

É preciso ser bem treinado para apresentá-lo. Ele é professor de Educação Física, com mestrado, fazendo curso de gestão de liderança na Fundação Getúlio Vargas, entre outras formações. Porém, o correto é chamá-lo de empresário, já que conta hoje com 11 studios que levam seu nome, com unidades em Campos, Vila Velha e Vitória.
Fabrício, que começou com três academias, resolveu em 2018, quase que simultaneamente com a pandemia da Covid-19, mudar o conceito de espaço de atividade física. O modelo que já havia sido implantado em vários países, acabou ganhando musculatura em Campos. Ele resiste aos apelos para transformar o negócio em franquia, mas admite que a marca está em plena expansão e novidades vão acontecer em 2026.
Desde a sua formatura em Educação Física em, 2007, você já se desenhava empreendedor nesta área, montou uma academia e em um estalar de dedos mudou o modelo de negócio, criando o Studio que leva seu nome. Como se deu essa mudança?
Em 2007 eu me formei e em 2009 abri minha primeira academia, chegando a ter três unidades. Operei com esse modelo de academia durante nove anos, mas aquilo ali não me movia, eu não gostava muito daquele ambiente de academia, com música alta, peso batendo, muita gente. Senti a necessidade de personalizar sua proposta. E eu vi esse movimento do Studio Boutique, que aconteceu uma inovação. Na Europa, nos Estados Unidos também, isso estava começando. Eu vi de perto em uma feira lá em São Paulo. Aí eu decidi acabar com o modelo de academia e arrisquei abrindo o primeiro Studio. Peguei meus alunos, eu tinha uns 20 alunos e comecei a atender. Em vez de seis, atendia 12 pessoas por hora, e em 2020 veio a pandemia. Durante a pandemia eu já estava estruturado para abrir uma segunda unidade. Foi quando nasceu a unidade 8, em 2021. De lá para cá, fomos ganhando musculatura e crescendo. Hoje já temos 11 unidades e estamos em franco processo de expansão para 2026.
Você falou da pandemia. Como fez neste período tão difícil?
Na pandemia tivemos que inovar, com atividades virtuais e isso sustentou muito a nossa empresa. A gente chegou a atender até sete países, além do Brasil inteiro. Tínhamos alunos, em sete países, tudo através de vídeo. A gente montou o estúdio digital. Porém, com a volta, com o retorno, que foi difícil também, tive que praticamente começar do zero, de 200 alunos, apenas 13 voltaram logo na primeira semana. Então, foi reconquistar mesmo. As pessoas sentiram falta do presencial. E esse modelo é o ideal. O contato humano faz parte de tudo.
Me diga a diferença entre uma academia convencional e um studio?
A diferença é que na academia você tem uma ficha genérica e você vai treinar aquela ficha praticamente sozinho, porque é mercado. Na academia você tem que atender muito mais gente por hora, por metro quadrado. Já no studio eu limito o número de pessoas que assim passam a ter um atendimento acompanhado durante todo o tempo e isso faz total diferença. Então você nunca vai estar sozinho. Sempre terá alguém acompanhando seu treino de acordo com seu dia, de acordo com a disposição do seu dia, orientando, ajustando, fazendo com que você não tenha lesão, motivando seu treino. O fato de ser personalizado e acompanhado com o personal é extremamente necessário e o resultado é gratificante para a empresa e o aluno. Às vezes na academia, a pessoa chega, pega a ficha, ela faz de qualquer jeito, sem respeitar intervalos de descanso. A pessoa fica ali desmotivada.
Estão sendo recorrentes casos de pessoas com lesões musculares, principalmente na coluna, por essa falta de acompanhamento durante o exercício. É isso mesmo?
Exatamente isso. Esse é um ponto muito sensível e que me incomodava no tempo da academia. Eu era proprietário da academia, professor da academia, responsável técnico, e chegavam as pessoas falando que já sabiam treinar. Pessoas que viram vídeos e queriam replicar aquilo ali e não aceitavam orientação. Então, aquilo ali me irritava de forma contundente. Eu tinha que mudar o modelo. Hoje somos reconhecidamente da área de saúde e de certa forma temos protocolos norteados por avaliações. Exercícios, principalmente repetitivos, têm que ser bem orientados, assim como o de movimentos de rotação. Existem erros como excesso de flexão, extensão de tronco, entre outros. Esses movimentos, ali repetidamente, podem causar uma lesão grave. A gente procura estar sempre ajustando, sempre orientando e, no studio, a gente proíbe realmente essa coisa livre. O aluno que busca a gente já sabe que ele quer ser guiado e ele confia.
A reabilitação física, esse termo é usado, por exemplo, em uma pessoa acometida de um acidente vascular. Existe esse acompanhamento também?
