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Projeto musical com alunos da UFF se destaca nas ruas de Campos

Aqualtune é um coletivo de percussionistas que surgiu no curso de Psicologia da instituição

Música
Por Ocinei Trindade
20 de julho de 2024 - 11h08
Integrantes da Aqualtune da UFF (Reprodução)

Alguns artistas e músicos que se apresentam nas ruas de Campos dos Goytacazes são retratados na reportagem do J3News, “Arte que pulsa nas ruas de Campos” (Leia Aqui). Entre os citados, estão os percussionistas da Aqualtune, coletivo musical que nasceu no curso de Psicologia da  Universidade Federal Fluminense, em 2023. O projeto de extensão universitária foca nos ritmos de matrizes afro-brasileiras. Oficinas acontecem semanalmente e são coordenadas pelo professor e pesquisador, Alexander Ruas. Ele leciona nos cursos de Serviço Social, Ciências Sociais e Psicologia. A seguir, ele aborda as atividades da Aqualtune, a importância da música na formação profissional e os cuidados com a saúde mental.

Como surgiu o movimento de percussão da UFF em Campos?

O coletivo surgiu a partir da percepção de que não há atividades musicais no polo da UFF- Campos, ao mesmo tempo em que existem muitos estudantes interessados em fazer música. Eu sempre trabalhei com o tema da saúde mental e música. Meu tema do mestrado foi esse. No Rio de Janeiro, toco em dois grupos de percussão. Então, fui juntando as experiências com os desejos dos estudantes, e saiu a Aqualtune, nosso grupo.

Quantos participantes costumam estar nos encontros?

Hoje somos uma extensão aberta à comunidade. Temos um núcleo sempre presente entre 10 e 15 pessoas, e encontros que podem ter mais de 20 pessoas. O grupo não possui financiamento. Temos limitação em relação ao número de instrumentos, o que nos impede de ampliar a entrada de pessoas novas.

Alex Ruas é professor da UFF e coordenador do projeto de percussão

Quais os locais são mais comuns para apresentação?

Fazemos ensaios todos os sábados na UFF, e agora temos experimentado sair às ruas. Fizemos uma apresentação pelo Museu de Arte do Rio na exposição “Meu Lugar”, na Praça São Salvador no início do ano; participamos da manifestação dos catadores de lixo; tocamos no Jardim São Benedito, e também no Pelourinho. Estamos pensando em circular pela cidade, tendo os lugares históricos com significado para a cultura como pontos de especial interesse.

No Calçadão do Centro de Campos, o interesse do público foi imediato. Como analisa a recepção das pessoas na rua?

Entendo que a falta de manifestações culturais de rua no Centro de Campos, principalmente de um grupo de percussão, faz aguçar a curiosidade e produzir interesse. No tempo que ando pela cidade, nunca vejo a arte como foco. É um pouco esse o nosso objetivo: levar a música percussiva afro-brasileira para quem está na rua e deseja ouvir.

A música faz parte da formação do curso de Psicologia da UFF? Qual a importância da arte nas atividades de um profissional ou do psicólogo?

Nas minhas aulas, eu sempre levo a música de diferentes maneiras, seja através de letras, tocando ao vivo ou colocando clipes que são pertinentes. Acho que a formação em Psicologia ainda precisa se abrir mais às artes, mas estamos nesse caminho. Quando eu me formei, não havia muito sobre o assunto. Hoje, já temos disciplinas eletivas, projetos de extensão, pesquisa e publicações, além de práticas artísticas nos dispositivos de saúde mental, como os CAPS, por exemplo.

É fundamental o consumo e produção de arte por profissionais de Psicologia. É através da arte que fortalecemos os vínculos com a criação, o improviso e o senso de coletividade. Poder exercitar isso, principalmente na fase universitária, é parte integrante da formação. É uma aposta política no que a arte pode nos ensinar e também em como ela pode cuidar da gente.

Integrantes da Aqualtune no Centro de Campos

Entrevistei alguns artistas de rua de Campos que tinham profissões formais, mas optaram pela arte de rua por não se sentirem felizes no que faziam. Como observa essa decisão de viver da arte e exercer uma certa liberdade fora dos padrões?

É muito importante a gente identificar o que nos faz sentir bem, potentes e alegres, pois esses são os afetos que movem a vida e produzem saúde. No meio de tantas notícias tristes e dias difíceis, fazer o que gostamos, receber da rua a troca, os aplausos, o carinho e o sorriso, isto é fundamental, pois sabemos que estamos também produzindo coisas boas para os  outros.

Muitas pessoas nos seus empregos formais e, supostamente seguros, se entristecem e adoecem muito com a burocracia, a pressão e com as relações desgastadas. A queixa comum é de que elas dão muito mais do que recebem. Quando estamos na rua fazendo arte, estamos recebendo do público na mesma ou maior intensidade, e isso nos alimenta de energia.

Independentemente das expressões artísticas, qual a importância delas para a saúde mental e emocional das pessoas?

A arte é item básico na formação do ser humano e na produção de saúde mental. Foi ela que nos sustentou emocionalmente durante a recente pandemia, e em vários outros momentos de crise da história. Gilberto Gil costuma dizer que “é item de sobrevivência; deve estar na cesta básica de todo brasileiro”. A arte nos alivia, faz a gente mexer o corpo, tem potencial de reduzir a ansiedade, nos dá a sensação de pertencimento grupal, e quando a produzimos, conseguimos nos expressar melhor e dar passagem às emoções que às vezes não conseguimos através da fala.

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