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Janeiro de poucas vendas preocupa o comércio de Campos

Empresários traçam estratégias para lidar com a queda nas vendas durante as férias

Especial J3
Por Camilla Silva
28 de janeiro de 2024 - 0h05
Início de ano|Maioria dos setores do comércio campista sentiu o impacto negativo no volume de vendas (Fotos: Josh)

O mês de janeiro sempre traz desafios para o comércio da sede de Campos. A queda no movimento nas principais áreas comerciais da cidade diminui as vendas e os empresários definem estratégias para enfrentar o período ou, na pior das hipóteses, sobreviver a ele. Os comerciantes apostam em programação especial, facilidades de pagamento e mudança de horários, mas as famosas liquidações de verão só devem sair após o Carnaval. No entanto, alguns setores, como papelaria e lojas de fantasias, vão na contramão da regra geral e veem sua receita aumentar nesse período.

As férias são um dos principais fatores que influenciam essa sazonalidade campista, que leva parte significativa da população para destinos litorâneos, impactando diretamente no fluxo de clientes. 

CDL|José Francisco Rodrigues

“No primeiro mês do ano em nossa cidade, quando uma grande parcela da população se desloca para as praias, verifica-se, sim, uma queda em alguns segmentos do comércio, mas em outros, não. Contudo, temos que avaliar a economia como um todo, percebendo que nos balneários de Campos e dos municípios vizinhos a economia fica forte por conta do turismo, e isso reflete em Campos que é polo regional”, disse o presidente da  Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, José Francisco Rodrigues.

ACIC|Fernando Loureiro

Somam-se a isso os gastos elevados no mês de dezembro e as despesas de início de ano, que limitam o orçamento das famílias. “Estes são os meses de muitos encargos para boa parte da população, com pagamentos de IPTU, IPVA e compra de material escolar, levando a uma queda nos outros setores da economia do comércio”, disse o presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), Fernando Loureiro.

Apesar do movimento de pessoas não ser grande, é possível encontrar consumidores animados. Ianca Maria Batista aproveitou a semana para comprar material escolar para seus quatro filhos e contou que trocou de papelaria porque a primeira em que entrou estava muito cheia. Perguntada se dava para fazer outras compras neste mês, ela falou que: “Dá, dá sim. Se você acertar, se você organizar direitinho dá para comprar outras coisas”, contou.

Estratégias para driblar as variações

Sandro Figueredo (Josh)

O economista Sandro Figueredo defendeu que, como a sazonalidade é inevitável, cabe ao empreendedor aprender a usar os fatores que a causam, para impulsionar as vendas nos momentos propícios e a contornar a queda no movimento nos períodos de baixa. Ele recomendar tomar algumas atitudes como: “identificar os períodos propícios ao seu negócio, analisar o comportamento do consumidor, mapear calendário, datas comemorativas, mapear períodos do ano ou mesmo as épocas em que existem variações climáticas, criar campanhas promocionais, planejar ações para aproveitar a sazonalidade positiva, criar estratégias de marketing para essas datas com antecedência, lançar e divulgar novos produtos e serviços, vender on-line em plataformas de marketplace, ajustar os preços à demanda, queimas de estoque anunciadas através de patrocinados pelo ADS (anúncios do Google), sair da zona de conforto e explorar outros nichos e públicos vendendo os mesmos produtos”, ensinou.

Atividades recreativas para atrair clientes
Em Campos, o Shopping Boulevard tem direcionado esforços consideráveis para investir em atividades de recreação. Essa estratégia visa oferecer um ambiente propício às compras, além de apresentar como um destino de entretenimento familiar. “O Boulevard mantém durante todo ano uma programação para as famílias aproveitarem o tempo juntas. Durante as férias, a programação ganha ainda mais destaque”, diz a administração em nota. Alguns eventos são gratuitos, como os realizados no Clubinho Casa da Árvore. O shopping conta ainda com operações infantis que oferecem atividades para diversão, como loja de jogos e brinquedos.

A unidade aposta também no cinema como outra opção de diversão nas férias. “Além da programação do Cine Araújo, o shopping apresenta também a sessão Cinematerna, onde mães de bebês de até 18 meses assistem uma sessão especial com seus filhos. O público, inclusive, vota no filme a ser exibido pelo site do Cinematerna”, informou. 

