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Professora de História analisa participação de mulheres nas eleições de Campos deste ano

Elda Moura analisa pré-candidaturas femininas para a Câmara Municipal, abordadas em reportagem especial do J3News

Política
Por Ocinei Trindade
5 de julho de 2024 - 11h54

Elda Moura é professora de História (Acervo Pessoal)

A reportagem especial do J3News desta semana, “Mulheres em busca de vaga na Câmara” (clique aqui), analisa a situação dos principais partidos que devem cumprir a exigência da Justiça Eleitoral de lançarem, pelo menos, 30% de nomes femininos para disputar as eleições brasileiras. Campos dos Goytacazes, por exemplo, não conta com nenhuma mulher entre as 25 cadeiras da Câmara Municipal desde 2020. A professora de História, Elda Moura, analisa a situação de mulheres na política nacional, além de especular como deve ser a disputa eleitoral no Legislativo de Campos deste ano.

Como observa a participação de mulheres no cenário político brasileiro, em especial a situação de Campos dos Goytacazes que, no último pleito, não conseguiu eleger nenhuma vereadora?

A baixa representatividade feminina na política é um desafio nacional, embora representemos a maior parte população. Historicamente, a política sempre foi um habitat masculino, heranças do patriarcado e, no caso da política, do paternalismo que permeia as relações de poder brasileiras. No caso específico de Campos, creio que essa ausência se deve, baseada nas últimas eleições, ao conservadorismo do eleitorado da cidade, cuja a maioria é bolsonarista; e, consequentemente, machista  e misógino.

Além disso, acho que os partidos que poderiam lançar candidatas com potencial para cargos legislativos ou mesmo do executivo não se empenharam o suficiente. Creio que nesta eleição de 2024, a consciência e o empenho de muitos partidos tenham mudado. Parece que existe uma mobilização maior para reverter a ausência feminina nos quadros políticos da cidade.

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Por que considera ainda pequena a participação de mulheres na política, mesmo sendo elas a maioria da população brasileira?

Não tenho dúvida de que a baixa representatividade feminina na política está relacionada ao machismo, embora existam dispositivos legais para ampliar essa representatividade. A falta de sanções rigorosas permite que os partidos descumpram as normas, e acaba não surtindo o efeito previsto. A Lei das Eleições prevê que, ao menos 30% de seus candidatos sejam mulheres, mas não existe punição para quem desrespeita esse percentual. Isso sem falar nas candidaturas femininas “laranjas”, apenas para cumprir o percentual exigido. Enfim, política no Brasil ainda é visto como coisa de homens. Não apenas isso: homens brancos e héteros. As mulheres não são as únicas minorias sem representatividade.

Eleitora em frente à Câmara Municipal de Campos (Foto: Silvana Rust)

Quais as perspectivas políticas em Campos no aspecto do comportamento feminino?

Tenho visto várias pré-candidatas, sobretudo para o Legislativo, se articulando. Algumas candidaturas interessantes, com um longo histórico de militância, coisa que, pessoalmente, valorizo muito. Mas considero precoce opinar. Embora esteja torcendo muito para que consigamos eleger representantes femininas que estejam, de fato, comprometidas com as demandas das mulheres, sobretudo das mulheres pobres e periféricas.

O que considera relevante para Campos dos Goytacazes e seus eleitores pensarem acerca das eleições municipais deste ano?

Nos últimos anos, temos visto várias ações que visam garantir maior participação das mulheres nos espaços de poder. Eu espero que essas ações tragam um resultado efetivo, porque atualmente temos uma representação baixíssima. Algo em torno de 14,8%, apesar de representamos cerca de 51% da população. Eu espero, sinceramente, que esse quadro se reverta; que tenhamos cada vez mais representantes femininas ocupando quadros políticos. Mas, por outro lado, espero que essas mulheres estejam comprometidas em solucionar questões que afetam a todas nós, como mercado de trabalho;  violência doméstica; estupro; aborto.

Para mim, não é suficiente aumentar o percentual de mulheres na política, se estas estiverem alinhadas com pensamento machista que há séculos dita as regras da nossa sociedade. Infelizmente, atualmente, temos deputadas e senadoras que prestam um desserviço às causas femininas. Até nos envergonham. Levantando bandeiras que só interessam à manutenção do patriarcado do Brasil. Então, eu me preocupo que, além de haver um aumento do número de mulheres na política, elas nos representem de fato.