tem carro fica sem socorro. Ambulância para vir aqui, só o SAMU. Já teve caso de gente morrendo na estrada, a caminho do hospital. O que faz com que quem tem carro acabe com receio de prestar socorro. A população vive com um medo como realidade: passar mal e morrer por falta de socorro”, declara a comerciante Ana Beatriz Magalhães.
Em nota, a Prefeitura afirma que agentes comunitários de saúde prestam serviço à comunidade local. O que, por outro lado, não foi relatado à reportagem por moradores. Em outubro de 2024, uma reportagem no site oficial do município prometia a entrega da UBSF de Guandu para o mesmo ano – o que não aconteceu.
“A Secretaria de Saúde informa que a UBSF de Guandu foi fechada em 2020, durante a gestão anterior (o primeiro mandato de Wladimir começou em 2021). Desde então, os moradores da localidade estão sendo atendidos na UBSF de Conselheiro Josino, referência para a região. Ressaltamos ainda que dois Agentes Comunitários de Saúde atuam em Guandu, realizando o acompanhamento das famílias e encaminhando as demandas à unidade de referência”, afirma a nota.
Em nota enviada à redação do J3, o Ministério da Saúde informou que enviou ao município em dezembro de 2024, R$ 151 mil referente à obra.
“O pagamento da parcela única destinada à obra foi efetuado pelo Governo Federal em 17 de dezembro de 2024, no valor de R$ 151.208,00 (cento e cinquenta e um mil, duzentos e oito reais). O percentual físico de execução da reforma da Unidade Básica de Saúde (UBS) Guandu é de 90%, restando ao município apenas a conclusão da etapa final da obra”, disse a nota.
UBS Novo Mundo
Uma unidade que já foi referência para vários bairros de Guarus, permanece fechada. Foram iniciadas obras na UBS Novo Mundo, a antiga estrutura foi toda quebrada para ser reconstruída, mas as melhorias não tiveram continuidade. Em fevereiro de 2024, o governo municipal afirmou ao J3 que o espaço passaria por reforma geral. O município também havia prometido em outubro de 2024 a entrega da unidade para o fim do mesmo ano. Mas, ao fim de 2025, o prédio segue, como se diz popularmente, “nos tijolos”.
“Com certeza está fazendo falta para a região. Era um posto que tinha bastante movimento diário, um bom fluxo de atendimentos. Uma pena ver abandonado assim, tendo chegado até a ser saqueado nesse tempo. Infelizmente, as obras não duraram mais que dois meses e pararam”, relata a comerciante Laura Ferreira. Procurada, a Prefeitura não respondeu sobre a situação da unidade.
