Profissionais de saúde e estudantes da área lotaram o auditório do Isecensa, na tarde desta quarta-feira (16), para a continuidade do I Simpósio de Cuidados Paliativos do Hospital Dr. Beda. O evento, promovido pelo OncoBeda e pelo Instituto do Câncer do Norte Fluminense, que integram o Grupo IMNE, debateu, em sua segunda parte, a integralidade dos cuidados paliativos para pacientes em diferentes estágios de enfermidade e com necessidades distintas. Os palestrantes abordaram ainda o envolvimento da família, a espiritualidade e o respeito à biografia de cada paciente. O simpósio foi aberto na manhã desta quarta, (veja aqui) pela médica oncologista e paliativista Maria Anísia Sepulcri, coordenadora do Setor de Cuidados Paliativos do Hospital Dr. Beda; e pelo médico oncologista e diretor clínico do Oncobeda e do Grupo IMNE, Diogo Neves. A diretora administrativa do IMNE, Martha Henriques, também prestigiou o evento.
Capelão titular do Instituto Nacional do Câncer (Inca), na unidade de cuidados paliativos, Bruno Oliveira falou sobre a “Dor espiritual e o impacto na qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos”.
“O paciente é mais que uma doença, o paciente é mais que uma biografia. Nós temos a tendência de transformar o paciente em uma doença, de muitas vezes tratá-lo como o câncer do quarto andar. É o seu José e a dona Maria. Eu acho que, de todo esse evento, se ficar apenas essa questão de que a gente não trata a doença que o paciente tem, mas o paciente que tem uma doença, eu acho que já vamos ter avançado bastante.
Bruno falou ainda sobre a importância do cuidado espiritual, para além da religiosidade de cada paciente. “Eu fico feliz de um evento como este, incluir o tema da espiritualidade. Eu trabalho há 18 anos no Instituto Nacional do Câncer, como assistente espiritual e o que percebemos é que a espiritualidade faz parte da dimensão integral do indivíduo, por isso pensar na saúde do paciente, é pensar também em um ser que é um ser espiritual. E nessa espiritualidade, a religião é apenas uma das formas de manifestar e expressar espiritualidade, mas outras formas também existem, como as relações interpessoais. O nosso sagrado pode estar no chope com os amigos, no almoço de domingo, nas caminhadas, ele está no nosso dia a dia, nas coisas que fazem sentido para a gente. Isso precisa fazer parte, inclusive, dos tratamentos em saúde”, disse o palestrante.
A fisioterapeuta Rafaella Aquino é cofundadora do Instituto Entrelaçando Vidas Aconselhadora de Luto e Terapeuta da Dignidade pela Fundação EKR Brasil; Membro da Diretoria Adjunta da SOTAMIG; atua como Fisioterapeuta na Equipe de Cuidados Paliativos do Grupo Oncoclínicas; Diretoria da Associação Favela Compassiva Rocinha e Vidigal Liderança do Núcleo BH do Projeto Cabana Compassiva.
Ela falou sobre “Reabilitação paliativa: o papel do fisioterapeuta neste contexto” e iniciou a palestra traçando os pilares: reabilitar em qualquer fase do adoecimento, manter qualidade de vida e independência e tirar os próprios valores.
“Eu me formei há 16 anos e aprendi que reabilitaria os pacientes ao status funcional que ela tinha anteriormente e hoje meu trabalho vai contra isso, na verdade, eu vou manter a qualidade de vida, autonomia e independência até onde a gente conseguir. Mas, se eu não tiver uma comunicação efetiva, eu não consigo fazer o meu trabalho. Não são somente os médicos que dão notícias difíceis, eu dou notícias difíceis todos os dias. Quando eu falo que o paciente não vai mais andar, que ele precisa de auxílio para o banho, isso são notícias difíceis. Eu preciso fazer vínculos e estar atento à biografia dele e entender o que faz sentido. E aí, eu vou negociar poupar energia no banho, tomando sentado, para conseguir fazer uma refeição na mesa. Isso tem que fazer sentido para ele [o paciente] e não para mim. Então eu tenho que fazer uma suspensão do meu juízo. E a toda hora eu preciso tirar o que é meu, o que é valor meu, porque isso é o meu sagrado, não o do paciente”, pontuou.
A enfermeira Virgínia Correa participou da discussão após o primeiro ciclo de palestras da tarde e falou um pouco sobre a palestra da médica Andreia Vonheld.
“A palestra indagou se o cuidado paliativo é desafio ou realidade. São os dois. É um desafio muito grande e também uma realidade. Hoje nós temos conseguido implantar de fato o cuidado paliativo nas unidades, pelo menos na unidade em que trabalhamos isso já é realidade, mas também é um desafio. Nós precisamos aliar técnica, porque o cuidado paliativo é uma ciência baseada em evidências, mas nós precisamos também melhorar a nossa escuta, para conseguirmos fazer de fato um cuidado de padrão ouro, como chamamos”, disse a profissional de saúde.
Após um intervalo, os palestrantes retomaram para debaterem os temas “Terapia e dignidade”; “Dieta de conforto e nutrição em fase final de vida: o que é possível?” e “A interdisciplinaridade como desafio para um cuidado integral”.