No mês da Consciência Negra, o músico e produtor cultural Marcelo Benjá traça um panorama sobre os desafios enfrentados por artistas negros no mercado local e nacional. Reconhece a escassez de oportunidades e cita exemplos de Campos dos Goytacazes, onde poucos artistas se destacam como donos de seus próprios trabalhos: “São pouquíssimos artistas negros trabalhando com música na noite. Muitos atuam em nichos como o samba e o pagode, mas geralmente sem autonomia sobre seus trabalhos e recebendo baixos cachês. Isso se repete nas cidades por onde passo.”
Para Marcelo Benjá, a cultura é essencial para a transformação social e deveria estar nas escolas desde cedo. Ele destaca que a arte tem o poder de moldar pensamentos, provocar reflexões e formar cidadãos mais críticos: “A música e a cultura já me salvaram de tantas formas que nem consigo enumerar. Transformam vidas e ajudam a construir pessoas melhores. É incompreensível que governantes não enxerguem isso. A ausência de projetos culturais é um dos fatores que perpetuam as desigualdades”, considera.
Em relação à Consciência Negra, Benjá enxerga novembro como um momento de reflexão e organização, mais do que de celebração. Ele ressalta a importância de conhecer a história de Zumbi dos Palmares e o impacto da escravidão no Brasil. “Esses temas deveriam ser parte do currículo escolar, pois não existe uma história do Brasil sem a história do povo negro.”
Sobre o papel de artistas, governos e empresas na promoção da cultura e no combate ao racismo, Marcelo Benjá avalia que as escolas poderiam ser um ponto de partida para essas transformações. Ele defende a contratação de artistas negros para levar arte e cultura às crianças, promovendo a conscientização desde cedo. “Estamos criando dignidade e igualdade de oportunidades, não privilégios. Mas para isso é preciso contar a história completa, não apenas a parte narrada pelos vencedores.”
O artista menciona a crescente visibilidade de negros na mídia, embora critique o fato de muitas vezes ser motivada por interesses comerciais. “Ainda assim, reconheço o avanço. Que bom que isso está acontecendo, mesmo que por razões financeiras. Mas o poder público precisa se atentar para oferecer as mesmas oportunidades a artistas e profissionais negros.”
Marcelo Benjá gosta de citar uma frase marcante da ativista norte-americana Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista; é necessário ser antirracista.” Ele reflete sobre sua criação em um ambiente de piadas racistas e como levou anos para compreender os danos dessa normalização: “O racismo estrutural está impregnado em nossa sociedade. As pessoas precisam ser educadas a combatê-lo desde cedo.”
O cantor e compositor reafirma o compromisso de usar sua arte para inspirar mudanças e abrir caminhos: “A luta não é só por espaço, é por respeito, igualdade e pelo direito de sonhar com um futuro mais justo”, conclui.