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Governabilidade em risco

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
25 de fevereiro de 2025 - 17h52

Não dá pra negar que o governo federal fechou 2024 em dificuldades e nos 58 dias de 2025 a situação vem piorando de forma meteórica, como não se supunha nem na pior das avaliações.

Lembrando o dito popular, já seria grave dizer que o País precisa matar um leão por dia. Mas é bem pior: não consegue matar um leão por dia e as garras afiadas avançam sobre o Brasil de maneira implacável.

Não há exagero. Ao contrário, o momento é de severa advertência. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está no fio da navalha. Pode mudar o rumo fazendo tudo diferente e reverter o quadro negativo com ações inovadoras e precisas – o que não é fácil. Mas pode, também, perder-se numa recessão. Sim, porque o ‘x’ da questão não está só no x, mas também ‘y’ e no ‘z’: É a economia. É sempre a economia.

A economia é a locomotiva de qualquer país. Ela tanto puxa e faz andar todos os setores, como ‘empaca’ nos trilhos e os vagões ficam encalhados. Em grande parte, como não poderia deixar de ser, tudo depende dos manobristas.

Risco – O pior dos desenhos é o risco da guilhotina sobre a governabilidade. Ela ainda não se mostra e só entre cochichos é sussurrada. Mas está ali, pelos cantinhos.

Citando exemplos do quadro negativo que se agravou entre meados de janeiro até semana passada – alguns poucos e ainda assim repetitivos ao que já fora publicado – a Quaest apurou, entre 23 e 26 de janeiro, que pela primeira vez a reprovação de Lula superou a aprovação: 49% contra 47%.

Queda inédita – Dias depois também o Datafolha revelou em pesquisa feita entre os dias 10 e 11 de fevereiro queda acentuada na avaliação positiva de Lula: 11%. De 35% para 24%. Os percentuais de avaliação negativa também foram inéditos, passando de 34% para 41%.   

Em termos gerais, a percepção negativa do governo Lula alcança a maior parte da população e dos segmentos de trabalho. No Nordeste, reduto tradicional do PT, o governo perdeu pontos. Entre os mais pobres, pela primeira vez o presidente está sendo mal avaliado.

Outro levantamento igualmente desfavorável foi feito pelo Instituto Ipsos, captando que 60% da população brasileira consideram que o País está “na direção errada”. A pesquisa foi divulgada com exclusividade pelo Globo, em 21 de janeiro.

Segundo o levantamento Ipsos, lideram o ranking de problemas do Brasil: crime e violência, saúde; pobreza e desigualdade social; corrupção e inflação.  

Obstáculos vão se acumulando

O Planalto tem questões difíceis para equacionar que não serão solucionadas num piscar de olhos. Estamos na semana pré-carnaval, que como de costume se estende até o domingo pós 4ª-feira de cinzas. Logo, 10 de março.

Entretanto, talvez seja um período propício para o governo do presidente Lula traçar metas que se harmonizem com políticas públicas sérias.Por ora, temos o acúmulo da inflação – que, ao contrário do que disse Lula, não está “razoavelmente controlada” –, o desgaste do Pix, os juros altos e, o pior dos males, a falta de habilidade do governo de conter as despesas públicas.

O Congresso hostil precisa ser “melhor trabalhado” – falta um interlocutor hábil – e, já na posse de Hugo Motta como presidente da Câmara, o deputado desprestigiou o presidente Lula ao dizer que as “pautas dos costumes” – um tema importante na campanha de 2022 – “não são prioridade”.

Nada a ver com o Mensalão

Sobre o Mensalão, o maior escândalo da História da República até então, o presidente Lula, com a popularidade em alta e a economia mundial nadando de braçada, disse que não tinha nenhum conhecimento.

Nada sabia sobre a teia de corrupção orquestrada no gabinete colado ao seu – o do chefe da Casa Civil, “companheiro” José Dirceu. Depois, quando o escândalo se avolumou, comprovando que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava mesada a parlamentares em troca de apoio ao governo no Congresso, Lula disse que se sentia traído. Na ocasião, a TV Globo chamou a atenção de que o presidente, em rede nacional, não disse “fui traído”, mas que “se sentia traído” – sutil diferença.

O que fez – A partir daí o presidente fez o que fazia de melhor. Saiu Brasil afora repetindo a velha retórica de “retirante nordestino” e que as elites brasileiras não aceitavam que um trabalhador ocupasse a Presidência da República. Funcionou: Zé-Dirceu saiu do governo e voltou para a Câmara. Foi cassado.

Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e outros principais da organização criminosa foram condenados, mas um ano depois já cumpriam pena em casa. Outros foram para o regime semiaberto e outros tantos para o aberto. ‘Sobrou’, mesmo, para o publicitário Marcos Valério. Lula foi reeleito.

Desta feita são outros 500

Há comentários, inclusive de veículos de comunicação, de que o presidente estaria tentando reeditar, em parte, as técnicas do Mensalão.

Isso porque Lula, ante as quedas recordes de popularidade, a economia estagnada, inflação e toda a culpa (ainda) sobre os ombros de… Campos Neto, ensaiou viajar pelo País inaugurando obras de menor expressão, anunciando programas, distribuindo bonés e dando entrevistas desconexas em emissoras locais, etc. o que, de certa forma, faz lembrar o modus operandi da época do Mensalão.

Contudo, até para fazer justiça ao presidente, a comparação não procede: 1) As circunstâncias são outras. 2) Não se trata de corrupção, mas de desajuste político-econômico. 3) Lula não tem mais o povo a seu lado. Ao contrário, é hostilizado. 4) O Brasil vive uma crise administrativa que faz reduzir a comida na mesa do trabalhador – nada a ver com mesada a deputado. 5) São 20 anos de diferença. O presidente de 79 anos não tem mais o reflexo, a disposição e a força física. Afinal, o tempo é implacável.

Por fim, ainda que um gesto ou outro possa fazer lembrar 2005… não é por aí. Lula da Silva está fazendo quase tudo errado, mas para o bem ou para o mal, o Mensalão ficou no passado.