Sim. Somos da área da saúde, e neste contexto existem etapas, tudo bem definido por outros profissionais como médicos e fisioterapeutas, que estabelecem um diagnóstico. O fisioterapeuta faz junto com o médico a parte de analgesia, influindo no processo inflamatório, para permitir um seguro arco de movimentos, e a gente leva o fortalecimento do que foi comprometido pelo evento. Junto com a fisioterapia conseguimos ganho máximo muscular, de amplitude, de mobilidade e de estabilidade na articulação ou mobilidade, dependendo da articulação. Aí que entra o trabalho do educador físico, até fazer essa transição para o movimento de qualidade e assim melhorar a atividade da vida diária, o que chamamos de AVDs.
Os hábitos estão mudando, é uma geração toda nova, que está deixando de viver a noite para viver mais um dia. O horário da primeira turma começa que horas?
Mudanças de hábitos e rotina em todas as idades. Nossas unidades abrem às 6h e neste horário não existem mais vagas. É o horário mais disputado porque as pessoas querem treinar antes de ir para o trabalho, de fazer a rotina dela. Sobre os jovens, eu observo que estão reduzindo bebida alcoólica, reduzindo a noite, zero de tabaco. O estilo de vida está mudando para melhor. Porém, hoje ainda 47% dos adultos são sedentários no Brasil e 84% dos jovens ainda são sedentários. A briga para reverter isso ainda é muito grande. Então eu falo que a gente tem que ter mais movimento e menos medicamentos, mas tem muita gente ainda sedentária precisando de ajuda.
Estamos na bica do verão, como se diz na gíria, e todo mundo quer “shape”, quer performar bacana. Ainda dá tempo para o próximo verão?
Então… eu sou contra esse chamado “projeto verão”. Sou a favor do projeto da vida. Sempre dá tempo. O corpo começa a responder com sete dias, quatorze dias, vinte e um dias já começa a se tornar hábito, dois meses já tem um resultado satisfatório. Então, é um progresso de acordo com uma consistência. O que me assusta é essa busca rápida, é ir para os anabolizantes, é ir para medicação. É ir para as canetas emagrecedoras e entrar numa atividade física agora e querer treinar várias horas, sendo que ela não fazia nada antes. Tudo que é muito rápido, o corpo vai se assustar, principalmente o coração. O coração é um músculo. Você imagina um músculo que está ali trabalhando numa batida fraca e constante para do nada ele começar a ter picos várias vezes durante o dia? O processo tem que ser gradativo com um equilíbrio. A saúde é o resultado final.
Vamos falar da longevidade, da importância da atividade física no envelhecimento.
Até para quem já faz atividade física razoável, intensificar é necessário. Não estamos falando somente dos que têm 60 e sim dos que têm 90. Eu falo que 60 é um novo 30. É até pesado falar isso, mas se você vencer a barreira da atividade física, você sofre menos nos 60. Isso é fisiológico, a queda é drástica para 60 anos. Se você pegar uma pessoa que nunca fez nada e comprar com uma que fez atividade física no curso da vida, a diferença é grande. A gente nasceu para envelhecer, nasceu para degenerar. Mas hoje você consegue amenizar muito mais facilmente com a atividade física, alimentação saudável, descanso, hidratação. Não é só atividade física, é um conjunto de cuidados e bons hábitos como dormir, que é um excelente reparador. Hoje estamos vendo pessoas com 70, 80, 90 anos tendo autonomia. Eu gosto muito dessa palavra autonomia. As pessoas podem começar a fazer isso aos 60, 65, 70 anos e conseguir essa autonomia diminuindo a perda de massa óssea, perda de massa magra, que você tende a perder muito rápido depois dos 60.
Nesse processo aí, quem manda melhor, o homem ou a mulher?
A mulher, muito à frente. A mulher se dedica muito mais, se preocupa muito mais. E a maioria dos maridos que fazem atividade é porque elas influenciam, ou porque elas obrigam. A mulher é mais disciplinada
Você já expandiu para a Região dos Lagos, o vizinho estado do Espírito Santo… já habitou na sua cabeça a possibilidade de uma franquia?
Isso passa muito na minha cabeça todos os dias. Se eu vou franquear, se eu não vou franquear. É preciso muito estudo, tanto que estou cursando MBA na USP em Gestão e Liderança. A nossa base é uma cultura e uma comunidade muito forte, e isso numa franquia pode acabar se perdendo. Então, não é que eu sou o controlador, é porque o nosso trabalho é tão criterioso que quando você coloca empresários, porque os franqueados são empresários, você tem que lidar com o ego de muita gente. Então, a tendência ali é você perder um pouco a qualidade. E a gente está escalando com qualidade. Hoje estamos indo para 11 unidades, 12 unidades daqui a pouco. E a gente está conseguindo escalar com qualidade. Nosso receio da franquia é justamente a gente perder qualidade.