Um perigo, muitas vezes, invisível. Os últimos casos envolvendo mortes de pessoas por choques elétricos no Estado do Rio de Janeiro têm chamado a atenção de autoridades públicas. Em Campos, no dia sete de março, momentos felizes para um adolescente de 16 anos que adorava jogar bola, terminaram em tragédia. Durante a prática do esporte na quadra de uma praça pública, ele se apoiou em um poste metalizado para descansar e recebeu uma descarga elétrica. Foi levado para o Hospital Ferreira Machado (HFM), mas morreu ao dar entrada na unidade. Outro jovem morreu eletrocutado dois dias depois em um festival de música, na cidade do Rio de Janeiro, ao encostar em um food truck energizado. Segundo o Corpo de Bombeiros, em 2023, foram 251 atendimentos de pessoas que tomaram choque em todo o Estado do Rio de Janeiro, somando casos em vias públicas e dentro de casa. Este ano, 66 ocorrências já foram registradas. Em Campos, foram cinco atendimentos em 2023 nesse sentido e nenhum em 2024 já que o adolescente foi socorrido por pessoas do bairro.
A morte do menino Cauã Almeida Albernaz, de 16 anos, causou medo e revolta aos moradores da comunidade do Sapo II, no bairro Novo Eldorado. Segundo Carlos Luiz Alves, morador antigo do local e responsável por um projeto social esportivo no bairro, a praça sempre está movimentada por crianças e adolescentes. “No dia da tragédia, Cauã jogava bola com os amigos, estava suado e encostou no poste para se apoiar. No momento do incidente, pessoas socorreram ele para o HFM”, contou. Carlos ainda afirma que ele e os moradores lutam por melhorias na praça há anos, mas o que prevalece é o descaso. “Vários postes davam choque aqui. As quadras estão em péssimas condições, o parquinho não tem brinquedo, não temos um campo de futebol e esses meninos daqui jogam bola o dia todo, é o sonho deles ser jogador de futebol. Pedimos sempre para que o poder público olhe por nós, mas estamos abandonados. Nosso medo agora só aumentou. Vamos fazer uma vaquinha entre os moradores para colocarmos canos em volta dos postes de metal da Prefeitura”, desabafou ele.
O Corpo de Bombeiros explicou que os acidentes acontecem justamente pela falha no aterramento de postes metálicos. “Via de regra, o poste não foi feito para provocar um choque, a fiação que está dentro dele, em geral, é isolada, mas por alguma modificação, esses fios podem vir a tocar a estrutura do poste e aí, sim, a gente pode ter um choque que pode, inclusive, causar morte”, informou em nota a corporação. O órgão ainda destacou que alguns fatores podem potencializar o choque, como a umidade do corpo, pelo suor ou pela própria chuva. “Isso pode intensificar a passagem da corrente elétrica pelo corpo também”.
Por meio de nota, a concessionária Enel Distribuição Rio informou que “o poste que causou a descarga elétrica na praça do Sapo II não pertence à rede de distribuição da Enel, que é exclusivo para a iluminação pública. A companhia acrescenta ainda que a manutenção da infraestrutura de iluminação pública não é de responsabilidade da distribuidora”, declarou.
Questionada sobre quais providências foram tomadas após a morte do adolescente na praça pública, a Prefeitura informou que “na ocasião, tomou todas as providências para assistir a família do jovem e ainda aguardar o resultado da perícia”. O município não respondeu sobre a necessidade de melhorias no local, conforme apontou Carlos, morador do bairro.
Corpo de Bombeiros faz alerta
A corporação orientou para que a população fique atenta às fiações que caem no chão, muitas vezes pela ação do vento ou por alguma outra situação que possa ter derrubado um poste. “O ideal é ficar bem distante dos fios soltos, se puder, passe pelo outro lado da rua para que tenha maior segurança possível. Chame o corpo de bombeiros e a concessionária de energia responsável para que eles possam dar segurança no local”. O órgão ainda orienta sobre como lidar com uma vítima de choque elétrico: “Se avistar uma pessoa no chão, por este motivo, jamais deve encostar-se a ela. A primeira coisa a ser feita é isolar o local, chamar o corpo de bombeiros para que ele possa dar a segurança. Qualquer pessoa que possa vir a tocar nessa vítima, pode virar uma segunda vítima”, destacou.
Enel afirma fazer ações para retirada de fios
De acordo com a Enel Distribuição Rio, a empresa realiza ações periódicas para retirada de fiação irregular nos postes da distribuidora que são compartilhados com outras empresas. Em 2023, a Enel Rio informou que alcançou a marca de 19 toneladas de fios clandestinos de telecomunicações retirados da rede elétrica nos 66 municípios atendidos pela distribuidora de energia. A empresa ainda alerta os clientes a evitar contato com cabos de energia que estejam soltos, pois esta fiação representa risco. Para fazer denúncias sobre fiação irregular, dúvidas e demais solicitações, o cliente pode entrar em contato pelo 0800 72 71 196 e/ou enviar um e-mail para atendimento.nas@enel.com.