Horários ajustados por causa da demanda baixa
Mas não adianta esperar um grande público aos fins de semana. Muitos comerciantes afirmaram que optaram por ajustar seus horários de funcionamento e alguns decidiram fechar as portas aos sábados, diante da redução na movimentação de consumidores.

“Segunda-feira também é um dia ruim. O pessoal está voltando. Começa a melhorar um pouquinho de terça a sexta, mas sábado fica ruim de novo. No sábado, fechávamos geralmente às 14h, mas, por conta do movimento, estamos fechando 13h”, contou Carla Peixoto, vendedora de uma loja de acessórios femininos que fica na tradicional Rua Barão de Amazonas, no Centro de Campos.

A dona de um salão de beleza na Pelinca, Michelle Richa, disse que fecha a unidade aos sábados no período entre o ano novo e o Carnaval. “Normalmente funcionamos de terça a sábado. No último ano, tentamos abrir na segunda para compensar o dia fechado, mas não valeu a pena. Mas, de uma forma geral, janeiro tem dado movimento sim. Quinta e sexta, por exemplo, algumas funcionárias não tem mais horário para encaixar clientes”, contou.

Sazonalidade campista reflete nas contratações
Essa variação de movimento no comércio gera reflexo nos empregos. Tradicionalmente, o mês de janeiro é de demissões no setor. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro de 2024 ainda não foram computados, mas nos últimos dois anos, janeiro acumulou um saldo de mais de 200 desligamentos neste período em Campos.

O secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e secretário do Sindicato dos Empregados no Comércio de Campos, Ronaldo Nascimento, acredita, no entanto, que este ano há uma movimentação diferente. 

“O fim de ano teve um bom número de contratações. Os dados oficiais ainda vão sair, mas, este ano, não temos observado muitas demissões. Temos observado mais casos de mudança de empregador. Houve muitos processos de seleção para grandes empresas de fora que vieram para o município. Também pudemos ver pessoas pedindo demissão do comércio para ir para outras atividades que cresceram no município”, explicou Ronaldo.

Em alta|Itens de Carnaval

Papelaria e loja de artigos de Carnaval esperam aumento de faturamento
Nem todos os setores enfrentaram esse cenário desafiador. Papelarias e lojas de artigos de Carnaval estão na contramão, antecipando uma perspectiva positiva. Com o aumento da procura por itens carnavalescos e material escolar, esses estabelecimentos esperam uma significativa elevação no faturamento, contrariando a tendência geral de baixa.

“A demanda pelo material escolar já se inicia em dezembro, com os pais que gostam de antecipar e se organizar melhor. Em janeiro, já temos essa busca em maior escala”, afirmou o dono da papelaria Recopel, Ralph Pereira. Nela, o horário de atendimento durante a semana e no sábado foi ampliado em uma hora.

Movimento|Venda de material escolar teve incremento neste período

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campos (Sindivarejo), Maurício Cabral, não são apenas as lojas de material escolar que lucram nesse período. “O comércio local também registra aquecimento nos setores de vestuário e calçados para atender a volta às aulas”, disse.

Os shows de fim de semana e eventos especiais, como o Carnaval, também desempenham um papel significativo na dinamização do setor de vestuário. Muitas lojas aproveitam para oferecer acessórios para fantasias e maquiagem. “Agora no fim de janeiro e início de fevereiro, nosso movimento aumenta. Aqui, nosso forte mesmo, nesse período, é o Carnaval”, explicou a vendedora de uma loja de acessórios femininos, Carla Peixoto.

Liquidação só depois do Carnaval
Enquanto muitos comerciantes ajustam suas estratégias para enfrentar o cenário atual, a liquidação pós-Carnaval se destaca como uma aposta para impulsionar as vendas. Lojas de diversos setores planejam aguardar o término da festa de Momo para lançar promoções e descontos, visando atrair consumidores que, após o período de folia, estarão mais propensos a realizar compras. Essa estratégia busca reverter os impactos negativos de janeiro e estimular a retomada do movimento no comércio local. 

“Por enquanto, não estamos viajando para compra de novos produtos. Mais perto do Carnaval faremos uma reposição. Até lá, os preços estão mantidos. Como dizem, o ano só começa depois do Carnaval”, explicou a gerente de uma loja de roupas, Carina Sales.