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De véspera, só peru

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
21 de fevereiro de 2024 - 8h51

Para evitar que o leitor se deixe levar pelas primeiras linhas e inadvertidamente faça interpretação fora do contexto desejado, esclareça-se que o título, de fato, nada tem a ver com a matéria.  Assim, têm toda razão os que pensarem: “Se não tem nada a ver, pra que colocou?”

O dito popular “Quem morre de véspera é peru” foi aproveitado para dar um certo frescor ao texto, no sentido de que ‘véspera’, na maioria das vezes, não garante resultado algum – quer favorável ou desfavorável.

O que se mostra de véspera, seja o favorito ou o azarão – jogos, disputas eleitorais, competições em geral, etc. – é passível de mudança radical ao sabor das circunstâncias ou do mero acaso.

Inacreditável

Para pôr um fim à embromação, vamos ao episódio – entre centenas de outros relativamente recentes – mais surpreendente, impactante e sem precedentes: os 7 a 1 para Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, com o Brasil jogando em casa.

Pergunta-se: alguém apostaria, na véspera daquele 8 de julho, que o Brasil, o país do futebol, penta campeão do mundo, perderia de 7 a 1 para quem quer que fosse? Ou 5 a 1? Ou 4 a 0? Não. Ninguém.  

O que se viu não foi apenas uma goleada, mas o maior vexame da história da Seleção Brasileira. Acrescente-se que o resultado mais justo seria 8 a 0, tendo em vista que Brasil marcou aos 44’ do 2º tempo, aproveitando uma bola que resvalou quando a Alemanha estava inteira no campo adversário. O ‘azar’ fez o goleiro Neuer dar socos no chão, lamentando o gol sofrido.

De certo, não há exemplo mais surpreendente e que melhor endossa o ditado “Quem morre de véspera é peru” – naquela oportunidade vitimando o Brasil que não imaginava desfecho tão humilhante nem em seus piores pesadelos, enquanto a Alemanha, nem por delírio, pensava em fazer 7 gols  na Seleção verde-amarela.

Eleição para prefeito em outubro de 24

Na conjuntura traçada, abordou-se um cenário em que a exceção superou a regra. Daí um exemplo, como símbolo de tantos outros, em que o inesperado surge como fantasma para assombrar o previsível.

De toda sorte, bom que se diga que o lógico é o lógico: o que costuma se confirmar, o resultado esperado, enfim, tudo o que se toma como assaz provável.

Essência

Agora sim, chegando o que se pretende focalizar, Wladimir Garotinho, de acordo com as pesquisas de opinião, aparece como favorito ao pleito de outubro. E mais: a possibilidade de liderar a disputa com ampla vantagem dá ao prefeito condições de reeleição já no primeiro turno. Por conta da Lei Orçamentária Anual (LOA), presume-se que o prefeito levou a melhor, acrescentando mais alguns eleitores aos que supostamente tem.

A visibilidade de Wladimir para mais um mandato não está apenas nas pesquisas, mas, como se costuma dizer, “na boca do povo”. Apesar de não obedecer a nenhum critério científico, é o que se ouve e o que se diz – aqui, ali e acolá – como voz corrente.

Os mais cotados

Antes do advento das pesquisas, os mais experientes ‘pegavam’ essa tendência nos bares, restaurantes e padarias. Nos taxis, açougues e lojas. Nos cafés do Mercado Municipal, da Rodoviária e nas rodinhas de conversas no Centro, particularmente no Boulevard e Av. 7 de Setembro, subindo para a Praça de São Salvador.

Como citado, era a voz das ruas que na maioria das vezes acertava quem seriam os vereadores mais votados e o mais cotado para prefeito. Isso, num tempo em que o 2º turno só era permitido em cidades que somavam acima de 200 mil eleitores – o que não era o caso de Campos – dificultando a avaliação dos que arriscavam prognósticos de quem estava mais propenso a vencer o pleito.

Wladimir não precisa ganhar votos. Basta conservar

À luz do que hoje se apresenta, Wladimir não precisa, necessariamente – salvo melhor entendimento –, conquistar votos – basta não perder o capital eleitoral que exibe. Contudo, conservar pode ser tão difícil quanto conquistar.

Sua trajetória de prefeito foi marcada, basicamente, por três conceitos básicos: muito trabalho, ambiente econômico favorável e boa imagem. Começou o governo marcando pontos importantes, entre eles colocando em dia os salários atrasados dos servidores, não fugindo ao diálogo com insatisfeitos e reabrindo o restaurante popular.

Dinheiro novo – Também não deixou escapar a melhoria no ambiente de negócios – atraindo dinheiro novo junto ao governo do estado – e dando bom aproveitamento à desaceleração na queda de receita. Como exemplo, teve um mês em 2021 que os royalties cresceram 281% em relação ao mesmo período de 2020.

Wladimir soube criar a imagem do conciliador – evitou confrontos – e, de imediato, construiu empatia com a população. Importante frisar, enfrentou a pandemia no período mais letal: em março/2021 o país registrou vários dias com número de óbitos acima de 3.500.

Momento atual, votação anterior e contraponto

Pelo conjunto da obra não há exagero em especular que se o pleito fosse hoje Wladimir estaria reeleito. E salvo pelo imponderável ou mudança de comportamento, com chances de conquistar mais eleitores. Mas deve ter em mente que venceu o 2º turno da eleição por 4,8% de vantagem – diferença que não é tão apertada, mas passa longe de folgada.

Como nada é perfeito, Wladimir fez ajustes na administração. Precisou corrigir a frase “(…) Sabe o que acontece agora? Demissão do servidor” – que na época repercutiu mal – e vem calibrando o que é necessário.

Herdou um trânsito caótico e as intervenções que fez não surtiram efeito. Mas esse é um problema que deveria ter começado a ser cuidado há 30 anos, quando nada foi feito.

Quarenta minutos de chuva faz a cidade ficar alagada (falta de limpeza das galerias); a revitalização do Centro tem sido um fiasco e a ciclovia desagradou a todos. Enfim, a administração tem estado presente, mas sempre é possível melhorar

O pleito é daqui a quase 8 meses e se já vimos eleições alterarem o curso nas últimas 24 horas, o que dizer de 220 dias. E o exemplo do Mineirão em 2014 não deve ser subestimado.

A análise aqui feita associa favoritismo com a realidade atual. Mas, face ao subjetivismo que caracteriza qualquer texto analítico, nenhuma consideração tem a pretensão de verdade absoluta.