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31/Marco 1964

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
1 de abril de 2024 - 14h55

Em meio a episódios que perturbaram o país, o presidente João Goulart perde a governabilidade, o golpe que estava a espreita acontece e abre a janela para a ditadura mais duradoura da História Política do Brasil 

Entre verdades e versões, o volume produzido por historiadores, jornalistas e cientistas políticos sobre o fatídico 1964 ocuparia um sem número de imensas bibliotecas. Afinal, há 60 anos renomados estudiosos se debruçam sobre o tema.

Mas, o que a história não revelou até agora, não o fará mais. São 6 décadas marcadas por um período inicial conturbado, alterado e manipulado. Vai para o túmulo, não obstante outros livros continuarão a ser escritos. 

Aqui, num minúsculo resumo, há que fazer justiça a um nome pouco divulgado, que garantiu a posse de Juscelino impedindo que o golpe de Estado fosse dado em 1954: Marechal Henrique Teixeira Lott.

O militar de direita, que ergueu bandeiras a favor da democracia, não só garantiu a posse de Juscelino como, também, ao se candidatar no pleito seguinte e ser derrotado por Jânio Quadros, novamente assegurou sua posse.

Nesse contexto, pode-se dizer que golpe foi abortado duas vezes: em 54, quando Getúlio se matou e com a trágica ‘solução’ venceu seus adversários; e em 60, na vitória de Jânio Quadros.

A renúncia de Jânio

O excêntrico Jânio Quadros – campeão de votos desde vereador a governador de São Paulo – venceu a eleição para presidente, mas renunciou 7 meses depois, em 25 de agosto de 61. Não faltaram rumores de que Jânio renunciou na esperança de sensibilizar as multidões e se tornar ditador. Mas nada disso aconteceu. O povo, aliás, não lhe deu crédito, mas desprezo.

Não por acaso Jânio havia enviado seu vice, João Goulart, para a China. Logo, bastante conveniente. E para retornar ao Brasil e assumir o cargo de presidente – até porque fora eleito vice-presidente – Jango enfrentou grandes adversidades. Os militares não o queriam por ser considerado comunista e a “solução” encontrada foi… “aceitamos Jango, mas num regime parlamentarista”. 

O primeiro-ministro indicado foi Tancredo Neves, ex-titular da pasta da Justiça do governo Vargas. (*É… a política brasileira é confusa assim mesmo). 

Jango assume

Um ano depois de empossado, Jango articula um plebiscito e o país retorna ao presidencialismo. Daí em diante instabilidade e insegurança tomaram conta do Brasil.

De fato, há os que afirmam que o próprio João Goulart não queria medidas tão extremadas como as apresentadas nas “reformas de base”, com destaque para o extenso e indiscriminado projeto de reforma agrária. Porém, estaria refém de grupos que garantiram sua posse – os sindicalistas, em particular – e não teve como ‘acalmar’ os aliados.

Erro – O erro que cometeu, mais que o comício da Central, foi a reunião no Automóvel Clube do Brasil com sargentos. O episódio foi o estopim, visto que interpretado como se o presidente estivesse conclamando uma rebelião. Iniciativa fatal porque, se há algo que os militares não negociam, é a hierarquia.

Com o país paralisado, escolas fechadas, inflação nas alturas, desordem de toda ordem, Jango realiza, ao lado da mulher, dona Maria Thereza Goulart, o ‘Comício de Central” – episódio que marcou seu fim na política nacional.

O Desfecho

João Goulart era preparado e tinha o apoio das massas. Mas a precipitação e o movimento errado na hora errada lhe tiraram da presidência. Uma diferença que ficou evidente em relação a seu padrinho político, Getúlio Vargas – o presidente mais popular da história do país. Enquanto Vargas, um ditador progressista, queria melhorar as condições dos trabalhadores, os comunistas (em que Jango correta ou incorretamente fôra enquadrado) queria acabar com a propriedade privada e colocar os operários no poder. Seja como for, Jango não teve astúcia e pulso para afastar os radicais que lhe cercavam.

Uma importante corrente de cientistas políticos e o grupo mais próximo de Jango asseguram que ele não teve tempo de explicar que não implantaria uma ditadura sindicalista no país – que era o maior temor da sociedade. E mais: preferiu o sacrifício de deixar a Presidência a correr o risco de ver o Brasil mergulhado em sangue.

Enfim –O golpe civil-militar de 31 de março – e por isso apoiado por grande parte da sociedade civil e políticos – prometida acalmar o país e promover eleições já no ano seguinte, em 1965.

Mas, ao contrário disso, mais adiante, retirou direitos, intimidou, torturou, matou brasileiros e se marcou o período mais trágico do Brasil.