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DESPEDIDA – Zé Maurício

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
27 de maio de 2024 - 15h02

Fazia uns 15 anos que não o via. Talvez mais. Contudo, período bem maior que este foi o que convivemos visto que, como ele dizia, “te conheço desde que usava calça curta, moleque, e já ‘te botei’ muito no colo”.

O deputado José Maurício Linhares Barreto era amigo íntimo de meu pai, amizade que com muito orgulho herdei e desfrutei. O “colo” acho que era exagero. Mas o “calça-curta”, não. Seja como for, em fins da década de 70 passei a privar do convívio de José Maurício, particularmente pelas visitas frequentes dele ao jornal A Cidade e em oportunidades outras.

Curioso que, não obstante o jornalista Vivaldo Belido de Almeida tenha tido alinhamento político com Alair Ferreira por mais de 4 décadas – até seu falecimento – fosse seu amigo particular e principal aliado na imprensa de Campos, como deixa claro no livro Política & Políticos – com José Maurício a intimidade era maior, quer porque ambos tenham, por assim dizer, começado a vida juntos, quer pela circunstância de maior proximidade.

Como curiosidade, A Cidade chegou a montar uma pequena sucursal em Niterói, que não foi à frente. Acho que na virada da década de 50/60 – não tenho certeza, era criança de colo. Segundo me disse Vivaldo Belido, Zé Maurício, que já residia lá, ficou incumbido de alguma função. E isso era assunto recorrente em nossas conversas. Só que ‘Zé’ dizia que era mentira, isso na frente de Vivaldo, e a ‘questão’ era levada na base da gozação.

Então, só sei que a sucursal realmente existiu, e mais nada.Diria que Alair tenha sido mais amigo do que íntimo – idas quase semanais do jornalista aos escritórios na Graça Aranha (Rio), seguidos de almoços ali pelos arredores; rápidas visitas de Alair ao jornal e nos almoços aqui, no Planície. Mas Zé Maurício era dos encontros mais demorados, de idas lá em casa, etc.

Enfim, tão amigo quanto íntimo. E nos períodos eleitorais, A Cidade fazia campanha também para ele, seja com matérias sobre sua atuação parlamentar ou em grandes anúncios.Havia, também, uma questão familiar por parte de meus avós maternos. Togo de Barros, padrinho político de José Maurício, tinha amizade com meus avós (acho que) em Campo Limpo, e foi um elo de ligação. Mas disso sei pouco e já não tenho a quem recorrer para informações.

De certo, acho que poucos irão ler este artigo, face ao tamanho. Mas paciência! Não obstante longo, estou ‘pulando muita coisa’. Zé Maurício morreu no sábado (18) e o jornal já estava impresso. Então, ou escrevia agora, ou ficaria ainda mais distante. 

De toda forma, minha maior ligação com ‘Zé’ foi na década de 90, em encontros que foram se tornando cada vez mais frequentes. Algumas vezes ia apanhá-lo no aeroporto, e parávamos aqui e ali, na casa fulano e beltrano. A Cidade já havia sido vendida e, penso eu, foi um período que José Maurício apareceu mais por aqui. Como tinha assuntos a tratar sobre terras, nos arredores de Cambayba ou Barcelos – também não sei ao certo – foi algumas vezes na minha casa de Atafona, a maioria delas acompanhado de Benedito Marques e outros amigos – bem como em Campos.

Por aqueles tempos o apresentei ao Fábio. Zé logo se encantou com a nova liderança classista que surgia – e como tal se revelou, particularmente na CDL – e foi um dos entusiastas de sua eleição como presidente da entidade. Lá em Atafona, principalmente no verão, foram muitos os encontros. Murillo Dieguez, por quem José Maurício tinha grande apreço, também participou de alguns almoços, churrascos, etc., – uns, inclusive, em sua casa de Chapéu de Sol, onde me lembro da presença do Benedito, do Roberto Henriques e outros. Peço todas as desculpas por omissões de nomes que inevitavelmente estou cometendo.

Foi pelas mãos de José Maurício que fiz uma entrevista com Brizola (para mim, ao lado de Mário Covas, o político mais brilhante de sua geração) publicada no extinto Primeira Página. Algumas vezes fui também em sua casa de Pendotiba, para longa conversas, onde preciso ressaltar a cordialidade ímpar de sua mulher, Edna. De refinada educação, invariavelmente me recebia com toda amabilidade, a quem, aqui, presto minhas condolências. Uma mulher de expressivo valor.

Nesse convívio tão próximo, Lilian, mulher de Fábio, chegou à Catedral no Landau prata de José Maurício, que ofereceu com todo prazer. Aliás, atrasado, acabei ‘pegando’ uma carona no Landau (meu carro havia estacionado na Formosa) em algum ponto da Lacerda Sobrinho – com Lilian já pronta para entrar. Óbvio, o veículo parou ao lado, eu desci para cumprir o protocolo da noiva chegar à porta da igreja como ‘manda o figurino’.

Enfim, mantivemos a amizade, mas, com o decorrer do tempo, não a proximidade. São as curvas da vida. Nas últimas vezes que vi José Maurício foi na Churrascaria Gramado, em cujo hotel ele se hospedava. Achei (é pura impressão, que pode estar errada), que depois de seis mandatos consecutivos, ficou um pouco desiludido com a política. Pensei em visitá-lo, mas não fui. Mais recentemente, o próprio Benedito Marques disse que ele estava com algum problema de audição – a idade chega para todos – e não quis arriscar uma visita que talvez fosse desconfortável tanto para ele quanto para mim.

Necessário registrar, José Maurício, lá nos anos 70, arriscou seu mandato quando foi encontrar-se com Brizola em Lisboa. Não sabia o que o esperava quando voltasse. Mas foi. O PDT e Estado do Rio devem muito a ele, particularmente por ter levado energia elétrica em lugarejos ‘esquecidos’ de dezenas de municípios fluminenses. O projeto ‘Uma luz na escuridão’ foi de sua autoria, beneficiando milhares de pessoas.

Preciso encerrar. Confesso que escrevo com emoção pelo que relatei e, muito mais, pelo que lembrei e não deu para escrever. Zé Maurício, estou certo, gostava de mim. Foi meu amigo e uma pessoa com quem muito aprendi. Faço este texto também como homenagem a um grande homem público, amigo dos amigos, simples, humilde e corajoso. Que descanse em paz.