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PT-governo precisa decidir se vai ser mais PT ou mais governo

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
20 de junho de 2024 - 17h57
REUTERS/Adriano Machado/File Photo

As derrotas que o governo tem sofrido, que só no final de maio marcaram a derrubada do veto do presidente Lula da Silva mantendo restrições à ‘saidinha’ de presos; a manutenção do veto do ex-presidente Bolsonaro que dificulta punição à disseminação de fake News; a MP que reorganizou a Esplanada dos  Ministérios logo no início do mandato e, ainda, o decreto de

Lula com mudanças no marco legal do saneamento básico – entre outras –, revelam o que toda mídia nacional vem enfatizando: o governo se vê cada vez mais refém do Congresso e, se não reverter o quadro desfavorável, corre o risco de começar a perder a governabilidade.

A observação – para não dizer constatação –, não vem de hoje.  Ao contrário, passou a se manifestar claramente com 4 ou 5 meses de mandato. Nada disso é novidade e está sendo alertado constantemente pela grande imprensa – ao menos a que não é comprometida.

Não se vai repetir o já relacionado em dezenas de outras páginas deste espaço. Aliás, se artigos da maioria dos principais jornalistas e cientistas políticos do país, bem como matérias e pesquisas nacionais, advertem de forma veemente sobre a questão, este modesto texto se mostra até diminuto ao se imiscuir no assunto.

Contudo, a despeito de se tratar de um jornal semanário do interior, cumpre seu ofício de ‘abrir’ ao leitor o que de mais relevante transita pela política – palco que lidera e dá o tom a todos os demais segmentos em qualquer país.De mais a mais, já vai longe o tempo em que o leitor local e regional precisava recorrer às grandes publicações para se inteirar sobre os acontecimentos do Brasil. Poderá fazê-lo, claro.

Mas não necessariamente. Afinal, se o J3News não se engajasse em analisar e interpretar o cenário nacional, – com textos genuínos, enfatize-se, – não se lhe poderia atribuir condição de jornal.

O ‘propósito’  

Cumpre relembrar, não por ufanismo, mas por verdade facilmente comprovada, algumas vezes a sorte nos sorriu e publicamos, por exemplo, que a candidatura de ‘terceira via’, quando no auge, não iria prosperar.

Também que Lula não teria entre 14 e 18 pontos de diferença no 1º turno, conforme ‘acolheu’ a grande imprensa reproduzindo pesquisas. E tampouco que venceria no 1º turno chegando a 51 pontos. Bem diferente, a vantagem foi de 5 pontos. No 2º turno, a página não fez coro de que o petista venceria com diferença de 5, 6 a 8 pontos. Longe disso, a vitória foi de 1,8% – a menor da história. 

Várias outras amostras poderiam ser citadas, mas não é o caso. Evidente, não se tem a pretensão do monopólio de discordar e acertar – o que seria até ridículo. Outras publicações também não embarcaram nos equívocos. Mas foram poucas. 

O ‘fator’ Haddad

O ‘propósito’ acima mencionado tem seus motivos, muito embora com certa dose de especulação. Ocorre que desde o início do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem mostrado humildade e perseverança para melhorar a economia. Boa parte da população o considera como algoz por falar em taxar isso e aquilo.

Mas é preciso ‘levantar’ dinheiro para cobrir rombos e equilibrar as contas. E mais: na ponta da renúncia fiscal está o gasto, como se fosse uma despesa.  Haddad pode não ser o expert em economia que o país precisa, mas foi nomeado para a Fazenda.

Logo, se constituiu um erro, já deveria ter sido trocado. Como não foi, é inaceitável que não receba apoio político do governo. Lá atrás, quando apresentou o arcabouço fiscal, também não teve acolhimento significativo dos demais ministros. E o presidente Lula se manifestou de forma tímida.

Camuflado 

Cabe considerar, ainda, que a relativa sintonia entre Haddad e Campos Neto não foi digerida pela ala mais beligerante do PT, e daí em diante o ministro passou quase à condição de peixe fora d’água.

Curioso, com erros e acertos, avanços e recuos, a economia poderia estar bem pior do que está. Mais ainda, na maior parte do tempo, suas ações foram endossadas pelos principais economistas do país.

Entretanto, não se pode afastar a possibilidade – nada inteligente e que remete a certo despeito – do incômodo causado ao PT por conta da homenagem que o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, prestou a Fernando Haddad.

Com efeito, apesar de ser de oposição, será que o PT acha que o governo terá sucesso excluindo um estado com quase 45 milhões de habitantes? Não seria mais inteligente manter as diferenças partidárias, mas sem ter São Paulo como inimigo?

Turbulência

O pior – concluindo o que este texto pretende ressaltar –, foram os riscos que o país correu, em especial a partir da devolução pelo Senado da MP que traz mudanças no Cofins para compensar a desoneração da folha de pagamento de empresas e municípios.

Sem cerimônia, o líder do governo, Jaques Wagner, mostrou insatisfação com a proposta de Haddad ao ‘aplaudir’ a iniciativa de Pacheco em devolver a MP. Ainda mais enfático, disse que o “erro” foi da Fazenda e Lula teve que aceitar a devolução para evitar algo ainda pior. Ora, isso nem é ‘fogo amigo’, é oposição indisfarçável.

Fala de Lula mudou clima

De certo, o que supostamente aconteceu nos bastidores não é de todo conhecido. Mas não deixa dúvida que a declaração de Lula fez baixar o tom geral e ‘deu moral’ a Haddad. O presidente afirmou – no que tem toda razão – que todo ministro da Fazenda “vira o centro dos debates” porque precisa conciliar diferentes interesses.Por enquanto, Haddad recuou.

Em declaração posterior, falou em “ritmo mais intenso”, acrescentando que irá promover estudo amplo sobre a questão dos gastos e revisão de despesas”. Após o pronunciamento o mercado acalmou, bem como a “artilharia” vinda do próprio governo.

É necessário conscientização coletiva porque com o governo mergulhado em dificuldades, a essa altura do campeonato uma saída intempestiva do ministro da Fazenda traria enorme insegurança.