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Projeto de jiu-jitsu transforma a vida de jovens autistas

Atividade esportiva promove inclusão e fortalece laços de famílias atípicas

Campos
Por Leonardo Pedrosa
17 de agosto de 2025 - 0h04
Ensinamento|Marcos Luis Lima e Renato Soares (Fotos: Silvana Rust)

Em Campos, um tatame se tornou espaço de inclusão, superação e amor. Fundada há quase dois anos pelos professores Marcos Luís Lima (Mancha) e Renato Soares, a Atrios Jiu-Jitsu é hoje a única academia da cidade que recebe alunos com transtorno do espectro autista (TEA) de todos os níveis de suporte, oferecendo atendimento individualizado e adaptado às necessidades de cada um.

A iniciativa nasceu de um sonho antigo. Mancha trabalhou com crianças autistas e percebeu que o jiu-jitsu poderia desenvolver coordenação, força, além de melhorar a regulação emocional. “É um desafio grande, porque trabalhamos com crianças não verbais. Então eles nos imitam para aprender, vão ganhando confiança, e nós também aprendemos a nos comunicar com elas. É uma troca que transforma vidas e a gente tem tido uma resposta muito boa”, conta.

Renato reforça que a metodologia das aulas é fruto de estudo. Ambos concluíram cursos de jiu-jitsu para autistas, psicomotricidade e jiu-jitsu inclusivo para pessoas com deficiência, além de se capacitarem em Libras para ampliar a comunicação. “Enquanto eu ensino jiu-jitsu a eles, eles me ensinam o que é amor. Cada aula com essas crianças renova a minha energia, e é por isso que eu busco cada vez mais estudar para apresentar a elas um trabalho de qualidade. Somos uma engrenagem na família deles, então, saber que essa engrenagem está rodando direitinho, não tem preço”, afirma.

As aulas respeitam o ritmo e as limitações de cada aluno e incluem exercícios de coordenação motora, técnicas básicas da modalidade e dinâmicas que estimulam o foco, a disciplina e a socialização. Tudo é conduzido de forma lúdica e segura, com atenção especial à comunicação e à interação, garantindo que os jovens se sintam acolhidos e motivados a participar.

Suelen Pagani

Impacto além do tatame
Suelen Pagani, mãe de Joaquim, de seis anos, relata que o filho, antes resistente a roupas e ao kimono, hoje veste o uniforme com naturalidade. “Joaquim tem muita questão sensorial. Na época de frio, ele dá um pouquinho de trabalho para aceitar botar casaco. Com o kimono, no início, ele não deixava colocar. Hoje ele já aceita. Aqui, de fato, é um ambiente muito acolhedor. Cada característica da criança, tentam trabalhar individualmente”, diz.

Muitas famílias de crianças autistas enfrentam um caminho que vai além do diagnóstico. Para Esther Gomes, mãe de Benjamim, de oito anos e nível três de suporte, “portas fechadas” surgem em cada tentativa de encontrar atividades e profissionais preparados para atender às necessidades específicas de seu filho.

Esther Gomes

“A gente costuma dizer que as famílias atípicas vivem no mesmo oceano, que é o autismo, mas em barcos diferentes. Percebi nos professores muita técnica, disciplina, compromisso, mas sobretudo um amor muito grande pela causa. É essa atenção que a família atípica precisa. Hoje vejo frutos desse tempo que o Benjamim passa aqui, ele está mais posturado, mais confiante”, disse.