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Um olho nos avanços e outro nos limites e aumento da desigualdade

O Brasil precisa fornecer meios que garantam maior inclusão digital

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
25 de novembro de 2024 - 9h23

Como acontece em vários segmentos da vida social, o crescimento meteórico e desorganizado de inovações e serviços colocados à disposição do público tendem a encontrar limites nas próprias deformidades e problemas que acabam por dar origem.

É o caso da inteligência artificial, instrumento revolucionário de alta tecnologia, mas que já encontra barreiras desfavoráveis a seu uso. Num país como o Brasil, em que o mundo digital ainda é um desafio para grande parte da população, a IA passa por cima de etapas que não foram exploradas e gera problemas em diferentes frentes.

Tema recentemente abordado de forma extensa pelo Estadão, para além dos quase 30 milhões de brasileiros que não usam Internet, há que acrescentar os 24 milhões que têm apenas o Ensino Fundamental e outros quase 20 milhões que compõem as classes D e E. Não é preciso maior reflexão para entender que para esses a IA é um ‘monstro’ – um ‘extraterrestre’ que muitos sequer ouviram falar.

Apesar do estudo da consultoria Galup, divulgado no mês passado, ter indicado que 67% dos profissionais entrevistados disseram que nunca usaram a IA no trabalho, os que se valem da ferramenta e apenas acham que dominam sua tecnologia enfrentam um problema silencioso. Simples: não conhecer com abrangência sua utilização acaba colocando-os na posição de dispensáveis. Logo, se não vão além do que a IA disponibiliza, basta a máquina para fazer o trabalho. Assim, a IA é capaz de tirar o emprego não só daqueles que sobre ela nada sabem, como dos que acreditando estarem impulsionando suas carreiras, podem virar seus reféns.

Danos colaterais – Outras deformidades ainda longe de serem solucionadas residem na questão da IA, diante de não saber o que dizer, entregar dados alheios à verdade. Ou seja, ela não está preparada para não responder o que não sabe. Em outras palavras, mesmo sem ângulo ou direção, rebate a bola seja para onde for. Há, ainda, a falta de privacidade das informações que pode replicar para estranhos conteúdo confidencial, bem como a violação dos direitos autorais, entre outros.

Um exemplo que expõe outro problema pode ser comparado à calculadora. Sua função é agilizar as operações matemáticas, contudo, sem nos excluir de sabermos como realizá-las. Já o uso da IA sem o devido entendimento, digamos, pelas causas, nos afasta da compreensão – do passo a passo – do que está sendo operacionalizado. Isso abre espaço para que tomemos decisões arriscadas, posto que com base em resultados alheios a nosso entendimento.

Desigualdade – As instituições, o governo e a sociedade como um todo devem se preocupar em criar mecanismos para que o Brasil, já marcado por tantas desigualdades – em especial as provenientes do âmbito econômica – não crie mais uma: a desigualdade digital num País onde privilegiados têm amplo acesso, enquanto os ‘invisíveis’ sequer têm noções rudimentares da Internet.

Como dito no início da matéria, as inovações do mundo On-line poderão criar situações que exijam regulamentação e limitação. Mas, até lá, é necessário que se garanta aos menos favorecidos um mínimo de acesso digital. Trata-se de investimento que cabe majoritariamente ao governo. Mas, o que esperar de governos que nem mesmo conseguem cortar gastos, travar os altos salários e garantir uma renda digna ao povo?  

Ainda mais grave, é imprescindível o olhar atento para que o uso a IA – quer de forma correta ou incorreta – não amplie o quadro de desemprego num País continental, de extensa área rural e que depende do trabalho do homem do campo para impulsionar ainda mais o Agronegócio – braço direito da economia nacional.

Avanço – Bem entendido, não se está falando contra a inteligência artificial. Ao contrário, entende-se perfeitamente que o instrumento de alta tecnologia não deve ser desprezado, mas aperfeiçoado.

Sem a IA, o Brasil ficaria isolado num mundo globalizado e cada vez mais tecnológico. Além do que, a IA nos oferece a oportunidade de grandes avanços nas mais diferentes áreas. Uma ferramenta capaz de potencializar toda nossa estrutura sócio econômica. Mas, nas frestas, existem riscos a serem observados com olhos de águia.