A Igreja Nossa Senhora da Lapa, em Campos dos Goytacazes, tema de reportagem especial nesta edição do J3News, é um dos casos mais recentes de templos católicos invadidos e depredados no município. Entretanto, há pelo menos 30 notificações de furtos e roubos em templos ligados a Diocese de Campos, que abrange cidades do Norte e Noroeste Fluminense, nos últimos cinco anos. Há denúncias, ainda, de ataques a templos e terreiros ligados às religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé. Lideranças católicas, umbandistas e candomblecistas cogitam a prática de intolerância e racismo religiosos que tem crescido, e que se mistura a ações criminosas como roubo, furto e vandalismo.
De acordo com levantamento da Diocese de Campos realizado nos 17 municípios que compõem o território, desde o ano de 2019 foram 31 casos de furtos e vandalismo nas Igrejas e capelas. Em 2025, até o momento, a Igreja da Lapa foi o segundo caso. Um outro aconteceu na Baixada Campista. Além de Campos, que tem maioria dos casos notificados, a cidade de Itaperuna aparece com quatro casos de furtos e roubos. Os prejuízos ultrapassam R$ 50 mil.
“Foram feitos boletins de ocorrência nas delegacias. Tivemos um encontro com agentes e oficiais do 8º BPM, que deram orientações de prevenção e encaminhamento das ocasiões de furto e roubo. Tivemos apenas indícios sobre o tipo de pessoas que teriam feito os furtos. Em Itaperuna, foi encontrado e preso o depredador. Houve um aumento de contratação de serviços de vigilância, bem como dispositivos de alarme e câmeras”, informou o bispo dom Roberto Francisco Ferrería Paz.
A Diocese de Campos acredita que a solução deve ser arquitetada com todas as forças e poderes. “A sinergia é que constrói a segurança pública e coletiva. Há duas causas verificadas à intolerância religiosa contra católicos e terreiros, confirmada pelo subsecretário de Igualdade Racial e Direitos Humanos de Campos, Totinho Capoeira. Há furtos cometidos por pessoas com dependência química. Todos estes delitos são um atentado contra a liberdade religiosa e constituem profanação de templos, ferindo a consciência e sensibilidade religiosa dos fiéis”, diz o bispo.
Preconceito e debate
O subsecretário Totinho Capoeira lembra que, entre as décadas de 1970 e 2020, terreiros e casas de tradição religiosa em Campos dos Goytacazes sofreram diversos tipos de ataques e perseguições. Este ano, houve ataques em Farol de São Thomé, Poço Gordo e São Sebastião.
“No passado, havia um delegado que cometia ações de repressão direta, com invasões, fechamentos de terreiros e apreensão de instrumentos sagrados. A atuação da Liga Umbandista Cristã contribuiu, ao longo do tempo, para reduzir essas práticas. No entanto, a partir dos anos 2000, novos tipos de intolerância religiosa passaram a ocorrer. A situação se agravou por volta de 2015, com o surgimento de casos em que o tráfico de drogas passou a invadir esses espaços. Em Campos, até 2023, pelo menos 69 casas haviam sido violadas. Os casos incluem desde proibição de rituais e limitação de horários para tocar instrumentos, até expulsões forçadas e controle sobre quem pode ou não frequentar os locais. Essas agressões ferem o direito à liberdade religiosa e comprometem a existência desses espaços de tradição afro-brasileira”, diz o subsecretário.
No dia 28 de agosto, será realizado na Câmara de Vereadores de Campos o Fórum Regional de Diálogo Interreligioso do Norte e Noroeste Fluminense. O evento reunirá representantes de diferentes religiões — como o babalaô Dr. Ivaninho dos Santos, o bispo Dom Roberto e membros das tradições judaico-cristãs protestantes — além da Defensoria Pública, Ministério Público, OAB e movimentos sociais.
“O objetivo é debater a construção de políticas públicas que garantam a liberdade religiosa. Entre os avanços já conquistados no município, destacam-se a criação do Disque Direitos Humanos e uma coordenação para atendimento a vítimas de intolerância religiosa e racismo, fruto da atuação do Fórum Municipal de Religiões Afro-Brasileiras e do Movimento Negro Unificado”, conclui Totinho Capoeira.